domingo, 28 de junho de 2009

Cartas...

"Mentiras sinceras me interessam."
Cazuza

Carta é o elemento postal mais importante, constituída por algumas folhas de papel fechadas em um envelope, que é selado e enviado ao destinatário da mensagem através do serviço dos correios.
Nos primórdios da entrega das cartas quem pagava a postagem era o destinatário e isso só se alterou com a criação dos selos quando se passou a, previamente, o remetente colocar no envelope a quantidade de selos correspondente ao valor da tarifa de serviço, garantido assim a entrega da carta ou a sua restituição no caso de não ser encontrado o destinatário.
Atualmente a carta vem sendo substituída pelo e-mail que é a forma de correio eletrônico mais difundida no mundo.
O hábito de escrever faz com que escreva emails, mas isso não é o suficiênte. A carta tem mais do que a finalidade de comunicar a mensagem. Ela permite que o cheiro que o papel tocado pelas mãos de quem a envie chegue ao destinatário. Acaba por ser uma modalidade romântica de comunicação, é algo como olhar a lua no céu e ficar feliz por saber que essa mesma lua está acima da cabeça da pessoa amada e que por isso poder-se-á reencontrar o objeto do amor.
A carta, assim como a lua, pode representar diferentes sentimentos dependendo do sujeito. São palavras que conferem esperança, consolo, alento, que levam amor e o toque, mesmo que somente o papel seja tocado.
Nos momentos de tristeza e saudades releio algumas poucas cartas que guardo. E hoje transcrevo uma delas, alguns textos quando guardados deixam a humanidade mais pobre, e creio que esse é um deles:
“Querida Mayra,
Outro dia estava vendo um documentário na tv e me lembrei o tempo todo de você. O reporter tinha ido ao último ponto habitado no extremo sul do continente, a Patagônia. Lá há uma pequena, mui pequena aldeia, pois ali é o fim da Carretera Austral, cuja construção começou na década de 50. Eles queriam fazer uma longa estrada para ser percorrida por turistas, do tipo que se encanta com vastas paisagens ainda não descaracterizadas pelo homem, o que hoje se chama turismo ecológico.
Quando chagaram ao fim da estrada, e acabou a construção, muitas famílias de trabalhadores ficaram por lá e nunca mais saíram, alguns membros se casando com outros, de outras famílias, e vivendo sempre naquela região lindíssima, de extensos prados verdes, com muitas flores, algumas que só florescem naquele local, e montanhas de picos cobertos de neve mesmo no verão.
O que mais achei interessante foram os depoimentos daquelas pessoas que moram ali, alguns com filhos adultos e netos da mesma forma, nos quais transparece uma imensa paz e candura, uma certa ingenuidade até, uma disposição amigável para com o mundo em geral, coisa que certamente as condições de vida oferecidas no local permitem. O reporter mostrou a casa de uma dessas famílias e a dona da mesma dizia que ali todos os que chegam são bemvindos. Se chegam de manhã tomam café com eles, e ficam para o almoço. Se almoçam, ficam para descançar e lanchar à tarde. Podem “pousar” se quiserem, e assim são todas as casas da vila.
Parece um lugar perdido no tempo. Perguntaram se ela não tinha receio de assaltos ao que respondeu que não, que o prazer deles era receber quem se aproximasse. E começou a mostrar, a pedido do repórter, os pratos que comem na vila, como são feitos, o pão feito em casa...
O que me restou depois da reportagem foi uma enorme sensação de paz, de boa vontade e confiança, algo que conseguiu vencer a transmissão feita através dos meios modernos de comunicação. Numa cena, eles mostraram algumas flores que só ali crescem, de longas hastes que chegam a altura da cintura das pessoas, em cujo topo estão as flores propriamente ditas, de coloração azul e violeta, em cachos, uma coisa linda.
Pensei que nós gostaríamos de fazer essa viagem e ficar uns tempos por lá, é como voltar ao paraíso perdido, no tempo em que as pessoas eram amigas e voce não tinha que desconfiar de cada um que se aproxima, nem esconder significados por detrás de palavras, onde o silêncio é um presente do universo e os sons são suaves, cariciosos, embaladores.
Veja, mesmo neste século, envolvidos por tanto caos, gritaria, conflitos, gente desnorteada numa busca frenética por “algo” que nem sabem dizer o que é, o mundo guarda esses lugares numa lembrança do que já foi e do que pode vir a ser, um dia perdido na vastidão dos séculos, quando crescermos, quando retomarmos nossas origens, quando houver luz. Lugares assim são para quem não esqueceu que é uma centelha divina e e que já hoje tem dificuldade de se movimentar em seu próprio mundo porque a mesquinhez e pobreza espiritual experimentada nele, nesse mundo convencional, são uma afronta diária que os faz sofrer em dobro, como se os dias passados aqui onde a ignorância se faz maioria, não tivessem vinte e quatro horas mas durassem uma eternidade...
Querida May, essa história (com h mesmo, não admito escrever estória copiando do inglês story, isto é um acidente à boa arte de narrar) foi só para te lembrar que estou pensando em voce de muitas formas, entre boas preces e bons desejos, e acho voce um ser humano digno de um dia viver em lugar tão lindo assim.
Saudades...
Grande beijo.”

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