subirão com asas como águias;
correrão, e não se cansarão;
caminharão, e não se fatigarão.
Isaias 40:31
Nas terras de Minas, há uma cidade denominada Congonhas, onde há o morro do Maranhão, local no qual o português Feliciano Mendes, na segunda metade do século XVIII, fincou uma cruz e iniciou a construção do Santuário dedicado ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos em agradecimento por ter sua saúde, outrora perdida em na exploração das jazidas, restituída.
A obra, segundo arquivos históricos, teve início em 1757, sendo a igreja findada dois anos depois. Os fundos arrecadados para a obra provinham de donativos.
Não foram encontrados registros da planta do santuário, mas especula-se que o mesmo foi inspirado no ‘Santuário do Bom Jesus do Monte’, na cidade de Braga, norte de Portugal, retratada abaixo:
O ‘Santuário do Bom Jesus do Monte’, construído no período compreendido entre 06/1784–1822 possui uma grande igreja ao alto e uma escadaria significativa com a presença de capelas laterais, que se assemelha muito com o conjunto arquitetônico do ‘Santuário do Bom Jesus de Matozinhos’.
A construção de Congonhas é inspirada no ‘Santuário do Bom Jesus de Matozinhos’, porém, não menos bela. E pode ser visualizada na fotografia abaixo:
O primeiro ermitão de Congonhas do Campo era "oficial de pedreiro", profissão mencionada em seu termo de entrada para a Ordem terceira de São Francisco de Vila Rica, em 11 de janeiro de 1760. A morte o surpreendeu, em Antônio Pereira, a 23 de setembro de 1765, sem ter ainda terminado a sua igreja, que tinha até então três altares. Sobre o altar-mor, a imagem do Senhor crucificado vinha de Portugal e deixava paga a promessa que inspirou a construção do projeto arquitetônico. As obras do Santuário foram crescendo com o tempo e com o precioso trabalho dos melhores artistas da época.
Importantes representantes da arte brasileira deixaram lá suas obras: Manoel da Costa Ataydes, Francisco Xavier Carneiro e Aleijadinho.
Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho foi escultor, entalhador e arquiteto no período colonial. Era filho natural do mestre de obras português Antônio Francisco Lisboa e sua escrava Isabel, e foi alforriado pelo seu pai e senhor na ocasião de seu batismo. Trabalhava como profissional autônomo e por ser mulato muitas vezes foi obrigado a aceitar contratos como artesão diarista e não como mestre. Suas obras não possuem documentação comprobatória de autoria, sendo-lhes atribuídas devido à semelhança estilística com sua produção. Não recebeu nada após a morte do seu pai, por ser filho bastardo. Teve um filho que se tornou artesão. O recibo assinado por Aleijadinho quando recebeu o pagamento pela produção dos profetas encontra-se no Museu da Inconfidência em Ouro Preto. Entre 1807 e 1809 devido a sua saúde débil encerrou suas atividades em sua oficina, mas depois disso ainda realizou alguns trabalhos. Faleceu aos 76 anos e foi sepultado na Matriz de Antônio Dias, junto ao altar de Nossa Senhora da Boa Morte.
Poucos são os registros acerca da sua vida pessoal, cita-se apenas que gostava de danças vulgares e da boa mesa. Trabalhava sempre sob o regime da encomenda ganhando meia oitava de ouro por dia. Não acumulou fortuna, pois era descuidado com o dinheiro tendo sido roubado várias vezes, e fazia ainda repetidas doações aos pobres.
Bretas o descreve como: "Era pardo-escuro, tinha voz forte, a fala arrebatada, e o gênio agastado: a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos, e esta volumosa, o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto, a testa larga, o nariz regular e algum tanto pontiagudo, os beiços grossos, as orelhas grandes, e o pescoço curto.”
Diversos diagnósticos tentam explicar atualmente a sua doença: hanseníase (improvável uma vez que não foi excluído do convívio social), reumatismo deformante, sífilis, escorbuto, trumas físicos consequentes de quedas, artrite reumatóide, poliomielite, porfiria.
A deformidade física afetou Aleijadinho de modo que o mesmo tornou-se verbalmente agressivo e considera-se elogios a suas obras como ironia.
No que tange a doença, sintetizou Gomes Junior: "No Brasil o Aleijadinho não teria escapado a essa representação coletiva que circunda a figura do artista. O relato da parteira Joana Lopes, uma mulher do povo que serviu de base tanto para as histórias que corriam de boca em boca quanto para o trabalho de biógrafos e historiadores, fez de Antônio Francisco Lisboa o protótipo do gênio amaldiçoado pela doença. Obscurece-se sua formação para fixar a ideia do gênio inculto; realça-se sua condição de mulato para dar relevo às suas realizações no seio de uma comunidade escravocrata; apaga-se por completo a natureza coletiva do trabalho artístico para que o indivíduo assuma uma feição demiúrgica; amplia-se o efeito da doença para que fique nítido o esforço sobre-humano de sua obra e para que o belo ganhe realce na moldura da lepra.”
Ainda em 1796 a caligrafia de Aleijadinho era firme apesar da doença. Mas a única certeza que se pode ter acerca do gênio que delineou os profetas em pedra sabão é que as informações são muitas e duvidosas.
A história do escultor dos profetas nos permite interpretar a vida da obra, pois nenhuma obra de arte pode ser desvinculada de seu contexto, pois a natureza da arte é universalista, social, cultural.
O catolicismo, entendendo a força da arte, encomendou os profetas. "A arte pode seduzir a alma, perturbá-la e encantá-la nas profundezas não percebidas pela razão; que isso se faça em benefício da fé"'.
Bazin captou a essência do processo dizendo que "a religião foi o grande princípio de unidade no Brasil. Ela impôs às diversas raças aqui misturadas, trazendo cada uma um universo psíquico diferente, um mundo de representações mentais básico, que facilmente se superpôs ao mundo pagão, no caso dos índios e dos negros, através da hagiografia, tão adequada para abrir caminho ao cristianismo aos oriundos do politeísmo".
Mário de Andrade, escreveu sobre o barroco "… o artista vagou pelo mundo. Reinventou o mundo. O Aleijadinho lembra tudo! Evoca os primitivos italianos, esboça o Renascimento, toca o Gótico, às vezes é quase francês, quase sempre muito germânico, é espanhol em seu realismo místico. Uma enorme irregularidade cosmopolita, que o teria conduzido a algo irremediavelmente diletante se não fosse a força de sua convicção impressa em suas obras imortais".
Os profetas são a principal obra de Aleijadinho e constituem uma das séries mais completas de representação dos profetas na arte cristã ocidental.
Estão presentes os quatro principais profetas do Antigo Testamento: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. E, oito profetas menores escolhidos segundo a importancia estabelecida na ordem do canon bíblico: Baruc, Oseias, Jonas, Joel, Abdias, Amós, Naum e Habacuc.
Muitos atribuem a proporção distorcida das imagens à doença do escultor, mas há correntes que defendem que a mudança das propoções é intencional objetivando compensar a deformidade advinda do ponto do observador que é muito baixo em relação à obra.
O conjunto apresenta gestos e significados simbólicos relacionados ao carater profético expresso:
1. Apenas Isaias e Naum aparecem como idosos.
2. Todos trajam túnicas decoradas, salvo Amós (pastor).
3. Daniel, com o leão a seus pés.
O escultor tinha relação com Cláudio Manoel da Costa, e há correntes que defendem que cada profeta representa um inconfidente.
Há símbolos maçonicos em sua obra, mas seus profetas não são barrocos, são bíblicos.
Segundo John Bury: "Os Profetas do Aleijadinho são obras-primas, e isso em três aspectos distintos: arquitetonicamente, enquanto grupo; individualmente, como obras escultóricas, e psicologicamente, como estudo de personagens que representa. Desde este último ponto de vista, elas são … as esculturas mais satisfatórias de personagens do Antigo Testamento que jamais foram executadas, com exceção do Moisés de Michelangelo.”
Os profetas guardam a entrada e no interior da capela do santuário está o altar mor contendo as imagens do Coração de Jesus, Nossa Senhora de Lourdes e São José.
Depois da profecia a promessa cumprida, o altar.
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