Rei Lear, tragédia teatral escrita por William Shakespeare, inspirada em lendas britânicas relata a história de um rei que enlouquece após ser traído por duas de suas três filhas, às quais havia legado seu reino de maneira insensata.
A obra foi escrita aproximadamente em 1605, sendo a peça foi encenada pela primeira vez perante a corte inglesa no dia 26/12/1606. E, impressa em 1608.
São personagens:
ü Lear, rei da Grã-Bretanha
ü Goneril, filha mais velha de Lear
ü Regan, segunda filha de Lear
ü Cordélia, filha mais jovem de Lear
ü Duque de Albany, marido de Goneril
ü Duque da Cornualha, marido de Regan
ü Conde de Gloucester
ü Conde de Kent, também aparece disfarçado como Caio
ü Edgar, filho de Glócester, aparece disfarçado como Pobre Tom (Poor Tom)
ü Edmundo, filho ilegítimo de Glócester
ü Oswaldo, assistente de Goneril
ü Bobo de Lear
ü Rei da França, pretendente e marido de Cordélia
ü Duque da Borgonha, pretendente de Cordélia
ü Curan, um cortesão
ü Homem velho, assistente de Glócester
ü Outros: médico, cavalheiro, mensageiro, serventes, cavaleiros, oficiais, soldados e serventes.
A obra tem o seguinte roteiro:
Lear, já idoso, decide dividir a Bretanha entre suas três filhas:
1. Goneril (esposa do duque de Albany);
2. Regan (esposa do duque da Cornualha);
3. Cordélia (pretendentes: rei da França e duque da Borgonha).
Para calcular a partilha, pede às filhas que expressem a gratidão e o amor que sentem pelo pai.
Goneril e Regan fazem discursos aduladores, em que afirmam que o amam mais que qualquer coisa no mundo.
Cordélia, por outro lado, contraria as expectativas do rei e afirma que o ama "como corresponde a uma filha, nada mais, nada menos".
Irritado com essa resposta, Lear deserda-a e expulsa-a do reino, entregue sem dote ao rei da França.
O duque de Kent intercede por Cordélia e também termina banido. Kent, entretanto, em vez de partir para o exílio, retorna ao reino disfarçado de Caio e põe-se ao serviço de Lear, quando este se encontrava na corte de Goneril.
O conde de Glócester, agindo de forma semelhante a Lear, cai numa conspiração criada por seu filho ilegítimo Edmundo, que através de uma carta forjada faz com que Glócester acredite que o seu filho legítimo, Edgar, planeja matá-lo para herdar seus bens. Edgar refugia-se na floresta e disfarça-se de mendigo louco (como Pobre Tom ou Tom o'Bedlam).
De acordo com o trato entre Lear, Goneril e Regan, o rei deveria ser atendido por uma corte de cem cavaleiros, e alternaria a hospedagem na casa de cada uma de suas filhas.
Goneril, porém, reduz o número de serviçais do rei e ordena que suas ordens sejam ignoradas.
Lear se enfurece contra Goneril e busca refúgio com Regan, mas esta se une a Goneril contra o pai.
Lear, Goneril e Regan se reencontram na casa do conde de Glócester, onde o rei rompe definitivamente com as filhas.
O velho rei é expulsado da casa, na companhia apenas do seu Bobo e de Kent/Caio. Uma grande tempestade desaba sobre o rei e seu esquálido séquito. Lear, já mostrando sinais de loucura, refugia-se numa cabana guiado por Glócester, que não pode suportar a maneira em que as filhas tratam o pai. Na mesma cabana esconde-se Edgar/Pobre Tom.
Na casa de Glócester, Edmundo trama novamente contra o pai e acusa-o de aliar-se aos franceses para promover a invasão da Bretanha. Furioso, o duque da Cornualha arranca os olhos de Glócester, mas um servidor fiel mata Cornualha. Glócester, cego e arrependido de ter acreditado em Edmundo, é expulsado da própria casa e encontra Edgar/Pobre Tom, que não revela sua verdadeira identidade.
Glócester pede a Pobre Tom que o leve até uma falésia, de onde possa cometer suicídio. Edgar finge guiá-lo até a beira de um precipício. Glócester dá um passo adiante e Edgar, fingindo ser outra pessoa, diz que ele sobreviveu milagrosamente à caída.
Os dois encontram Lear, agora completamente louco.
Kent guia Lear ao exército francês, onde o rei reencontra Cordélia. Lear, com a razão parcialmente recuperada, tem vergonha do seu comportamento anterior, mas Cordélia não mostra nenhum rancor em relação ao pai.
Regan é agora viúva, e Goneril despreza Albany, considerado débil por ela, e planeja sua morte. Albany, de fato, horroriza-se com o comportamento dos filhas e a mutilação de Glócester. Tanto Goneril como Regan tentam seduzir Edmundo, que é transformado no chefe do exército inglês. Nessa condição, Edmundo vence os franceses, captura Lear e Cordélia e os condena à morte.
Regan declara que se casará com Edmundo. Albany descobre uma carta secreta de Goneril para Edmundo e declara-o traidor.
Regan cai morta, envenenada por Goneril, e esta se mata quando sua traição com Edmundo é descoberta. Aparece Edgar, que combate Edmundo e o fere mortalmente. Glócester morre quando Edgar se revela.
Edmundo, à beira da morte, confessa a trama e avisa sobre a sentença contra Lear e Cordélia, mas já é tarde: Cordélia é enforcada, apesar de Lear conseguir matar o carrasco.
Lear entra com Cordélia nos braços. Tenta reanimar a filha e delira, pensando que Cordélia ainda respira. O rei finalmente morre.
Albany oferece o trono para ser exercido simultaneamente por Kent e Edgar. Kent recusa, e Edgar assume o reino.
A obra de Shakespeare termina em tragédia, com a loucura e morte de Lear e a execução de Cordélia. O caráter inovador da obra pode ser apontado pela total ausência do divino em sua trama.
O mundo de “Rei Lear” é um cosmos sem deuses ou interferências mágicas.
Lear, Goneril e Regan, pode ser visto como uma alteração das forças da natureza ocasionada pelo erro trágico de Lear – já que, historicamente, a visão de um salvador oriundo da França para o público inglês soaria como uma verdadeira inversão cósmica da ordem natural.
Criações totalmente shakespearianas são o Bobo do rei e o personagem do Pobre Tom (Poor Tom), ambas figuras que se fazem de loucos.
O Bobo, figura desacreditado por desempenhar uma função que não condizia com os conselhos sábios que dava para o Rei. Mais do que a de ser engraçado, sua função é a de servir de consciência de Lear até este, depois da crise na tempestade, passar a ter ele mesmo consciência de seus atos.
Até então, o Bobo não deixa, em momento algum, que o rei esqueça do engano que cometeu.
Todas as suas graças tem significado maior e são bastante cruéis para com o rei.
Porém, no momento que o Bobo deixa de ser necessário – já que Lear passa a ter consciência de seus atos – ele pura e simplesmente desaparece.
A peça evidência a emergência de uma moral que atenta apenas para o fim da satisfação de interesses. O Rei Lear ao agir baseado em orgulho ferido quando devia embasar-se em um sentimento de justiça acaba com a paz do reino.
As intrigas que envolvem toda a trama da peça acabam por afirmar que, para se alcançar poder, os antigos costumes como respeito aos pais e a lealdade ante ao seu soberano são passadas por alto. Trair, fazer intrigas e causar a morte de parentes são atos justificáveis quando o fim último é se tornar soberano.
Pode-se dizer que Rei Lear mostra a fragilidade das relações humanas, e a que ponto é possível chegar para obter o que se deseja, que atrocidades são possíveis cometer para alcançar tão sonhados altos postos.
O erro de Lear desagrega a família, mas também abala o Estado, resultando em guerra civil, enquanto a grande guerra central, da tempestade, reflete o abalo da natureza;
A tragédia shakespeareana tem efeito didático: a fragilidade humana faz com que a velhice não traga, obrigatoriamente, a sabedoria ou o aprendizado pela experiência; os erros de julgamento, pelo contrário, podem ser ainda mais trágicos por conta da vaidade e da soberba oferecidos pela aparente superioridade de julgamento dos mais velhos – seja ele um rei, como Lear.
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