terça-feira, 30 de março de 2010

Debate com a turma AB

"Aprender com a experiência dos outros é menos penoso
do que aprender com a própria."
José Saramago


Perguntas elaboradas pela turma AB após a leitura do texto "O outro da Anatomia":


1. Gostaríamos que você comentasse porque a falta de humanização começa na anatomia e não nas outras disciplinas.

1. Após as observações torna-se possível concluir que a falta de humanização não é algo que se instala de forma nítida e concreta, ou mesmo a partir de um determinado momento específico. Não existe um marco a partir do qual um profissional passa a ser desumano.

Eis aí um dos principais problemas. Os profissionais desumanos não são visivelmente diferentes. Não possuem uma placa na testa e podem ter inúmeros comportamentos humanizados.

Um grande dilema da sociedade atual consiste em acreditar que os desonestos, os desumanos, aqueles que erram são seres quase que maléficos. Tal fato não procede, ocorre que tais indivíduos são pessoas muito parecidas com as demais, com os mesmos anseios e medos que todo ser humano tem que carregar e aprende a lidar ao longo da existência.

E assim, nos pequenos detalhes as atitudes desumanas vão aparecendo primeiro em um dia de pressa, segundo em um dia de stress. Então surge a justificativa das dificuldades familiares, das contas para pagar, do transito; E, no final tudo vai se tornando justificável e os absurdos vão sendo instalados como que atitudes normais de uma pessoa sob stress. E os profissionais se acostumam ao absurdo como se fosse o normal e a população reclama, mas se acostuma com o alívio da reclamação que nada resolve.

E, num dado momento quando o olhar foca na realidade e avalia o trabalho oferecido em determinado serviço de saúde aparece a tão mencionada falta de humanização, que não é exatamente de uma pessoa grossa que não gosta de desejar “Bom dia”, mas sim de inúmeros “Bons dias” que vão se calando pela falta de tempo, pelo tamanho da fila, pelas inúmeras vezes que se repediu esse mesmo “Bom dia”; Pelo ar de superficialidade que a cortesia vai tomando ao ser tão repetido, assumindo um tom que lhe confere ares de obrigatoriedade.

Não considero que a anatomia torna ninguém desumano, a boa anatomia, a anatomia bem ensinada torna a pessoa humana. Digo apenas que no trato com o cadáver pode-se prever, pode-se deduzir como será o trato com o ser humano. Isso ocorre por se tratar de uma relação concreta e real que tende a se tornar nítida mediante a atitude desumanizada, de forma que os gestos as respostas e o estudo vão se focando na estrutura e não no outro.

E o outro vai sendo esquecido e a medicina vai sendo abortada. Quando o absurdo é visível ao contemplarmos o óbvio, o cotidiano é a vida que vai mal.


2. Você não acha que é exigente ao cobrar tanta maturidade dos alunos?

2. Resposta cruel e direta: não. Mas vejo fundamento ao realizar uma pergunta dessas. O acadêmico é um adolescente e é preciso um ser formado para assumir tamanha responsabilidade e tamanha autenticidade. Mas quando alguém se dispõe a algo deve desenvolver as características necessárias para se realizar o que foi proposto. Quando alguém se propõe a cuidar do outro tem que conseguir fazê-lo se empenhar de completamente para alcançar o objetivo.

O que observo em grande maioria é uma turma adolescente com valores infantilizados onde é vantagem perder o controle sob efeito de álcool, ou ainda é vantagem e super inteligente não estudar e ir bem. E todos esses valores menores vão substituindo valores fundamentais como a responsabilidade, o comprometimento.

Sei que mesmo para aqueles que se empenham a cobrança é cruel e exige muito, mas não devemos nivelar as turmas e as pessoas pelo que é ínfimo, devemos esperar por mais, pelo melhor que alguém pode ser.

A instituição de ensino tem que embasar e fornecer recursos para ajudar os alunos nessa tarefa de conseguir suprir as necessidades, nesse “dar conta” dessa tão dolorosa missão.

O contexto atual é sugestivo de que as instituições ainda se adéquam para ajudar os alunos a conseguirem a corresponder a tantas cobranças. Não é tirando cobranças ou sendo negligentes que conseguiremos profissionais melhores, é fornecendo embasamento para que os profissionais se tornem melhores que conseguiremos corresponder às verdadeiras demandas da sociedade.

3. Qual seria a sua sugestão de aula para resolver o problema?

3. Essa pergunta toca a sede da fragilidade de todas as discussões, não existe uma postura ou um protocolo de atitudes que façam com que as pessoas se tornem humanizadas ou uma lei que obrigue a medicina a ser efetiva na sua execução. Existem sim posturas, existe empenho, existe uma atenção diária objetivando ser melhor do que se era, um cuidado que é constante contínuo e que exige muito daquele que se compromete a exercê-lo.

Não é uma norma que faz a roda girar, é a boa vontade daquele que emprega a força para mover o que há muito tempo já sabemos como deve ser feito. Mas esse é um trabalho acerca do qual bem poucos se propõem a realizar devido a inúmeras expectativas que se deve corresponder.

Uma boa aula não é apenas aquela bem preparada que consiga apresentar todos os tópicos da disciplina, é aquela ensinada com entusiasmo, assistida com atenção. E o que sabemos são de pessoas que vão responder chamada, pois estão com sono, estão esperando feriado, estão tão insatisfeitas que fazem por obrigação o que deveria ser um prazer.

4. Para você, qual é o objeto de estudo da medicina, o que diferencia o médico de um amigo que escuta?

4. Ao final do texto deveria se concluir como o objeto de estudo da medicina: o outro. Mas o outro em sua completude, em todos os aspectos de sua existência, com o corpóreo, o espiritual, o mental.

O médico não é um amigo que escuta, mesmo por vezes sendo amigo, mesmo por vezes baseando o atendimento na escuta.

A resposta que o médico dá ao paciente deve ser sempre no sentido de ajudá-lo a resolver o que motivou a consulta.

Um amigo diante da apresentação de um problema deve oferecer uma resposta simpática, o médico deve oferecer uma resposta empática, sem assumir para si a dor do paciente e sem ser indiferente. Deve reconhecer a dor, saber que não é sua, mas que deve estar motivado para resolvê-la. Parece bem fácil quando dito, mas a prática de tal teoria é de difícil aplicação.

O médico ainda fornece algo que o amigo pode oferecer ou não que é a certeza de sigilo, procurando não emitir opiniões ou julgamentos, e sim assumindo uma postura ética e de auxílio.


5. Como presidente do "Projeto Humanizarte", o que você acha dos alunos comparecerem ao hospital no primeiro ano?

5. Eu sou ex-presidente do "Projeto Humanizarte" que foi uma experiência de profunda alegria na minha vida. Os alunos chegam com dificuldades de acompanharem o projeto, mas essas dificuldades vão sendo vencidas a cada visita, a cada contato com o paciente.

Acredito que medidas como o projeto são um grande benefício na formação médica, por mostrar o contato com outro. Por facilitar a forma de abordagem. Por reduzir medos.

Porque mesmo que de forma inconsciente todos sabem: “Quando eu vejo o outro o outro também me vê." Quando eu vejo a morbidade do outro, o outro vê as fragilidades da minha alma. Não existe um contato se ambas as partes não se tocam.

O Humanizarte propicia exatamente esse contato e assim permite ao acadêmico mais coragem diante do outro, mais coragem em assumir o que é, inclusive suas limitações.

Certamente eu acredito que algo que me fez ser mais “gente”, também ajudará aos meus colegas.


6. Só alguns estão preparados para irem ao Projeto Humanizarte no primeiro ano, como então mandar todos os alunos para o contato com o outro, logo no início do curso?

6. É algo importante de ser mencionado, porque existe uma seleção efetuada para entrar no projeto, e essa seleção visa escolher os mais aptos, particularmente acredito que todos estão aptos a entrar. Não é escondendo debaixo da cama, debaixo da pouca idade, debaixo da timidez que venceremos nossos limites é indo de encontro a eles e arrumando estratégias para vencê-los que iremos superar as situações. Mas o projeto lida com uma limitação que é mais concreta do que ideológica, é complicado oferecer apoio psicológico, acesso ao ambiente hospitalar, material para as práticas hospitalares, oficinas para sublimar as aptidões artísticas para tantos alunos.

Não importa o momento esse é o tipo de abordagem sempre benéfica desde que estruturada, levada com cuidado e carinho.

Lembro-me bem que no ano em que estava presidente acompanhei os grupos em sua primeira visita. Em um grupo especificamente após a visita de uma paciente de cuidados paliativos (paciente terminal) uma das meninas do grupo se emocionou, saiu acompanhada de outra enquanto continuamos a visita com a paciente, que correu de forma super agradável. Depois da visita, sentamos em uma sala do hospital e discutimos o que havia ocorrido. Esse é o tipo de abordagem que dá estrutura, emocionar-se com alguns fatos é normal, o diferencial do profissional está em exatamente como ele lida com as emoções as quais sente. E só melhora-se a forma de lidar quando essa forma é avaliada e sugestões são feitas e acrescidas de forma a incorporar novas ações na relação.


7. Você considera que a expressão "cegos conduzindo cegos" usada no texto é uma generalização? Exatamente a que essa expressão se refere?

7. Certamente é uma expressão muito carregada, e eu gosto disso, porque faz com que as pessoas levem aquele choque que nos chama a refletir.

Os professores são cegos, conduzindo seus alunos que são os segundos cegos da sentença.

É forte e algo que pode ser facilmente mal interpretado, mas que eu vi a necessidade de colocar para chamar a atenção para algo que é jogado para debaixo dos tapetes da educação médica, para algo que é pouco discutido e cruelmente omitido da maioria dos debates.

O fato é que no Brasil, até o atual momento, existem mestrados aos quais os professores devem passar para ensinar em universidades. A grande realidade é que nem todos aqueles que lecionam em universidades médicas tem esse tipo de formação ou qualquer outro tipo de formação direcionada a ensinar medicina.

O que existem são médicos dando aula, médicos tentando fazer médicos. Cegos conduzindo cegos. Não por não conhecerem o caminho. Isso pelos próprios anos sucessivos de atendimento eles sabem. Estão a muitos anos nesse caminho, e por isso o conhecem. Mas não aprenderam a conduzir. E por vezes induzem e por vezes fazem cobranças pouco didáticas.

A sentença não visa culpar ou mesmo julgar, admiro imensamente os professores só pela coragem de se proporem a ensinar, mas são pessoas que tentam dar algo que sequer receberam, a formação desses mestres no quesito didática está longe de ter sido a ideal e então eles tem que se adaptar a mudança da época, as tecnologias, o que já exige um grande esforço.

Com tantas mudanças a serem incorporadas, a didática continua a mesma, pois pouco tempo é destinado a esse campo.

Mudar isse ponto não só é difícil pela falta de recursos, formação e tempo para a atualização, mas também pelo golpe que isso é na vaidade individual, pois fornecer uma formação diferente da que foi recebida é assumir que de certa forma não foi recebido o melhor que poderia ter sido recebido.

Concluo, portanto, que é uma generalização, que é cruel e que pode ser mal interpretada, mas creio que por chocar faz refletir, e é algo acerca do qual eu adoraria que as pessoas refletissem muito.


8. Como melhorar para não deixar cegos conduzindo cegos?

8. Um começo poderia ser exigir mais do curriculum dos professores. Outra saída pode ser propor uma formação específica no país para quem deseja ensinar medicina, porque ensinar medicina e praticar medicina são atos distintos. Como é perceptível, existe muito trabalho a ser feito.


9. Exite uma falta preparo para lidar com o processo natural como a morte, você acha que existe alguma medida para lidar com isso?

9. A falta de preparo é algo que existe e pode ser percebida em pequenos detalhes no hospital. Como por exemplo, no fato de ninguém querer dar a notícia de óbito para os familiares. Algumas situações são mesmo delicadas. Mas o profissional deve estar preparado para enfrentá-las e resolve-las da melhor forma possível.

Creio que a melhor medida para ser efetivo nesse trato com a morte é conhecer o tema, saber das formas com que as civilizações lidaram com ele até a atualidade, trabalhar os conceitos particulares para estruturar melhor essas idéias na vida individual e particular de modo a transmitir isso para o paciente.


10. Você acha que deveria existir uma especialização para lidar com a morte e o morrer?

10. Essa é uma proposta principalmente no campo da residência em paliativismo. Mas minha opinião particular é que se deve estruturar a formação em medicina oferecendo recursos para que todo médico possa oferecer esse tipo de cuidado tão necessário. Por vezes, oferecer um serviço especializado em uma área de difícil indicação é como deixar que apenas os casos de grande gravidade tenham acesso ao tratamento.

É corroborar mais ainda para a burocratização e redução da eficiência do serviço de saúde.

Talvez a especialização possa melhorar esse quesito, mas a resolução dessa dificuldade em tratar a morte e o morrer só terá melhora significativa quando se investir nesse tema na formação de todos os profissionais, na formação da graduação e não apenas na pós-graduação, na especialização e assim por diante.

Debate

"No regime democrático, todo partido devota todas as
energias para demonstrar que os demais partidos
não têm competência para governar.
E todos eles estão certos".
Henry Louis Mencken



Aconteceu nos dias quinze e dezoito de março respectivamente um debate durante as aulas da disciplina de português da Faculdade de Medicina de Itajubá mediado pela professora titular da disciplina Ana Cristina.
O tema foi o texto de autoria de Mayra Lopes "O outro da anatomia" publicado no blog.

As partes envolvidas no debate foram: a autora e a turma de alunos que cursam a disciplina.

Ocorreu da seguinte forma: em semanas prévias ao debate a professora orientou aos alunos que efetuassem a leitura do artigo especificado.

Após a leitura os mesmos se agruparam e levantaram questionamentos, críticas e considerações acerca da obra.

Todas as colocações foram registradas e lidas para a classe durante a aula seguinte, enquanto eram submetidas a apreciação da professora e dos demais grupos.

Após a seleção das melhores questões aconteceu o debate em que os alunos leram suas questões posteriormente comentadas e respondidas pela autora.
Mais do que atingir um objetivo, fechar uma idéia ou emitir uma conclusão, o objetivo do encontro foi favorecer o senso crítico, a capacidade de análise, propiciando avaliar uma premissa sob diversas perspectivas.
Somente com capacidade de análise e raciocínio crítico acerca da formação médica, das condições de trabalho no serviço saúde e da saúde de forma completa considerando interferências das políticas governamentais é que haverá possibilidade de se propor e efetuar futuras reformas para melhorar a saúde e seus indicadores no país.
As mudanças concretas se erguem a partir de ideologias bem estruturadas.



terça-feira, 23 de março de 2010

O envelhecer, a solidão humana e a espiritualidade

"Uma mulher de cem anos foi abordada com a
pergunta sobre o que ela fizera de sua vida.
Ela então respondeu:
'Ainda não posso lhe dizer.
Estou viva e continuo a fazer minha vida'."
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Envelhecimento facilmente definido como ato ou efeito de envelhecer consiste em uma circunstância natural da existência humana que causa certo medo e desconforto social na atualidade. As estatísticas mostram que as populações mundial está envelhecendo, que a taxa de natalidade sofreu decrécimo nas ultimas décadas e que a tendência mundial é caminhar rumo a senelidade.
Alguns questionamentos surgem diante da realidade descrita, o primeiro deles é em relação ao medo descabido que as pessoas apresentam frente ao envelhecer, um medo que se manifesta de forma sutil em uma simples recusa corriqueira em relatar a idade ou ainda de formas mais efetivas como inúmeros procedimentos de cirurgia plástica a que as pessoas se submetem para evitar as marcas do envelhecimento.
Esse medo que a princípio chega a parecer descabido tem seus fundamentos, pois, o envelhecimento nos seres vivos de um modo geral consiste no desgaste do corpo depois de atingida a idade adulta. Esse desgaste pode remeter a idéia de um fim, ou ainda de que o fim está próximo, idéias que são difíceis de lidar uma vez que o inconsciente humano não concebe o conceito de finitude, mas sim o de transformação. A finitude gera um conflito mental, e, para lidar com esse conflito de forma saudável faz-se necessário reconhece-lo, refletir sobre as imposições obrigatórias advindas dele para então arrumar formas menos danosas para lidar com tais imposições.
A experiência prazeirosa do viver não depende apenas da satisfação de todas as vontades e desejos, mas sim da forma com que o indivíduo encara os limites impostos pela realidade. A maneira de experimentar a realidade é o fundamental.
E, a realidade do envelhecimento é permeada de novos e pequenos limites que surgem a cada dia. É uma realidade diante da qual faz-se difícil a adaptação, por remeter ao limite absoluto que é o da finitude da existência. O limite do fim pode surgir na conscientização do fim da própria existência ou ainda do fim da existência dos que são próximos.
Tal quadro deixa o sujeito vulnerável a grande solidão humana, uma solidão que pode ser util para desenvolvimento da imaginação, ou prejudicial gerando tristeza e problemas neuropsiquicos. Uma solidão que existe desde o nascimento, afinal, por mais acompanhado que se possa estar, nunca se transmitirá uma sensação, um sentimento de modo absoluto como o ser o sentiu. A expressão é sempre é uma percepção de uma experiência, um relato que nunca é fidedigno ao absoluto, uma vez que cada ser é singular, ou seja, único.
No decorrer da vida surgem e se vão pessoas diferentes que até tentam entender as perspectivas umas das outras, mas nenhuma acompanhará a outra sempre. Quando há um ferimento, só o ferido pode saber exatamente como é a dor mesmo sendo capaz de descrevê-la somente o ferido pode senti-la. A experiência é transmitida de certo modo, mas não transferida de modo integral.
Essa solidão das sensações é uma forma de isolamento: nasce-se só, vive-se entre outros e morre-se individualmente. Esse mecanismo faz com que as pessoas busquem uma conexão com algo que é maior que a efemeridade da própria existência e assim surge uma busca pela espiritualidade, algo tão comum entre os idosos.
É dito popularmente que "um ignorante aos cem anos é só um velho ignorante", esse dito tenta legitimar que a idade não acresceta obrigatoriamente valores. Mas há de se considerar que as experiências quando bem vividas e sublimadas transformam os sujeitos, numa ascese (exercício espiritual).
Em busca de uma transformação que ajude a estruturar os alicerces da alma muitos procuram a espiritualidade.
A espiritualidade é uma transformação constante e cotidiana que busca fazer com que o bom se torne ainda melhor. A grande maioria encontra a espiritualidade na religiosidade, mas ela pode se desenvolver por outros caminhos, como o estudo de filosofias, literatura, contemplação obras artísticas, dentre outras.
A religiosidade possui algumas peculiaridades fundamentadas pela teologia, pois, segundo o teólogo Mircea Elíade para estruturar uma religião precisa-se ter um mito (uma história acerca da qual o homem se ligue novamente ao divino), um rito (uma forma de expressar esse elo) e um símbolo (uma representação daquilo que não pode ser representado em absoluto). Por tão significativa estruturação a religiosidade é um caminho através do qual muitos idosos conseguem atingir um exercício de espiritualidade, se ligando a uma comunidade, fazendo trabalhos filantrópicos e afastando-se de um pouco da solidão, pois, uma vez que todos são filhos de Deus, de um Criador, ou uma Força Maior, pode-se concluir que todos são irmãos. E, aqueles que têm irmãos, tem alguém sempre ao lado, alguém para ajudar, alguém que também fornece ajuda e alento.
Ainda há o fato de que ao projetar uma vida no pós-morte com conceitos como o de eternidade, paraíso, outra encarnação e muitos outros, consegue-se aliviar o conflito gerado pela idéia de finitude absoluta.
Não cabe ao profissional de saúde, ao familiar ou a qualquer outro cuidador, julgar se a espiritualidade que aflora no idoso é um alento, se é verdadeira ou a ideal a ser vivida.
Faz-se necessário entender que a vida já possui sofrimentos sufucientemente significativos, sofrimentos diários, limites contínuos que em determinadas situações se agudizam, e que a entrega a uma experimentação da espiritualidade, da contemplação da existência ajudam a lidar com tudo isso de forma a superar as mazelas intrínsecas ao processo de envelhecer.
Cecília Meireles, no poema "Retrato", explicita esse processo: "Eu não tinha esse rosto de hoje,/ assim calmo, assim triste, assim magro,/ nem estes olhos tão vazios,/ nem o lábio amargo./ Eu não tinha essa mãos sem força,/ tão paradas e frias e mortas;/ eu não tinha esse coração/ que nem se mostra./ Eu não dei por esta mudança,/ tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida minha face?"
Só com o entendimento da espiritualidade como agente transformador do ser é que se torna possível aceitar as mudanças que os anos impõem. Pode-se lidar de forma saudável com a senilidade, reconhecendo nas muitas fisionomias das diferentes faixas etárias a própria face. A espiritualidade permite o reconhecimento do que é imutável no ser (dons conferidos pelo Criador à suas criaturas); Por entender que os agentes que sofrem transformação são os valores efêmeros, as representações; Por propiciar ao humano a possibilidade de se tornar a própria mudança que sonha em ver no mundo.
Nas palavras de Mahatma Gandhi: "A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita."
A alegria está na vida, esse constante envelhecer.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Entrevista Clínica

"Saudade é o amor que fica".
Brandão

1- Ambiente (posicionamento)

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2- Acolhimento

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3- Identificação

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Nome -> iniciais/ senhor X / completo = prontuário
Idade -> anos = adulto / meses = criança / data nasc.
Gênero -> F ou M
Grupo étnico -> branco / pardo / negro / indígena / amarelo
Estado Civil -> acompanhado ou desacompanhado
Profissão / ocupação -> médico / professor
Situação previdenciária -> aposentado / trabalhando
Naturalidade / Nacionalidade -> cidade / país
Procedência -> local da residência fixa
Outros locais -> tempo de permanência (cronológica) dados de doenças endêmicas
Religião -> crença
Escolaridade -> receita e orientação
Encaminhado -> história no sistema

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4- Fidedignidade
Quem informou
Onde
Quando
Informação merece crédito

5- Queixa Principal (Primeira Pergunta Propciatória)
POR QUE O SENHOR ESTÁ ME PROCURANDO HOJE?
Queixa principal: “palavra do paciente” + duração

6- Fala livre (pauta inicial)
RELATO ESPONTÂNEO
E aí?
Que mais?
Hum...

7- História da Doença Atual (história fisiológica)
História Pregressa da Moléstia Atual

Questionamento Dirigido
QUANTIDADE (intensidade)
LOCALIZAÇÃO
QUALIDADE (tipo)
CIRCUSNTÂNCIA (desencadeante)
AGRAVANTE
CRONOLOGIA (quando e como)
ATENUANTE
PERIODICIDADE (duração)
POSITIVIDADE E NEGATIVIDADE

Obs = Aguda ou sub-aguda: história curta
Crônica: longa e detalhada

8- Questionamento Geral (pauta do médico)
ISDA (Interrogatório Sobre Diversos Aparelhos)
Revisão de sistemas (não prevista para todos)

Acontecendo
Tem tido / Tem sentido / Costuma sentir?

9- História Mórbida Pregressa
DIP- Doenças Próprias da Infância
Alergias
Intervenções Hospitalares (cronológica – motivo, tempo de hospitalização)
Dentição
Traumas (fraturas), acidentes
Intervenções cirúrgicas

*Mulher
Menarca
Menopausa(reposição hormonal, tempo)
Ciclo menstrual:regular ou irregular
Idade fértil: vida sexual– ativa ou inativa,freqüência,no de parceiros
Métodos contraceptivos e preservativo
Gesta – gestação (natimorto)
Pára – nascidos vivos (tipo de parto)
Aborto – espontâneo ou provocado

*Homem
Vida sexual – ativa ou inativa, freqüência, no de parceiras
Uso de preservativos

10- História Mórbida Familiar (Segunda Pergunta Propciatória)
NA CASA DO SENHOR(A), MORA VOCÊ E MAIS QUEM?

Doença hereditária – progenitores, avós, irmãos
Doenças de cunho íntimo - cônjuge
Idade dos óbitos e causa;
Neoplasias (identificar órgão primário)

Obs – neoplasia, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência coronariana, asma brônquica, anomalia congênita, depressão, tuberculose.

11- Levantamento de Medicações:
Nome genérico (perguntar o pq)
Dose
Tempo de uso
Periodicidade
Alergias


12- História Fisiológica e Social do Doente

Tabagismo = no 24hs X tempo total do hábito (anos) anos maço
..................................................20..................................... pack year

Hábitos = prevenção (exercícios)

Álcool = quantidade, periodicidade, tipo de bebida (teor alcoólico), tempo de uso.

C cup down .........Já tentou parar de beber
A annoyed ..........Se aborrece quando lhe falam para parar
G guilty ...............Se sente culpado por beber
E eye opener ......Tem que beber de manhã

Drogas Ilícitas = tipo, quantidade (tempo de uso), via de administração (cocaína - inala, injeta).

Uso: anorexígenos e ansiolíticos???

Vida social: ativo ou recluso???
Moradia: esgoto, água, habitação, no de pessoas, no de cômodos.
Higiene: lava as mãos antes das refeições, banho/dia, oral, alimentar (lava frutas?)

Animais Domésticos:
Papagaio – pitacose
Tartaruga - salmonelose
Pombo - ciptococose
Gatos - toxoplasmose
Galinhas - histoplasmose

Ambiente de trabalho: características
Viagens: peridiocidade (áreas endêmicas)

13- Terceira Pergunta Propciatória:
TEM MAIS ALGUMA COISA QUE VOCÊ GOSTARIA DE ME FALAR QUE NÃO FOI ABORDADO?

14- Retorno
Quarta Pergunta Propciatória:
DESDE QUANDO NOS VIMOS, ATÉ HOJE, ACONTECEU ALGUMA NOVIDADE QUE EU DEVA SABER?