quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Algumas Particularidades

"O nosso consolo em levar os ferros da faculdade
é sabermos que um dia sairemos dela."
Baesso


Olá, dona Mayra!!!

Quanto tempo!
Deu o que fazer para achar uma notícia sua, sumiu sem deixar rastro!
E aí, como é que vai a vida, e a medicina?
Tô sentindo falta das suas discussões filosóficas(e do seu alto astral, logicamente).

Precisa vir pra visitar nóis!
Um abraço!
E dê notícias!


Olá, dona Mayra!

Onde estiver neste email (int) entenda ponto de interrogação(no meu teclado não funciona).
Como é que vai(int)
Aqui tá tudo bem.
Ah!Achei muito legal o seu trabalho de ir ao hospital vestida de palhaço. Sempre achei isso bacana mas ainda não tive a oportunidade de ver de perto(só na TV).

Então você também está pesquisando um medicamento(int) e tá dando muito trabalho(int)que medicamento é(int)
E a cidade é legal(int)
Eu estou agora no quinto. Mas você sabe... é tão corrido, tanta coisa que precisava ser bem estudada passa batida...
O importante é a qualidade do aprendizado e você sabe que isso você tem.

Algumas pessoas têm bom senso naturalmente, o que é fundamental em medicina.

Mas quase sempre a capacidade de decorar, infelizmente, é o que é mais valorizado na faculdade.
Apesar dos pesares, estou muito feliz. E a duvida que inevitavelmente existe no inicio quanto à intensidade com que gostamos do curso não existe mais: adoro medicina.

Você teve aulas com o Ricardo(int) Acho ele o máximo.
Eu vou visitar o seu blog
Até mais!
Um abraço!

Querido,
Eu estou indo creio que bem. Estudando... Um pouco cansada, mas, como diria o Baesso da farmaco: "o nosso consolo em levar os ferros da faculdade está no fato de sabermos que um dia sairemos dela."
Me pergunto quando esse dia irá chegar para mim. Tenho a esperança que chegue. Já nem falo mais em período, já nem falo mais. Pego a pesquisa, loto o meu tempo, pra ver se não vejo passar.
Obrigada por enviar seu celular.
Sei lá, às vezes acho estranho o fato de as pessoas se lembrarem de mim, minha vida tem sido um estar sempre de passagem. Pergunto-me se dá pra criar vínculos assim.
Ir ao hospital vestida de palhaça tem sido uma alegria em minha vida. Mesmo porque ajuda a passar mais rápido... No fim de semana no hospital os dias voam.
Tenho ficado mais só e por aqui tenho uma única amiga. Cansei de sofrer com a dor de deixar a minha vida pra trás de mudar, mudar de cidade, de escola, de tudo. Fico mais só, mas sofro bem menos.
Quem sabe um dia em um café te conto minha vida com mais detalhes.
Eu já tinha feito pesquisas em relação a medicamentos antes, mas não foi nada feliz. Achei que nunca fosse voltar a pesquisar e agora estou aqui novamente. Às vezes entro em alguns preceitos religiosos e acho que talvez esse seja o meu carma.
O difícil de aprender é que não temos como nos livrar do que foi aprendido. O conhecimento às vezes é fruto só de tristezas. Fazer o que?

Estudar assim mesmo, afinal é a única coisa que sei fazer, mesmo que não a faça bem, rsrsrs...
A cidade aqui não é boa. Tem apenas dois atrativos turísticos: um o cemitério que é um modelo cheio de obras de arte, e um santuário. Na região existem algumas cachoeiras, mas nunca fui em nenhuma.
Tem matérias que mesmo fazendo mais de uma vez existem inúmeras coisas que acabam por passar batido. É impressionante, mas quanto mais estudo, pior me sinto.

Com o tempo parece que até desaprendo o que acreditava saber. Me pergunto se um dia isso acaba. Mas dizem que a esperança é a mãe da boa sorte.
Quanto à qualidade de aprendizado a que você se refere, às vezes acho que não tenho. Estudo e minha memória me trai. Penso em quanto somos é estimulados decorar e a ter notas.

Algo que me marcou profundamente foi o que o André da tua sala falou no COMA: “o ICB mata os alunos”.

Às vezes me parece que a formação mata a pessoa e só nos faz ver o quanto somos insuficientes.

Nos congressos acontece o contrário, todos mostrando o sucesso, mas ninguém mostra quantos já mataram. Escondem suas insuficiências, seus erros.
A verdade acerca de si mesmo é o que mais me encanta no Ricardo. Fui aluna dele. Tanto nas teóricas, quanto nas práticas, ele era meu preceptor. Posso dizer que minha postura profissional, tem dois tempos: antes e depois dele.

Ele foi um professor daqueles únicos. Sabe me deu segurança, uma segurança que se reflete inclusive em minha vida particular.
O Ricardo esteve onde estou agora para proferir uma palestra sobre educação médica. O destino tem suas peças. Dizem que ele trouxe o violão e uma máscara daquelas usadas na época da peste e deu toda a aula de máscaras.

Ele é um homem dado a reflexão e para mim era um deleite quando ele abria pra discussão dos artigos, mesmo porque poucos da turma liam o artigo e eles esperavam que aqueles que lessem e gostassem de falar os salvassem do terror de defender suas idéias (eu sempre comentava os artigos).
Eu sempre fui dada a revoluções e talvez o Ricardo se lembre de mim. Talvez não. São tantos.
Me lembro na primeira aula de clínica, ele pediu que eu palpasse o ictus de um paciente e para responder se era forte ou fraco. Era forte, era como se o coração do paciente estivesse em minhas mãos. Jamais esquecerei esse dia. Admiro profundamente suas perguntas propiciatórias.
Fiquei muito doente no final do período em que tive aula com ele, ele percebeu e perguntou até se eu estava bem. Os professores nos ensinam e sequer conseguem nos ver. É mais um aspecto acerca do qual ele é brilhante.
A coisa que mais usei aprendi com ele: a resposta empática de levar lenços sempre comigo.
As dores são tantas, as pessoas sempre choram, basta que deixemos que elas falem. Dentro do bolso, vai uma caixa de madeira sempre cheia de lenços. Eu mesma pintei a caixa. A gratidão que tenho por ele por ter aprendido isso é imensa.
O único problema da matéria dele é que temos aula com ele e somos avaliados pelo Ronaldo, pelo menos era assim na minha época.
Espero um dia poder revê-lo e agradecer pelo mestre que foi. Porque professores temos muitos, mas mestres são bem poucos.
Outro dia ainda tentava me lembrar do nome das escalas pra diagnósticos específicos.

Foi o período no qual cresci. Ou sei lá.... o semestre em que percebi que cresci. Lembro-me bem de quando Ricardo falava: Olhem para as pessoas que vocês eram as sete da manhã, e vejam a pessoa que são quando saem daqui as onze. O quanto de medicina está em vocês.
Sabe querido, quanto a você, nunca duvidei de que adoraria medicina, porque você tinha questionamentos. O médico, do modo como entendo tem que questionar. Só aquele que questiona o próprio amor, os próprios valores é capaz de reoptar a cada manhã em cumprir sua missão. Essa gente muito segura de si me assusta.
Como disse o Ricardo em uma aula que me deu uma vez: o problema é que as pessoas que julgamos más no mundo não são tão alienígenas, são bem parecidas conosco. Ele propunha que nos questionássemos que nos observássemos. Mas não renegava os exames complementares, a técnica da medicina. Ele é humano. E, se eu for um terço do que ele é já me dou por feliz.
Tenho muitas recordações de coisas acerca das aulas dele.
Ele é um modo de ver as coisas, minhas aulas eram sexta de manhã, não sei se continuam no mesmo horário, e o violão dele era alento pra alma. Porque a alma dos alunos da medicina não está livre de sangrar.
Quanto mais estudo, mais percebo que não fazemos nada, que a situação social continua a mesma, que as pessoas continuarão a sofrer por falta de recursos mesmo quando existe tanta técnica que só serve para lhes ser negada: maldito acesso ao serviço de saúde. Quanta vida é negada aos seres por falta de verba. E o Ricardo sempre mostrou isso, mostrando o percurso do paciente pelo sistema de saúde. Mas sabe querido, os lenços sempre funcionam, abençoada resposta empática o único consolo que podemos dar por vezes, a única coisa que não precisa de autorização, de fila: um simples lenço de papel no qual cabem todas as dores.
Se eu o visse de novo diria para nunca deixar de ensinar isso, porque no mundo real é consolo o que faz a diferença.
Espero que goste do meu blog. É simples, mas é com amor.

Sempre gostei de escrever... apesar de acharem que falo bem, tenho dificuldade em falar (as pessoas não percebem) prefiro mesmo pintar e escrever. Minha vida flui melhor por minhas mãos.
Penso em fazer cirurgia, apesar de um amor platônico que tenho pela neurocirurgia. Acho que não darei conta, que já estou velha e nem sei quando irei me formar para me lançar em uma residência de seis anos, isso se passar de primeira. Provavelmente acabarei por fazer cirurgia geral.
E você? O que pretende? Quais são seus sonhos meu amigo?
O que você espera?
Conte-me notícias daí. Queria um dia poder reencontrá-lo, não sei como, mas acho que nossos devaneios graças aos atrasos do Mourão acabaram por criar uma amizade sólida entre nós.
É como já mencionei, achei que sequer se lembravam de mim aí.
Responda só quando puder, e desculpe minha resposta longa, é que teus emails me evocam boas lembranças.
Com carinho, amizade e saudades...
May.

Querida Mayra,
Aqui tá tudo bem, graças a Deus.

Sabemos que 6 anos são rigorosamente insuficientes para a formação de um médico verdadeiro; e que se as pessoas se tornam médicos em 6 anos é, sem dúvida nenhuma, por driblar o método de avaliação.

Não que eu ache errado driblar o sistema de avaliação, que na maioria das vezes é um lixo ; o problema é perder a consciência de que no fundo não somos o que são nossas notas e nos acomodar pensando que seremos bons médicos.

Para a maioria, a indispensável compreensão da pequenez só vem depois de sair da faculdade, quando o cara a cara com paciente e sua doença faz o doutor se sentir um nada e abrir a boca a chorar.

Por isso, apesar de saber dá má fama dos conselhos gratuitos, dou-lhe um:
Não esquente a cabeça com o tempo para formar e não deixe que os pensamentos irracionais massificados de alguma maneira a prejudique.

Acredito, sinceramente, que você estará entre os melhores médicos no futuro, tanto tecnicamente(você tem pensamento lógico e espírito questionador, o que é tudo) quanto no aspecto humano.

As pessoas mais inteligentes que conheço `nem` passaram no vestibular de medicina.
Imagino o quanto deve ser difícil mudar tanto... Deu o que fazer para eu me acostumar aqui...
Vi o seu blog e achei muitíssimo legal. Mayra, você escreve MUITO bem.

Uma sugestão: vai anotando suas vivencias para que um dia quem sabe você escreve um livro. Estou lendo um do Drauzio Varella, POR UM FIO, muito bom.

Leia porque vale a pena.
Quando vier pra cá a gente se encontra com certeza, ligue aqui.
Então até mais Mayra, tudo de bom aí. Vamos nos comunicar por email sempre. Ok!
Um abraço!

Querido,

Fico feliz por tudo aí estar bem.

Seu último email me deixou deveras pensativa. Foi bem diretivo e disse coisas com as quais concordo, mas é que fui me acostumando com o mundo e já estou a me justificar no padrão da maioria.

Sei que seis anos é pouco, mas creio ser o sonho de todos entrar no padrão.

Existe um vídeo no Yotub que é sobre os melhores engenheiros, alguns levam nove anos pra formar. A verdade é que isso serve de consolo.

Mas no fundo creio que eu queria ser normal.

Às vezes me questiono se pessoas medíocres não são bem mais felizes e se a vida delas não é bem mais fácil.

Quanto a driblar o método de avaliação, é algo que faz com que o ensino continue a ser essa bosta (com o perdão da palavra). Porque os professores acham que a maioria está indo bem porque não sabem que a maioria cola.

Eu lembro bem do caso da Rita. Todo mundo tinha a mesma cola impressa na mesma letra e a Rita catou um aluno e ninguém teve a coragem de assumir que todos estavam com a cola.

Pergunto-me cadê o coleguismo, cade os brios...

Mas eu me perguntando ou não acerca dessas coisas, o mundo continua a girar.

Penso às vezes em me dedicar à educação médica, é um campo que precisa tanto de ajuda. Mas daí penso: é um campo tão podre e tão sórdido tão cheio de interesses e vaidades.

Os professores não são professores e não sabem a que vão.

Pergunto-me se médicos sabem ser professores. Salvo é lógico algumas exceções, como o nosso conhecido Ricardo.

Eu não achava tão errado driblar o método, até ter aula com o Ricardo e perceber que é errado sim, porque esse drible permite que a coisa continue assim: acomodada.

Pra minha turma ele passou um texto sobre cola.

Na nossa prova no fim do semestre ele colocou o juramento no quadro e pediu para lermos.

Pasme, nunca mais colei.

Onde está o princípio da honestidade que repetimos no juramento?

Como jurar honestidade se passamos uma graduação inteira sendo desonesta mesmo que por desobediência civil?

Desobediência civil é um conceito de Thoureau quando ele diz que às vezes desobedecemos a lei não por desonestidade, mas por discordar dela e não ter força pra lutar pelo que acreditamos.

Os conflitos acerca de tais coisas em minha alma são muitos. Creio que por isso ainda não comecei a escrever sobre.

Apesar desse turbilhão de divagações, agradeço seu conselho. Suas palavras me devolvem a sensatez e eu passo a me sentir melhor, lembrando que nem todo mundo é medíocre e que algumas pessoas entendem o que se passa.

Bem meu caro, você imagina que é difícil a situação de mudanças e não sabe da minha missa a metade. Quem sabe um dia eu te conte a missa inteira.

Criei uma pasta no meu email intitulada particular para guardar o que me escreves.

Agradeço pela escala e vou achar a SALSA aqui nos meus arquivos, mas em breve você deve ter a aula dela.

A SALSA é tipo CAGE eu adoro essas escalas, fazem a vida parecer tão simples, resumem o diagnóstico e a vida humana em uma técnica sem erros.

Livram nossa consciência do peso, mas não resolvem o problema.

Fico feliz por você ter olhado meu blog, sei como tempo é difícil pra nós.

Pode deixar que um dia (mesmo que tenha que me formar antes) escreverei uma auto biografia, acho que minha vale a pena de ser escrita. Não por ser mais interessante, mas por ser muito atípica. Dará um bom folhetim decerto.

Você entrará no meu livro.

Afinal, quando resolveu me escrever entrou na minha história. Até hoje em meio a minhas mudanças, nunca ninguém se atreveu a me escrever e perguntar de mim. As pessoas ficam sem graça, vão abandonando o passado, as conversas e no final vão ficando tão distantes e tão sem assunto que a amizade acaba.

Você fez a ordem inversa da relação. Transformou uma ida tão definitiva em retorno.

Eu li por um fio no ano que foi publicado. Gosto principalmente de como ele conta a questão do início do AIDS. E como narra a morte do próprio irmão. Acho que quando narra isso, mostra que o médico é tão efêmero e tão limitado apesar de toda ilusão de poder e potencia que a profissão confere na sociedade.

Quando eu for certeza que ligarei aí.

Sabe querido, acho que amizades que se baseiam na escrita nunca acabam. E o fato de você ter escrito é sinal que se importa, que se compromete (mais do que eu inclusive).

Eu me acostumei em por vezes dar ao mundo o que ele me dá. E no mais sair sem despedidas dá sempre certa ilusão de que vamos voltar no dia seguinte, mesmo quando sabemos que não vamos...

Pode ter certeza, sempre responderei, mesmo que a resposta demore um pouco.

Às vezes pessoas distantes são mais próximas do que pessoas próximas.

Hoje fui ao asilo durante o dia, de quarenta pessoas do projeto só quatro quiseram ir, porque o asilo pediu a visita e era fora do ambiente hospitalar, daí o pessoal achou que isso não é coisa de médico.

As pessoas não entendem mesmo promoção da saúde.

O mundo dos profissionais em saúde me assusta. Mas eu pareço uma velha ranzinza com tantas reclamações, risos...

Com saudades, amizade e oração.

May.


Olá, Mayra,
td bem(int)

Realmente, a faculdade de medicina, ou melhor, as pessoas que nela encontrei, são bastante diferentes do que eu pensava encontrar aqui. O amor pela medicina, como aquele do Ricardo, está em extinção. A disputa e o canibalismo* é que norteiam as atitudes. Mas fazer o quê, a não ser a nossa parte(int).
Acredito em Deus e na sabedoria das linhas tortas que escreve. Até mesmo o sofrimento acredito que tem um grande lado positivo: a adaptação. A medida que vc experimenta um certo tipo de sofrimento e , o tempo passa, são necessárias doses cada vez maiores de estímulo para provocar o mesmo efeito de sofrimento. Desse modo vc vai ficando cada vez mais forte. Na profissão que queremos seguir isso é extremamente necessário, afinal, como poderemos defender nossos pacientes de qualquer ameaça mundana se não defendemos nem a nos mesmos(int)
Foi justamente o canibalismo o que mais gostei no seu blog. Parabéns! Vc realmente manda muito bem como escritora, Mayra! É lógico que uma boa escrita só pode vir de uma mente rica.
Eu não sei que especialidade quero seguir. Depois que conheci o Ricardo, fiquei encantado com a clínica médica, mas é tão difícil... E além disso, eu também acho muito legal cirurgia, principalmente por me sentir muito desafiado, nos meus limites, por ela. Vou deixar o tempo passar e ver o que que dá.tudo pode ser, por enquanto, até psiquiatria.
E vc, tem certeza do que quer(int)
E também fiquei curioso para saber sobre os seus trabalhos com cemitérios e hipnose. de que se trata(int)
Pode escrever seus emails no tamanho que quiser. Gosto de lê-los, embora não possa responder à altura, não porque me faltem idéias, mas pela dificuldade para caçar palavras que as expressem, que me cansa as vezes.
Até mais,
um abraço,


Oi Querido,

aqui está tudo em paz... ou quase em paz.

Tudo continua como sempre, os problemas vão aparecendo e a gente solucionando.

Essa semana tive um incidente com um dos ratos da minha pesquisa, hoje ele teve que ser sacrificado. Não sabemos o que aconteceu, do nada ele começou a atacar.

Hj devo operar cinco. Estou preocupada, porque no inverno é mais difícil.

Eu me assusto com os alunos de medicina. Mas a bem da verdade, é que bem poucos fazem medicina: uns fazem a vontade dos pais, outros fazem um pé de meia... Medicina mesmo só considero que fazem aqueles que optaram por amor.

Não culpo as pessoas, entram jovens demais, e suas insuficiências particulares são transferidas para a profissão.

Fico feliz por você ter gostado do canibalismo, foi a forma mais poética e atenuada que encontrei de mostrar essa disputa, mas poucos se importam mesmo se dando conta disso.

Gosto quando você diz que o sofrimento tem um lado bom. Escrevi um texto ontem para o blog sobre o céu cinza, no qual defendo que o sofrimento quando encontra um sentido, um simbolismo, tem sua razão de ser; Chegando até a valer a pena. Se tiver tempo leia lá. Coloquei algumas curiosidades pra tentar deixar o texto mais interessante.

E as quatro estações, chegando?

No período em que fiz Rita com vocês, eu fiz as estações.

Fiz as duas no mesmo período, uma loucura. Mas isso é só pra te avisar que na turma seguinte ele deu a mesma prova que tinha dado pra mim e eu tinha passado as questões da minha pro X e parece que ele foi muito bem, monitor com elogios...

Não sei se andam repetindo as questões, mas dá uma conferida: vale à pena.

Quanto a adaptação perante o sofrimento, tenho pensado nisso desde que abri esse seu email. Mas me pergunto se a adaptação é mesmo tão benéfica, pois vamos nos adaptando e quando vemos somos outra coisa que não nós mesmos.

É como as pessoas que vão vendendo os seus valores e quando vêem já são outras pessoas.

Não sei existe um limiar talvez que permita a adaptação ser benéfica. Difícil é saber onde esse limiar está.

Pergunto-me a que custa nos tornamos fortes. Pergunto-me se ser forte vale à pena.

Quando penso na história, por exemplo, me encanto com aqueles que não cederam ao meio e lutaram e mesmo morreram por suas crenças, vejo grandes virtudes na "não adaptação".

Assim, como em outras circunstâncias, vejo grandes virtudes na adaptação.

O ser humano é muito mais vasto do que um mero adaptar, mas a gente tenta conceituar pra discutir.

"Na profissão que queremos seguir isso é extremamente necessário, afinal, como poderemos defender nossos pacientes de qualquer ameaça mundana se não defendemos nem a nos mesmos?"

Essa frase irei comentar em uma próxima, às vezes eu penso muito e não concluo nada, risos...

Por vezes me acho indefesa, mas sou forte pra defender os outros. Não sei bem o que se passa, tenho que pensar nisso.

Gosto dos teus emails é como os nossos velhos papos... Fazem-me pensar, e nisso encontro uma alegria.

Obrigada por gostar dos textos, a melhor coisa de ter amigos é isso, ter quem leia e nos entenda. Entenda quem existe por trás dos textos.

Meus trabalhos de cemitério são legais, mostro como o cemitério surgiu e como se perpetua por ser uma medida de saúde pública, mostro como o cemitério pode servir de modelo pra educação médica e como serve de indício pra mostrar algum desenvolvimento no sistema nervoso central. São três artigos. É o meu lado cientista.

Pode responder e ir dando às suas idéias palavras repetidas que eu vou entendendo aqui.

Sei lá, é bom uma amizade assim. Quando estamos perto não ouvimos ao que está conosco, não temos tempo ou animo. Estar longe implica em esforço pra contato, em ouvir.

Acessar as idéias de alguém é estar perto demais dessa pessoa. Pelo menos é assim que eu considero.

Assim que der te escrevo de novo. Essa semana terei uma provinha violenta. Depois te conto como foi.

Boas estações pra você.



Um comentário:

  1. Mayra, continua muito bom o seu blog. Preciso aprender muita coisa com você sobre o gerenciamento dessa geringonça. Criei o meu, que está no endereço http://jarbasdebrito.blogspot.com/
    Abraços,
    Jarbas.

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