segunda-feira, 21 de junho de 2010

Narrativa: " A Errata"

"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal,
mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer."
Einstein 1879-1955

centro do vômito

Era uma vez uma aula cujo tema era o trato gastro intestinal. O Professor discorria sobre reflexos elucidando que reflexo é uma reação automática à estimulação, e por isso o comportamento reflexo corresponde a uma interação estímulo-resposta incondicionado. Continuou citando os reflexos do trato gastro intestinal e sua importância. Descreveu então o reflexo de defecação que era prontamente anotado pelo Aluno: o reto se enche de fezes enviando um sinal aferente e o plexo mioentérico promove peristalse. O esfincter anal interno se relaxa e inibe a ação do plexo mioentérico. O esfincter anal externo relaxa de forma voluntária e ocorre a defecação.
O Professor continuou falando que esse reflexo em condições fisiológicas pode ser controlado e por isso é o reflexo mais elegante do organismo.
Mas, quando ia escrever a parte do quão elegante é tal reflexo, a caneta parou. Aquilo era uma opinião particular, havia o risco sim dessa virar mais uma questão ridicula de prova como inúmeras outras questões ridículas que ele já havia visto e respondido, podia até imaginar de forma concreta a tal questão: "Das alternativas abaixo, marque a que indica o reflexo mais elegante do trato gastro intestinal."
Nem sob o poder da nota a caneta sucumbia, alguma coisa impossibilitava aquela simples ação motora de escrever algo do qual discordava.
O Aluno pensou: "Por que não concordo?"
Talvez fosse culpa de Satre que ao escrever "A Náusea" evidenciando que o único consolo que torna a existência suportável é a escrita, ou seja, uma forma simbólica que Satre encontrou de se referir ao ato de expressar-se.
A mente do Aluno começou a divagar como era habitual, e pensou que esse reflexo se referia bem a personalidade do Professor. Houve uma época em que o Professor o encantara ao mencionar que havia visto o dia nascendo e que pensou em quanta beleza há no mundo enquanto as pessoas dormem. Lembrar-se de raras aulas como aquela era uma tentativa de salvar algum afeto para com o Professor
A tentativa foi inútil. Rapidamente o Aluno foi invadido por memórias de situações em que percebera o Professor elogiando atos que sabia que ele reprovava. A hipocrisia se dava na tentativa de ser agradável, para tentar ser querido junto aos demais.
Sim, havia algo de reflexo de defecação contido em tanta hipocrisia, algo que se assemelhava a uma constipação intestinal.
A possibilidade desse reflexo ser elgante dava ao Aluno náusea. Ele sabia bem o que era náusea, consistia em um reconhecimento consciente da excitação do centro do vômito que podia ser desencadeado por irritação ao trato gastro intestinal, cinetose e impulsos do córtex.
Se fosse para o Aluno eleger um reflexo deveras elegante o vencedor seria o reflexo do vômito.
Pulou ao capítulo 66 de título "Fisiologia dos Distúrbios Gastrointestinais" e achou o tão querido "Reflexo do vômito".

Estava escrito que o vômito era desencadeado por uma irritação da mucosa gastrointestinal ou por distensão ou por excitação. Àreas que quando acometidas desencadeiam o estímulo são a faringe, o esôfago ou o estômago. A percepção do estímulo por intermédio do vicero receptores é transmitida por fibras aferentes vicerais que se dirigem ao centro do vômito (formação reticular) no núcleo do trato solitário que é parte da substância cinzenta do bulbo.
Após a tivação ocorre uma respiração profunda, elevação do osso hióide e da laringe, fechamento da glote, elevação do palato mole, contração do diafragma e dos músculos abdominais que aumentam a pressão intragástrica que após o relaxamento do esfíncter esofágico permite: O VÔMITO.
Para tal são mobilizadas as fibras:
1. para o núcleo dorsal do Vago causando contração e abertura da cárdia.
2. pelo trato retículo-espinhal se dirigindo a coluna lateral da medula, que fecha o piloro.
3. pelo trato retículo-espinhal (novamente) que através do nervo frênico propicia a contração do diafragma.
4. pelo trato retícilo-espinhal (finalizando) que por meio dos nervos toraco abdominais aumentam a pressão intra-abdominal.
5. para o núcleo do hipoglosso, que promove a protusão da língua.
Como o vômito é encantador!
A capacidade do organismo de lidar com um distúrbio é algo admirável.

O mundo precisa de vômito, pensava.
É preciso que exista um vômito para acabar com a elegancia da superficialidade do reflexo de defecar.
O acordo coletivo de silêncio dos bons e omissão da maioria causa náusea. Alguém há de vomitar quando descobrir que esse existir em superficialidades é fétido. Fede como mortos que entregaram sua existência, sua liberdade, seus pensamentos, sua vida em troca de uma falsa aceitação ou de posição social ou de dinheiro.
Pessoas hipócritas são pessoas mortas e fedem e causam náusea e causam vômito.
O vômito é uma reação dos vivos um reflexo que é imposto por alguns ambientes: uma certa irritação à liberdade inerente da alma ou da mucosa gástrica.
O Aluno pensou então a quantas situações nauseantes era exposto, quantas superficialidades encontravam moradas em uma simples prova em que professores fechavam os olhos a métodos desonestos usados durante a avaliação e depois ainda faziam o ridículo de ir frente a sala dar lição de moral para justificarem para si mesmos o quanto eram medrosos, indignos e omissos.
Em algum momento já havia escutado: "É vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou amissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência."
Pensou que omissão na formação médica era sim uma forma de causar dano ao paciente.
Não havia a quem falar, contra o que protestar, mas o Aluno não podia culpar o sistema e seguir sua vida.
Precisava fazer alguma coisa, ainda sonhava com uma medicina mais digna que o fazia levanta-se de sua cama nas manhas geladas. Abriu o livro foi ao capítulo 66 e redigiu uma errata na página que trazia os fatores desencadeantes do vômito, acrescentou: "omissão na formação médica". Fez um grande quadro vermelho e colocou: "Prognóstico: pode evoluir para óbito de grandes populações".
Escreveu e guardou o livro na esperança de que um dia a errata fosse incorporada ao texto.




sexta-feira, 4 de junho de 2010

Serviço médico

“Se achas bom ser importante, um dia descobrirás que é mais importante ser bom.”
R. Scheneider


Muito se discute acerca do custo do serviço saúde, a questão parece cada vez mais difícil, mas isso se dá devido ao fato de se ignorar completamente a história e a forma com que a situação era resolvida em tempos remotos.

Um grande exemplo desse caso se refere ao sétimo médico chegado em Itajubá, o Dr. João Baptista Capelli Camargo, italiano, que instalou seu consultório no município em 1880, e apareceram inúmeros anúncios na Gazeta Comercial, jornal itajubense.

No número dezenove de 1880 lê-se:

“Consultório médico-cirúrgico - o Dr. Camargo, formado na Universidade de Nápoles, e residente neste Império há 13 anos, tendo deliberado mudar-se para esta cidade, põe a disposição do público os seus serviços e acha-se sempre pronto a acudir a qualquer chamado de dia e de noite, bem como para fora. Cobrará: Por visita simples e receita verbal ou escrita, 2 mil réis; por visita com exame, receita, diretórios, etc., 5 mil réis (de noite o duplo); consultas por escrito para fora, com receitas, diretórios, etc., 10 mil réis; viagens por dia, por légua, 15 mil réis,; exames, etc., o mesmo estabelecido para a cidade. Estada, por dia, 30 mil réis; excedendo 3 dias, o que se combinar. Aos que possuírem poucos meios se fará equidade, segundo suas circunstancias. Aos pobres, grátis.”

História e saúde no sul de Minas Gerais


“Ne quid falsi audeat, ne quid veri non audeat.” – Leão III


Nenhum município do Brasil teve uma monografia tão completa e tão exata como a cidade de Itajubá. Tal feito se deve a Armelim Guimarães, que mesmo tendo redigido a obra completa da história de Itajubá, não conseguiu publicá-la na integra, pois, segundo o parecer de número quarenta e três de primeiro de abril de mil novecentos e setenta o trabalho apresentado era excessivamente volumoso.

Nas palavras do próprio autor: “Causa espécie o descaso e a apatia com que nossa gente brasileira, em grande maioria, cuida das coisas e dos acontecimentos do passado! Na Europa, e entre outros povos adiantados, tal não ocorre. Veja-se só como os ingleses encaram, como sagradas deuteroses, as suas tradições. Assemelhamo-nos aos bugres, que nada registram e nada sabem de seus ancestrais. Augusto Comte, que asseverava que ‘os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos’, era porque reconhecia a imensa e prodiga lição que o pretérito nos dá. ‘L’Histoire n’est pás um problème; c’est une leçon’ – lembra Sacy. ‘Beijemos a mão do passado que é velho; a velhice é uma realeza’ – Tobias Barreto, Discursos em Obras Completas. E a realeza que só aos inscientes e frígidos caberia preterir. ‘Devemos viver a vida andando para frente, mas só podemos compreender a vida voltando para trás’ – Soren Kierkegaard , História, número oito, página sete. ‘O presente foge diante de nós como uma sombra ligeira. Só o passado nos pertence, nele é que verdadeiramente vivemos. No passado se encontram as raízes de nossas afeições; Dele procedem as luzes de nosso espírito; dele correm as fontes da sabedoria que nos é dado alcançar na terra.’ – Lúcio José dos Santos, a Inconfidência Mineira, página vinte e três.”

O autor ao realizar o levantamento histórico do município escreveu sobre os mais diversos temas que se relacionam à história da cidade, temas que vão desde o descobrimento da região, até o povoamento. Descritivo também ao contar a história do cemitério, da capela, da história da saúde pública da região, bem como tratar da fundação dos hospitais e postos de atendimento.

Relata acerca da chegada dos primeiros médicos, farmacêuticos e dentistas.

Trata de algumas epidemias importantes marcaram não só a história regional, mas, atingiram proporções nacionais. Essas epidemias tiveram vários nomes, o que levou Machado de Assis a denominá-las de: ‘pseudônimos com que a morte despovoa a cidade’. (Crônicas, terceiro volume, página duzentos e cinqüenta e três).

Esses acontecimentos ditaram a conduta na cidade no ano de 1855, como por exemplo, determinando que a sepultura do morto pelo mal (cólera-morbo), tivesse dez palmos de profundidade.

Quando em 1867 veio o surto epidêmico de varíola, improvisou-se inclusive um cemitério no pasto da saída para cachoeira onde foram inumados centenas de ‘bexiguentos’.

São pequenos detalhes históricos que acabam se tornando causa de inúmeros outros processos que interferem de forma direta, e, até na atualidade, no desenvolvimento urbano da região.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Ciência, religião e arte.

"A ciência sem a religião é paralítica.
A religião sem a ciência é cega."
Einstein

"O homem erudito é um descobridor de fatos que já existem. Mas o homem sábio é um criador de valores que não existem e que ele faz existir."
Einstein



TÍTULO: Ciência, religião e arte

TEMA: União

IMAGEM: União simbólica de ciência, religião e arte

DESCRIÇÃO: Mandala com três pontos dos quais emergem a tríade ciência, religião e arte que se dirigem para o mesmo ponto, para o centro.

ANO: 2010












"Não há oposição entre Ciência e Religião. Apenas há cientistas atrasados, que professam idéias que datam de 1880." Einstein

Fashion

"Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular."
"Memorial de Aires"

"As coisas têm o valor do aspecto, e o aspecto depende da retina."
"A Semana"


TÍTULO: Fashion

TEMA: A moda não serve ao que deveria servir

IMAGEM: Cores, missanga e missangas

DESCRIÇÃO: Miçanga é um pequeno objeto decorativo com um furo central por onde é atada a um fio ou corrente. Aqui, estão perdidas em cores.

ANO: 2010





"Mas, onde cessava ali a realidade e começava a aparência? Vinha de tratar com um infeliz ou um hipócrita?"
"Helena"