quarta-feira, 14 de julho de 2010

Olha prôce vê...

"A cura está ligada ao tempo e as vezes também às circunstãncias."
Hipócrates.


Atendimento de Hipócrates

O compromisso ético das escolas médicas com seus alunos

Prof. Dr. Antonio Carlos Lopes

Professor Titular da Disciplina de Clínica Médica da UNIFESP – EPM, Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Fellow of the American College of Physicians

A criação indiscriminada de escolas médicas, com freqüência interessadas muito mais na obtenção de lucro do que no cumprimento de suas responsabilidades pedagógicas, produz um efeito colateral altamente preocupante: muitas dessas escolas mantêm um compromisso pouco ético com seus alunos, reduzindo uma convivência que deveria se fundamentar pelo desejo comum de uma formação adequada a uma simples relação comercial entre clientes (alunos) e fornecedores (a instituição).

Não se trata de uma regra geral, mas essa distorção ocorre com uma freqüência que pode comprometer o processo de formação de uma parte considerável de médicos egressos dessas escolas e, conseqüentemente, produzir um forte impacto negativo na prestação de um serviço fundamental para a sociedade.

Há notícias, por exemplo, de faculdades que menosprezam a importância da titulação universitária tanto para seu corpo diretivo quanto para os docentes, o que compromete a qualidade e atualização do conhecimento transmitido aos alunos. Também é comum nessas escolas que estudantes dedicados, que procuram obter numa escola médica a qualificação a que têm direito, sejam tratados como potenciais ameaças. Por conta dessa interpretação distorcida, os alunos mais interessados costumam ser desmotivados, discriminados e, até mesmo, perseguidos como se fossem inimigos declarados. Essas instituições não têm interesse de manter estudantes competentes, pois temem que eles desmascarem a sua própria incompetência. Em contrapartida, alunos passivos e especialmente familiares dos dirigentes são tratados de maneira diferenciada, desde o ingresso por meio de vestibulares duvidosos até a realização de provas com questões previamente conhecidas.

A ausência de um compromisso ético também leva à construção de uma barreira entre a direção da instituição e seus alunos. O diálogo, o espírito crítico e o questionamento, consagrados pressupostos que alimentam a transmissão do saber e fazem parte da boa universidade, simplesmente inexistem, numa atitude típica dos que praticam o abuso de poder. E os alunos indesejáveis acabam vítimas de punições motivadas por razões vagas, são "condenados" sem direito à defesa e têm seus nomes expostos publicamente, como se fossem perigosos criminosos. Ou seja, essas instituições, erroneamente denominadas escolas médicas, agem pautadas pelo autoritarismo, em sua versão mais abominável e perversa.

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