terça-feira, 27 de julho de 2010

Sinal de Babinski Fisiológico

"A alma sensível é como harpa que ressoa com um simples sopro."
Beethoven

Madona e Criança (1505) - Rafael Sanzio (1483-1520)


Óleo sobre madeira, 84 x 55 cm: Palácio Pitti - Florença

* CONSIDERAÇÕES

A estimulação nociceptiva dos membros inferiores resulta em movimentos flexores reflexos de defesa – que tem a finalidade de retirar o segmento estimulado de um agente potencialmente agressor.

Estimulando a planta dos pés ocorre a flexão das regiões proximais do membro inferior e, paradoxalmente, a flexão do polegar, o que não tem um caráter de defesa nítido.

As respostas constituem reflexos polissinápticos nociceptivos, transportados por fibras mielínicas finas e por fibras do tipo C, denominados clinicamente de reflexos de defesa e que resultam de uma integração harmônica dos reflexos.

Descrito em 1903 o Sinal de Babinski consiste na extensão do hálux e na abertura em leque dos dedos em decorrência de um estímulo na planta do pé (reflexo cutâneo plantar em extensão).

O mundo inicialmente não deu muita importância a essa descrição.

Antes de Babinski, Remak e Strompel já haviam feito referências a esse movimento de abdução e extensão digital, mas não o correlacionaram com qualquer significado.

Uma resposta a estímulo semelhante à obtida por Babinski foi percebida também por Oppenheim e por Gordon, o primeiro por meio de percussão da face medial da tíbia e o segundo por pinçamento do tendão calcâneo.

A contração reflexa do músculo tensor da fáscia lata pode ser observada em indivíduos normais, estando exacerbada nas lesões piramidais.

A indiferença bilateral isoladamente é inconclusiva.

*ALTERAÇÕES QUE LEVAM AO BABINSKI

1. Comprometimento do trato piramidal (acima de L1)

2. Bioquímicas ou gasométricas (permanente ou transitória)

Ex: Fases da respiração de Cheyne-Stokes

3. Durante crises convulsivas

4. Estados hipoglicêmicos

5. Transcurso do sono profundo

6. Após ingestão de certas drogas

7. Exaustão física prolongada (em 7% dos indivíduos que sofreram atraso de maturação)

* BABINSKI FISIOLÓGICO

Nas crianças com mais de dois anos e nos adultos, o reflexo normal observado é a flexão plantar, tanto do hálux quanto dos demais dedos do pé.

O trato córtico-espinhal lateral da medula tem ação inibitória do reflexo primitivo cutâneo plantar em extensão.

As crianças menores de dois anos, por não terem ainda o sistema nervoso completamente mielinizado, apresentam o reflexo cutâneo plantar em extensão como padrão normal.

Dessa forma, o sinal de Babinski não pode ser considerado patológico em crianças nessa faixa etária.

* A OBSERVAÇÃO ARTÍSTICA EVIDENCIA TAL SITUAÇÃO *




Virgem Maria e o menino Jesus (1470).

Escola Andrea del Verrochio.

Óleo sobre madeira .

Galeria Uffizi

Florença

Virgem e o Menino (1454). Rogier der Weyden (1399-1464).

Óleo sobre madeira , 31.9 x 22,9 cm. Museum of Fine Arts (Houston)


Madona e a Criança com 8 Anjos (1478)

Sandro Botticelli

Óleo sobre madeira

Tondo

Museu Staatliche

Berlim


* MANOBRAS QUE DESENCADEIAM BABINSKI *


1

MANOBRA DE SCHAEFFER

pinçamento do tendão de Aquiles

2

MANOBRA DE OPPENHEIN

estimulação da face interna da tíbia

3

MANOBRA DE GORDON

pressão sobre a panturrilha

4

MANOBRA DE CHADDOCK

estimulacão da pele sobre o maléolo externo

5

MANOBRA DE TROCHMORTON

percussão das articulações metatarsofalangeanas no dorso do pé

6

MANOBRA DE AUSTRAGESILO E ESPOSEL

pressão sobre músculos da coxa

7

MANOBRA DE TOLONE

pressão forte ou massagem sobre o 5º dedo

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sinal de Babinski

"A persistência é o caminho do êxito."

Charles Chaplin

Babinski segurando a paciente (aula de Charcot)


O HOMEM

*Joseph Jules François Félix Babinski

*Nascido: 17/11/ 1857 em Paris.

*Falecido: 29/10/1932, em Paris..

*Formado pela Universidade de Paris em 1884.

*Francês de etnia polaca.

*Condecorado por diversas sociedades médicas na França e no exterior



O TRABALHO


*Sinal de Babinski (1896): No encontro da Société de Biologie apresentou "phenomène des orteils" (26 linhas) -> Reflexo plantar patológico

*Primeiro a criar critérios para distinguir histeria de doenças orgânicas

*Primeira Guerra Mundial-> casos neurológicos tramáticos nos hospitais Pitié

*Professor de neurologia da Universidade de Paris

*Escreveu mais de 200 artigos científicos sobre afecções nervosas

*Fim da vida -> discorreu sobre o Mal de Parkinson


GENERALIDADES


*Reflexos: respostas específicas, previsíveis e involuntárias a estímulo específico

*Via piramidal foi identificada e descrita em 1852 (Ludwing Türck)

*Denominou-a em decorrência das protuberâncias (região ventral do bulbo)

*20/05/1911: Charles G. Chaddock apresentou o sinal "external malleolar sign" evidenciado nas lesões do SNC com vantagens em relação ao Babinski


CAUSAS COMUNS


* Várias causas

*Variam conforme a idade e sexo

*Aspectos específicos: evolução, fatores agravantes, fatores atenuantes e queixas associadas.

*Algumas: convulsão generalizada tônico clônica (temporário após convulsão), esclerose lateral amiotrófica, tumor cerebral (se ocorre no trato corticoespinal ou no cerebelo), paralisia familiar periódica, ataxia de Friedreich, lesão cefálica, encefalopatia hepática, meningite, esclerose múltipla, anemia perniciosa, poliomielite (algumas formas), raiva, lesão da medula espinhal, tumor da medula espinal, acidente vascular encefálico, siringomielia, tuberculose.


REFLEXO PLANTAR PATOLOGICO


*Epônimo: Sinal de Babinski

*Nome alternativo: Reflexo do extensor plantar

*Reflexo superficial

*Refere-se ao sinal do reflexo plantar patológico, quando há a extensão do hálux

*Permite identificar doenças da medula espinhal e cérebro

*Disfunção transitória ou permanente

*Existe como reflexo primitivo em bebês (até 2 anos)

*Sua assimetria indica qual hemisfério cerebral foi lesionado


MÉTODO


* Aplica-se um firme estímulo tátil (não doloroso, sem desconforto, sem lesão na pele) na sola do pé.

* Estimula-se a borda externa da região plantar desde o calcâneo até o arco transverso, sem atingir a base do primeiro metatarsiano.

*Deve-se fazer a pesquisa nos dois pés.

*Instrumento de ponta romba (cromada do cabo do martelo de Taylor)

*O estímulo plantar lateral lento e que envolve o arco transverso é o melhor método.


RESPOSTAS


1. Flexão: os dedos do pé curvam-se para baixo -> Normal

2. Indiferente: não há resposta -> difícil classificar

3. Extensão: o hálux realiza uma extensão (para cima) -> Sinal de Babinski

A = Normal
B = Babinski


CUIDADO


*Não incluir reação de defesa no resultado

*Reação de defesa: hiperestesia (excitação psicomotora), instabilidade emocional, diminuição do controle vigil.

*Fator de confusão: presença do reflexo de preensão plantar (reflexo de Barraquer-Roviralta) -> lesão do córtex pré-rolândico contralateral até a área motora suplementar

*Recém-nascido: resposta de preensão automática após pressão na planta dos pés é normal

*Existe presença ou ausência do sinal de Babinski

*Nunca Babinski positivo ou negativo


INTERPRETAÇÃO


*Lesão superior no neuronio motor da medula espinhal, na região torácica ou lombar

*Doença cerebral cursando com lesão no trato corticoespinhal

*Pode ser o primeiro (e único) indício de um processo patológico sério

*Requer investigações neurológicas detalhadas (tomografia, ressonância e punção de líquor)


BEBÊS


*Resposta extensora -> Normal

*Trato corticoespinhal não está completamente mielinizado

*Reflexo não é inibido pelo córtex cerebral

*Resposta extensora desaparece -> de 12-18 meses


SINAL DE HOFFMANN

*Equivalente a Babisnki no membro superior,

*Indica -> presença ou ausência de problemas no trato corticoespinhal

*Realizado com o pinçamento da falange distal do dedo médio (pressão sobre a unha)

*Resposta positiva -> flexão da falange distal do polegar

*Mecanismo difere consideravelmente entre os dois reflexos


ALGUMAS OBRAS


Babinski, J., 1896. Sur le réflexe cutané plantaire dans certaines affections organiques du système nerveux central. C.R. Soc. Biol. 48, 207-208.

Babinski, J., 1898. Du phénomène des orteils et de sa valeur sémiologique. Semaine Medicale 18, 321-322.

Babinski, J., 1899. De l'asynergie cérébelleuse. Rev. Neurol. 7, 806-816.

Babinski, J., 1900. Diagnostic différentiel de l’hémiplégie organique et de l’hémiplégique hystérique. Gazette des Hopitaux, numéros de 5 et 8 mai.

Babinski, J., 1902. Sur le rôle du cervelet dans les actes volitionnels nécessitant une succession rapide de mouvements (Diadococinésie). Rev. Neurol. (Paris) 10, 1013-1015.

Babinski, J., 1903. De l'abduction des orteils (signe de l'éventail). Rev. Neurol. (Paris) 11, 728-729.

Babinski, J., 1909. The dismemberment of traditional hysteria: Pithiatism (translated by Chaddock CG). Interstate Med. J. 16, 171-19.

Babinski, J., 1913. Exposé des travaux scientifiques du Dr J. Babinski. Masson, Paris.

Babinski, J., 1934. Oeuvre Scientifique, recueil des principaux travaux publiés par les soins de J.A. Barre, J. Chaillous, A. Charpentier, et al. Paris, Masson.

Babinski, J., Froment, J., 1917. Hystérie, pithiatisme et troubles neurologiques d’ordre réflexe. Masson, Paris.

Babinski, J., Tournay, A., 1913. Les symptomes des maladies du cervelet et leur signification. Congrès de Londres, August 1913.


REFERÊNCIAS


1. José María López Piñero - médico, doutor em história da medicina pela Universidade de Valência e autor de História de la medicina (La Esfera de Los Libros, 2002), tradução de Vera de Paula Assis.

2. Barraquer-Bordas L. Neurologia fundamental. 2 a ed. Barcelona: Ed. Toray; 1968.

3. Barraquer-Bordas L. Sobre la probable dualidad del signo del abanico. Hipótesis clinico fisiopatológicas. Neurologia 2001; 16:272-4.

4. Lance JW. The Babinski sign. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002; 73:360-2.

5. Brodal A. Anatomia neurológica com correlações clínicas. 3 a ed. São Paulo: Roca; 1984.

6. Gijn J. The Babinski sign: the first hundred years. J Neurol 1996;243: 675-683.

7. Monrad-Krhon GH. Exploración clínica del sistema nervioso. 3.Ed. Barcelona: Editorial Labor 1967;234-235.

8. Babinski J. Sur le réflexe cutané plantaire dans certains affections organiques du système nerveux central. C R Soc Biol (Paris) 1896;48:207-208.

9. Chaddock C G. The external malleolar sign. Interstate Med J 1911; 13:1026-1038.

10. Bordas B L. Neurología fundamental: fisiopatologia, semiología, síndromes, exploración. 2.Ed. Barcelona: Ediciones Toray, 1968;506-510.

11. DeJong R N. The neurologic examination. 4.Ed. Maryland Harper & Row Publishers. 1978;457.

12. Gijn J van. The Babinski sign: a centenary. Netherlands. Universiteit Utrecht. 1996.

13. Kaye J A, Oken B S, Howieson D B, Howieson J, Holm L A, Dennison K. Neurologic evaluation of optimally healthy oldest old. Arch Neurol 1994;51:1205-1211.

14. Dohrmann G J, Nowack W J. The upgoing great toe optimal method of elicitation. Lancet 1973;17:339-341.

15. Yakolev P I, Farrel M J. Influence of locomotion on the plantar reflex in normal and in phisically and mentally inferior persons: theoretical and pratical implications. Arch Neurol Psychiat 1941;46:322-330.

16. Gijn J Van. The Babinski sign and the pyramidal syndrome. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1978;41:865-873.

17. Goetz C. Rubbing shoulders with the toe ticklers: the origin and development or the Babinski and Chaddock signs. CD-ROOM AAN, 2003. Curse: 5pc004.

18. Oliveira - Souza R, Figueredo W M. O reflexo cutâneo-plantar em extensão. Arq Neuropsiquiatr 1995,53:318-323.

19. Tashiro K. Reversed Chadoock method: a new method to elicit the upgoing great toe [letter]. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1986;49:1321.

20. Clarac. M, Massion, J, Smith, AM (2008) History of Neuroscience: Joseph Babinski (1857-1932), IBRO History of Neuroscience.