quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Profeta Jeremias

"O mundo não era digno deles,

que receberam testemunho por intermédio de sua fé.”


Hb 11:32, 38, 39


O profeta Jeremias é um dos nove personagens chamados Jeremias encontrados na Bíblia Hebraica. Esse nome é empregado 158 vezes na Bíblia. O significado do nome é incerto, sendo passivel das traduções: "Iahweh exalta", "Iahweh é sublime" ou "Iahweh faz nascer".


Jeremias era um rapaz muito humilde. Filho de Hilquias, um dos sacerdotes de Anatote, no território de Benjamin a menos de cinco quilómetros a nordeste do Monte do Templo em Jerusalém (Jr 1:1; Js 21:13, 17, 18).


Era de família sacerdotal, mas estava ligado às tradições proféticas do Norte, principalmente a Oséias, e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos camponeses sobre a situação do país.


Jeremis é considerado o autor de dois dos livros da Bíblia: ‘Livro de Jeremias’ e ‘Livro das Lamentações de Jeremias’.


Jeremias era pesquisador e historiador e profeta. Acredita-se que tenha sido ele o autor do livro que leva seu nome e possivelmente os dois livros de Reis (tenha escrito adicionando-lhe relativos dados por Natã e Gade ( I Crônicas 29:29) e outros escritores. É a história dos reis de Judá e Israel, desde Davi até Acabe e Jeosafá, num período de 118 a 125 anos), abrangendo a história de ambos os reinos (Judá e Israel) desde o ponto em que os livros de Samuel a deixaram (isto é, na última parte do reinado de Davi sobre todo o Israel), até o fim de ambos os reinos, e após, a queda de Jerusalém, teria escrito o ‘Livro das Lamentações de Jeremias’.


Os relatos biográficos em terceira pessoa encontrados no Livro de Jeremias, que são atribuídos a Baruc, não se encontram em ordem cronológica, entretanto, por meio da seguinte sequência de trechos: 19:1-20:6; 26; 45; 28-29; 51:59-64; 34:8-22; 37-44, pode-se fazer uma leitura destes relatos em ordem cronológica.


A atividade profética de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 a.C. (1:2; 25:3), quando ele ainda era jovem (1:6), razão pela qual teria demonstrado receio ao assumir tal tarefa, e prosseguiu até 586 a.C., podendo ser dividida em quatro períodos:


Primeiro período, durante o reinado de Josias (627 a 609 a.C.): Com apenas oito anos de idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra", expressão que indica a camada rural da sociedade. No início deste reinado, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por causa de sua infidelidade a Iahweh e sua adesão a outros deuses (idolatria), especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalim.


No âmbito internacional, a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande potência da época, se enfraquece cada vez mais. Josias, já maior de idade, aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e procura tomar o território que antes era do Reino de Israel Setentrional, e que pertencia à Assíria desde a queda de Samaria em 722 a.C. Josias deixa de pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa (2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer novo relacionamento social centrado na Lei. Estranhamente Jeremias não faz nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa. Foi um período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom conceito sobre Josias (Jr 22,15-16).


Segundo período, durante o reinado de Joaquim (609 a 598 a.C.): Com a decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 a.C.), outros povos entram no cenário: citas, medos, babilônios e também os egípicios que tentam ressurgir depois de um período decadente. Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas políticas e militares. Josias morre em Meguido, em 609 a.C. (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Necao, que procura deter o avanço d Babilônia. Necao depõe Joacaz, que sucedera Josias, e coloca no trono de Judá o despótico Joaquim. O povo detestava Joaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19). É dessa época o famoso Discurso sobre o Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do profeta.


O ‘Discurso contra o Templo’, foi conservado em duas versões: 7,1-15 e 26,1-24. O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso. Ocorreu entre setembro de 609 e abril de 608 a.C., quando Jeremias colocou-se no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaíta no Templo de Iahweh como falsa e previu a destruição do santuário, tal qual outrora acontecera com Silo.


Na opinião dos sacerdotes do Templo, Jeremias cometera uma dupla blasfêmia: falara em nome de Iahweh e falara contra a casa de Iahweh. Jeremias confirmou suas palavras perante o tribunal e só não morreu porque alguém se lembrou do profeta Miquéias, que, um século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada sofrera.


No começo de seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um novo palácio, exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois Judá estava obrigado a pagar tributos ao Egito. Jeremias denuncia o governo de Joaquim como ganancioso, assassino e violento (22:13-19), pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos, e vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Joaquim "não conhece Iahweh".


A Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor. Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país (4:5-6:30; 5:15-17; 8:13-17). Possivelmente por volta de 605 a.C., quando Nabucodonosor venceu o Necao II (o faraó) e ameaçou Judá. Jeremias foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém (19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur, chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida (36,5), a entrada no Templo. Mesmo assim ele continuou denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais. E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes), para isso convoca o escriba Baruc e dita-lhe as Profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no quarto ano do governo de Joaquim, em 605 a.C. Em dezembro de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o livro, em um momento em que Nabucodonosor atacava a cidade filistéia de Ascalon, vizinha de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do norte" está às portas, ou a conversão ou a destruição. Joaquim mandou queimar o escrito e prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se esconderam e não foram achados. Posteriormente, Jeremias manda que Baruc escrever tudo de novo e ainda acrescenta ao livro outras palavras (36,27-32). Jeremias também luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que, segundo o profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh.


Jeremias estava com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 a.C., o exército babilônico estava às portas de Jerusalém. Nessa época, Joaquim morreu, provavelmente assassinado. Seu filho e substituto Jeconias, não teve tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida. Então o profeta, juntamente com parte da elite judaica, foi levado para o Exílio na Babilônia em 597 a.C.


Sedecias, tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para reinar em Jerusalém. Jeremias apregoara que este castigo seria decorrente ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só via rebeldia contra Iahweh, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não havia o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz. A mentira domina, desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias.


Jeremias constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5). Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14). Em 5:26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e escravizá-lo impunemente.


Terceiro período, durante o reinado de Sedecias (597 a 586 a.C.): Sedecias assumiu o trono com 21 anos de idade, para dirigir um Judá arruinado, com várias cidades destruídas e uma economia desorganizada, se submete aos babilônicos e se mostra indeciso. Nesse momento surge uma disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que foram para o Exílio na Babilônia e aqueles que ficaram em Judá.


Jeremias se nega a participar de uma visão simplista (capítulo 24) e coloca o assunto dentro da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre. Por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição. Essa idéia leva Jeremias novamente para a prisão. Pressionado por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia, que, fracassa, conforme previsto por Jeremias.


Jerusalém é sitiada pelos babilônios, nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15). Em 587 a.C. ocorre a segunda deportação.


Quarto período, depois da queda de Jerusalém (a partir de 586 a.C.): Em 586 a.C., Nabucodonosor resolve destruir Jerusalém totalmente e incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas permite que Jeremias fique no país, então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judéia. Nesse mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Esse grupo passa a residir na cidade de Táfnis, cidade situada a leste do Delta do Nilo, onde passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos ali praticavam (40,7-44,30).


Segundo o apócrifo Vida dos Profetas, escrito por um judeu da Palestina no séc. I DC Jeremias foi apedrejado e morto por seus conterrâneos quando residia no Egito.


Considera-se que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Deus. Ele se tornou uma espécie de Moisés fracassado, que viu seu povo perder suas instituições e a própria terra. Se apresenta como um grande solitário (15:17), incompreendido e perseguido até pelos membros de sua família (12:6; 20:10; 16:5-9), nunca chegou a ser pai (16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade para o Egito, nenhum vestígio restou de sua tumba.


Ao colocar em primeiro plano os valores espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma deve ter com Deus, ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de sofrimentos a serviço de Deus, pode ter inspirado o Segundo Isaías na construção da Imagem do Servo (Isaías 53).


As denúncias de Jeremias reivindicavam a atenção dos príncipes e do povo, para que fossem responsáveis pela Lei, a qual violavam constantemente. Suas críticas eram feitas em discursos acalorados em plena praça pública. Seus principais alvos eram os sacerdotes, profetas, governantes e todos aqueles que seguiam o legalismo do "proceder popular". Todavia, ele reconhecia que sua comissão era também de 'construir e plantar' (Jr 1:10). Chorou diante da calamidade que sobreviria a Jerusalém (Jr 8:21, 22; 9:1).


O livro de Lamentações constitui evidência do seu amor e da sua preocupação com o povo.


Jeremias encenou para Jerusalém vários pequenos dramas como símbolos da condição dela e da calamidade que lhe sobreviria. Cita-se: A visita à casa do oleiro (Jr 18:1-11) e o incidente com o cinto estragado (Jr 13:1-11) Ordenou-se a Jeremias que não se casasse; isto servia de aviso das "mortes por enfermidades", das crianças que nascessem naqueles últimos dias de Jerusalém (Jr 16:1-4). Ele quebrou uma botija diante dos anciãos de Jerusalém, qual símbolo do impendente destroçamento da cidade (Jr 19:1, 2, 10, 11). Comprou de volta um campo de Hanamel, filho de seu tio paterno, como figura da restauração que viria depois do exílio de 70 anos, quando se comprariam novamente campos em Judá (Jr 32:8-15, 44). Em Tafnes, no Egito, ele ocultou grandes pedras no terraço de tijolos da casa de Faraó, profetizando que Nabucodonosor fixaria seu trono sobre aquele exato ponto (Jr 43:8-10).

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