domingo, 3 de outubro de 2010

Workshop de Conservação e Restauro

"Posso morrer de amor...
Mas prefiro viver para te amar."
Marcos Barroso
Cemitério da Saudade
No IV Encontro da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais foi realizado um Workshop de restauração, que aconteceu no "Cemitério da Saudade" de Piracicaba.
Cemitério de Piracicaba
O objetivo do mesmo era ensinar aos pesquisadores cemiteriais o que os mesmos devem sugerir de cuidado para com o túmulo quando questionados, já que esse é um tema de perguntas frequentes.
Ernesto Carvalho
O Workshop foi ministrado pelo arquiteto e restaurador Ernesto Carvalho, da Taba.
Tais oficinas são importantes não só pelo ensinamento de conservação tumular, mas por indicarem que existe a necessidade de diretrizes para a conservação cemiterial e protocolos para a restauração tumular.
Participantes do evento
De uma forma geral os pesquisadores cemiteriais são indivíduos preocupados com arte, história, conservação e saúde.
Uma vez que o cemitério é local de trabalho de muitos e uma medida de saúde pública que perdura na história da humanidade.
O procedimento que realizamos nos túmulos é denominado: 'Limpeza química simples', ou seja, fizemos uma limpeza física e depois lavamos.
Grupo 1
Os pesquisadores foram separados em grupos de cinco membros cada. Cada grupo recebeu uma identificação numérica, ficando responsável por um túmulo. Formamos o grupo 1, e fomos designados para um túmulo.
A formação do nosso grupo foi:
1. João Paulo Taumaturgo da Silva
2. Julia Massucheti
3. Maria Helena dos Santos Moratelli
4. Mayra Lopes
5. Viviane Comunale
Chapéu - medida de proteção
Adotamos medidas de proteção, como o uso de chapéus, luvas de procedimento (não estéreis), uso de óculos, máscaras, garrafas com água mineral para manter a hidratação, dentre outras.
Assumimos medidas de segurança contra assaltos, deixando as bolsas e objetos pessoais juntos em um mesmo local e sempre com um dos membros do grupo por perto.
Espantamos os animais que estavam no local (gatos), e olhamos com uma certa distancia para averiguar se não existia mais nenhum animal no local.
O primeiro passo do procedimento foi a identificação do túmulo contendo dados de localização (quadra e número).
Em seguida, iniciamos a análise enumerando os fatores de degradação aos quais o mesmo estava subemtido. Concluimos: vento, alterações de umidade, contaminação biológica (Briófitas, líquens e fungos), efeitos deletérios do tempo (oxidação do ferro), acomodação do solo. Sinais de vandalismo (colher), sinais de ritos religiosos (restos de velas, fósforos...).
Encontramos objetos em algumas áreas do túmulo, ausencia de objetos inerentes ao túmulo em outras (vaso), áreas com ferrugem, rachaduras, desgaste da porcelana (foto), descamação de áreas pintadas (vaso).
Avaliação tumular
Fotografamos o túmulo em completude e depois as suas partes. Realizou-se a medida de toda a área tumular e depois a medida dos detalhes (esculturas, colunas e faixas), constatamos que o mesmo foi edificado com falhas de simetria.
As medidas foram colocadas em um desenho que foi feito do túmulo.
Depois, enumerou-se o número de materiais encontrados: placas de ferro, porcelana da foto, tijolo, granito da base, placa de bronze, vasos de concreto, apendice no ápice (escultura de um anjo em mármore).
Processo de limpeza I
Iniciou-se então o processo de limpeza, com direito a retirada da máscara para fotos.
A limpeza se deu em fases sucessivas, sendo: varrer, escovar (seco), passar pano úmido, e só depois lavar com água e sabão de coco.
Processo de limpeza II
Essa sequência deve ser seguida, com cuidado para evitar molhar as partes metálicas (bronze), mesmo que as mesmas já estejam sob a ação deletéria da chuva.
A parte da limpeza física: varrer e escovar a seco deve ser realizada com máscara e óculos, pois existe uma camada significativa de poeira.
Ao lavar deve-se utilizar a parte macia da esponja de modo a não estragar o mármore.
Processo de limpeza III
Na restauração de túmulos são utilizados também herbicidas, com cuidado para preservar o túmulo uma vez que o herbicida pode ser composto de ácidos.
Deve-se atentar para a retirada das briofitas, pois devem ser arrancadas com a raiz e depois deve-se vedar com massa o local onde a planta surgiu.
A retirada das plantas sem raiz pode ser deletéria ao monumento, pois a raiz continua a crescer dentro da terra e estará ainda maior quando a planta aparecer na superfície, o que pode resultar em comprometimento da infra-estrutura tumular com o decorrer dos anos.
É preciso avaliar as dimensões do que será submetido ao procedimento para saber a quantidade de material necessário.
Todos os lados do monumento devem ser submetidos ao procedimento. Com cuidado para evitar acidentes, tombos e quedas.
É preciso atenção especial aos apendices (partes facilmente quebraveis existentes na obra). Não houve nenhum acidente no procedimento que executamos, mas a paciencia e a delicadeza foram os determinantes.
Após a limpeza
A restauração é um conjunto de atividades que visa restabelecer danos decorrentes do tempo. Não objetiva deixar a obra como nova, mas somente evitar os danos do tempo.
Pinturas para deixar a obra parecendo nova não são obras do restauro, apesar da tinta ser um agente protetor da obra.
Deve-se buscar manter o original e evitar os efeitos deletérios.
Secando
Após o término da limpeza, pode haver a indicação de uso de ácidos, ou de outros agentes químicos de modo a atingir um melhor resultado. Não realizamos esses procedimentos que são mais indicados de serem realizados por profissionais da área.
Não realizamos a limpeza do equipamento utilizado na 'limpeza química simples' porque a área estava em estado crítico e o material utilizado ficou inutilizável após o processo.
O material (panos, esponjas, escova, vassoura, ...) foi descartado no lixo.
Quase seco
O resultado do procedimento só se torna realmente visível após seco, porque a umidade ainda deixa uma forte impressão das manchas.
O uso das fotos é importante para proteger o restaurador, pois indica não só o resultado, mas serve de prova das condições nas quais o trabalho foi iniciado, determinando peças quebradas, objetos faltantes, dentre outros. Além de propiciar a avaliação antes e depois.
ANTES
DEPOIS
Nas palavras de Fernando Pessoa:
"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce".
O restauro mantém.
E assim perdura a arte e a beleza, mesmo diante da dor.
Escultura após o restauro
Foi uma experiência única esse Workshop de Conservação e restauro, pois, pode-se aprender acerca de um novo tema e demos muitas risadas durante o procedimento.
O grupo teve uma interação de alegria e afeto.
Nas palavras de Paulo Coelho em 'O Aleph':
"E, agindo de uma maneira que pode parecer absurda, você toca algo profundo em sua alma, em sua parte mais antiga, mais próxima da origem de tudo".

3 comentários:

  1. Só não pode "levar o vaso"!
    Kkkkkkkkkkkkkkkk

    Ótimo texto!

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  2. Mayra,

    Fantástico o post!!! Add você aos meus blogs favoritos.
    Acesse o emu blog
    www.historiaemrevista.blogspot.com

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  3. Eu achei lindo Mayra,gosto da paz dos cemitérios e principalmente da arquitetura.Fiz umas fotos do Municipal de Curitiba, é lindo também.
    Parabéns
    Rita

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