quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Holmes e House

"E eu sou um cérebro, Watson, o resto de mim é um mero apêndice. Assim, é o cérebro que devo considerar" A Pedra Mazarino

Sherlock Holmes é um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle.
Sherlock viveu em Londres, num apartamento na 221b Baker Street, entre os anos 1881 e 1903, durante o último período da época Victoriana. Atualmente o endereço é um museu dedicado ao personagem.
Holmes é um investigador do final do século XIX e início do século XX que aparece pela primeira vez no romance 'A Study in Scarlet' editado e publicado originalmente pela revista Beeton's Christmas Annual, em Novembro de 1887.
A sua especialidade é resolver enigmas singulares, que deixam a polícia desnorteada, usando a sua extrema faculdade de observação e dedução.
Sherlock Holmes ficou famoso por utilizar, na resolução dos seus mistérios, o método científico e a lógica dedutiva.
Sir Arthur Conan Doyle, o autor, fornece-nos informações esparsas sobre Holmes ao longo das suas diversas histórias. A cada obra descobre-se uma nova e inesperada faceta do célebre detetive: fatos sobre a sua vida, família, manias, amigos e inimigos, as suas ansiedades, a sua própria personalidade.
Tudo o que se sabe sobre Sherlock Holmes foi retirado do conjunto dos livros onde é personagem, assim, o conjunto destes livros chama-se 'Cânone Sherlockiano'.
Para a contrução do personagem Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle inspirou-se no Dr. Joseph Bell, que foi seu professor em 1877 na Universidade de Edimburgo no curso de medicina.
Bell reconhecia os hábitos de um sujeito ao observá-lo e realizar sucessivas deduções, exatamente como o personagem Sherlock. Enquanto cirurgião era exímio, mas sua característica mais peculiar era a realização de diagnósticos a partir da lógica.
Doyle, enquanto aluno encantado com o mestre, criou o personagem que incorporou as caractéristicas dedutivas do professor bem como o seu porte físico.
O trecho transcrito abaixo que consta da descrição de Bell segundo Doyle, impressa no periódico 'The National Weekly', datada de 1923, na qual constata-se: "Era magro, vigoroso, com um rosto agudo, nariz aqulino, olhos cinzentos e penetrantes, ombros retos e um jeito sacudido de andar. A voz era esganiçada. Era um cirurgião muito capaz, mas seu ponto forte era a diagnose, não só de doenças, mas de ocupação e caráteres."
Holmes demonstra, ao longo das suas histórias, um senso de observação singular, embasado em uma cultura geral de proporções significativas.
Holmes costuma ser uma pessoa arrogante, que está correta sobre inúmeros assuntos e com palpites certeiros.
A primeira amostra de sua exatidão é descrita em 'Um Estudo em Vermelho'. no qual Doyle descreve um personagem como uma pessoa sem defeitos, apesar de Holmes apresentar alguns: adora fumar cachimbo e usa frequentemente a cocaína para estimular as suas faculdades intelectuais ou matar o tédio entre um problema e outro.
A cocaína era uma substância lícita na época, passando a ser ilícita a partir de 1930. Sendo assim, os 'defeitos' descritos apresentam uma atenuação significativa.
A detreminação do detetive era sagaz, quando envolvido em um caso passava noites sem dormir ou comer, o que inquietava o seu zeloso amigo Watson.
Ao longo de todo o Cânone, o leitor pode comprovar o descrédito e o desgosto de Holmes pelas mulheres e pelo casamento, o que permitia a sua dedicação integral à investigação.
Em 'O Signo dos Quatro', lê-se: "Nunca se pode confiar demasiado nas mulheres... nem nas melhores delas." Já em 'O Vale do Terror': "Eu não sou um fanático admirador da espécie feminina." E finalmente, em 'O Cliente Ilustre' culmina: "O Coração e a mente de uma mulher são enigmas insolúveis para o homem."
A capacidade artística de Sherlock era evidenciada no violino, na esgrima, no disfarce, pois lê-se em 'Um Escândalo na Boêmia': "não era uma mera mudança de roupa - sua expressão, suas maneiras, até sua própria alma parecia variar com cada nova porção que ele assumia. O teatro perdeu um grande ator, assim como a ciência perdeu um perspicaz estudioso, quando ele se tornou um especialista em crimes".
Além do aspecto erudito, não demonstra muitos traços de sentimentalismo, preferindo o lado racional de ser. Apesar disso, em alguns contos o Dr. Watson diz que a "máscara gelada" de Holmes cai às vezes, dando mais humanidade a sir Sherlock Holmes.
Um personagem inspirado em Sherlock Holmes é Gregory House, da série 'House M.D.', chefe da ala de diagnósticos que utiliza lógica dedutiva para desvendar as mentiras de seus pacientes; House tem como premissa: "Todo mundo mente".
As similitudes entre Holmes e House são muitas:
House também é viciado, em medicamentos para dor.
House também tem gosto pela música.
House também mora no número 221.
Ambos são solitários.
Ambos têem um amigo fiel (Wilson e Watson)
Ambos fazem testes e exames laboratoriais para embasar suas investigações.
O homem que atirou em House se chama Moriarty.
O grande inimigo de Holmes, também dotado de extraordinárias faculdades intelectuais, é o professor Moriarty. E, em 4 de maio de 1911, após uma luta feroz, Holmes e Moriarty desaparecem nas cataratas de Reichenbach, perto de Meiringen, na Suíça , na obra 'The Adventure of the Final Problem'.
Era para ser o fim de Homes, mas, os protestos dos leitores foram tantos, que Doyle foi obrigado a ressuscitar o herói após esse verdadeiro assassinato. Holmes acaba reaparecendo no conto 'The Adventure of the Empty House', com a engenhosa explicação que somente Moriarty havia caído, e como Holmes tinha outros perigosos inimigos, ele havia simulado sua morte para poder investigá-los melhor.
E depois do reaparecimento de Holmes em 'The Adventure of the Empty House', Homes reaparece reescrito na atualidade, agora, na figura de Gregory House.
Na ficcção, Holmes morre em 1957, aos 103 anos, assassinado dentro de seu apartamento na 221b em Londres. O personagem morreu, mas seu modelo perdura, e o sucesso também.
O modelo ligado à investigação sempre fez e fará sucesso, desde que bem estruturado, pois prende o intelecto de quem lê na busca por respostas, no caminho do mistério. E agora, a televisão descobriu tal molde e o incorporou ao seriado médico.
O formato volta a vender milhões, mas não em edições e sim em temporadas.
Muitos sequer se dão conta disso: de que a fórmula do sucesso de 'House' remete ao período Vitoriano, remete-nos ao eterno 'Holmes'.
"Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais." Será que os fãs de Holmes e House não havia percebido? Afinal, é tão: "Elementar, meu caro Watson".

REFERÊNCIAS:
1. The Ultimate Sherlock Holmes Encyclopedia, Jack Tracy, Gramercy Books; Encyclopedia Sherlockiana, Matthew E. Bunson, Macmillan.
2. The Sherlock Holmes Society of London. "The wide world fo Sherlock Holmes". Número 307. 25/10/2010.
3. http://www.siracd.com/work_bell.shtml



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Historicidade dos Seriados Médicos

"Acho a televisão muito educativa.
Toda as vezes que alguém liga o aparelho,
vou para outra sala e leio um livro."
Groucho Marx
A medicina influência de forma direta ou indireta a vida de todos os indivíduos independente de fatores econômicos, sociais ou ideológicos. A saúde é um bem comum, ou pelo menos deveria ser. E, sendo assim, por permear significativamente a vida das pessoas, a medicina se tornou temática dos seriados, tendendo a seguir a linha do drama possuindo episódios com duração de aproximadamente uma hora, cujo cenário é o ambiente hospitalar ou similar.
Tais séries tiveram inicio e popularizaram-se na década de 60 difundindo-se pelo globo e possuindo como expoente brasileiro o seriado 'Mulher' da rede Globo.
Com tal especialização dos seriados gerou-se um padrão com características semelhantes e questionamentos éticos importantes acerca da prática médica: médicos viciados em drogas, viciados em trabalho, conflito de plantonistas, doenças graves...
O formato foi sendo mais elaborado, estruturado, e passou a se tratar da vida pessoal dos médicos: sua família, relacionamentos fora do hospital... Até demonstrar que a vida pessoal e trabalho se misturam, com conotações reais e com conotações éticas quando a abordagem é relacionamentos entre profissionais de saúde, muito retratado nas séries ER e Grey's Anatomy.
O formato fez tanto sucesso que consolidou um público fiel. O gênero seriado médico gerou subgeneros. Sendo eles:
Novela como em 'General Hospital', 'Grey's Anatomy' e 'Private Prativce'.
Comédia em Scrubs, E/R. Drama e ação em ER.
Policiais investigativos como em 'House, M. D. e Medical Investigation.
Reality show, com o 'Dr.90210'.
As críticas a esses formatos são proporcionais a audiência de valores meteóricos atingida. Sensacionalismo, exagero e vulgaridade estão em uma das faces da moeda. Mas, para uma discussão mais acurada faz-se necessário a compreensão das causas de surgimento e dos objetivos das séries televisivas.
A que interesses fundamentais servem?
E, posteriormente, deve-se buscar entender a históricidade dos seriados para atingir a compreensão e a evolução dos conceitos e dos valores morais e éticos que permeiam a produção de tantos episódios.
A primeira série expressiva é a britânica 'Emergency Ward 10' e tem a história de seu lançamento permeada de acaso, uma história curiosa. Seu formato foi fruto de uma ordem incompreendida. Em 1957, Tessa Diamond procurava algo que pudesse gerar um novo programa quando seu agente sugeriu 'uma série sobre o dia-a-dia do hospital'. A idéia dele era referente a um documentário, mas Tessa entendeu que ele sugeria um drama baseado na rotina hospitalar, e foi assim que tudo começou e culminou em sucesso.
Algumas das séries posteriores foram planejadas para curta duração de seis semanas, mas a fidelidade do público foi alongando a duração das séries que foram passando de episódios para temporadas e temporadas de longa duração.
Sendo assim, há de se ter uma noção das séries de sucesso na temporalidade:

1. 'Emergency Ward 10'
Foi a primeira telenovela britânica a se passar num local de trabalho. Ficou no ar de 1957 até 1967 mostrava dramas pessoais e o trabalho de médicos e enfermeiros. Sendo cancelada em 1967 por Lew Grade, que posteriormente adimitiu que esse foi o maior erro de sua carreira. A série foi cancelada, mas a fórmula perdura atualmente.

2. 'Dr. Kildare'
Estreou em 1961, durando 5 temporadas, tem como protagonista o interno Dr. James Kildare que se envolve emocionalmente com os casos de seus pacientes. A temática é inserida no primeiro episódio quando Gillespie diz a Kildare: "Nosso trabalho é mater as pessoas vivas, não dizer a elas como viver". Kildare ignora o aviso gerando assim o conflito central da série. O cenário é o hospital Blair General.

3. 'Bem Casey'
Seriado americano exibido de 1961 a 1966, narra a história de um neurocirurgião. Recebeu consultoria de produção do médico Dr. Joseph Ransohoff. Virou filme em 1988.

4. 'General Hospital'
Estreou em 1963 e encontra-se no ar até os dias atuais, tendo 47 anos de exibição e mais de 12.000 episódios.

5. 'Marcus Welby, M. D.'
Estreou em 1969 permanecendo até 1976. Trata da história de médicos do Hospital Lang Memorial que entravam em conflito, no qual Dr. Welby era médico particular com métodos não ortodoxos de tratamento em antagonismo com Dr. Kiley, mais jovem e defensor de tratamentos tradicionais.

6. 'Mobile Army Surgical Hospitalar'
O 'Hospital Cirúrgico Móvel do Exército' estreou em 1973 permanecendo até 1983, sendo baseado em um filme de 1970. Narra de forma cômica as aventuras de médicos do exército na Guerra da Coréia. O episódio final bateu record histórico de audiência.

7. 'Doogie Howser, M. D.'
'Tal pai, tal filho' foi exibido de 1989 até 1993. Trata da história de um adolescente prodígio que se tornou médico aos catorze anos de idade, mostrando as dificuldades de conciliar as mudanças da adolescencia com a vida profissional.

8. 'Dra. Quinn'
A mulher que cura foi exibido de 1993 até 1998. Seu diferencial consiste no fato de ser um seriado de época, cujo cenário é o velho-oeste americano. Trata de questões éticas de modo a demonstrar a sua atemporalidade, tais como o preconceito racial e a homofobia. Gerou dois filmes.

9. 'Chicago Hope'
Exibido de 1994 até 2000. O grande sucesso de ER prejudicou seu sucesso apesar de ser bem aceito pela crítica.

10. 'Emergency Room'
Lançado em 1994, esteve no ar por quinze anos, tendo sido criado por Michael Crichton (autor de Jurassic Parck). Mistura a vida profissional permeada por dramas pessoais.

11. 'Scrubs'
Estreou em 2001 e ainda permanece no ar. Seu subgênero é a comédia e seus personagens caricatos e as imaginações do protagonista absurdas. Possui metalinguagem, pois, por vezes, cita seriados médicos, em especial 'Gray's Anatomy'.

12. 'Nip/Tuck'
Estreou em 2003 permanecendo no ar até 2010. Os protagonistas são donos de uma clínica de cirurgia plástica em Miami. É um misto de sexo, culto à vaidade e traição. Seu diferencial significativo consisyte no fato de mostrar procedimentos cirurgicos de diferentes graus de complexidade.

13. 'House'
Dr. Gregory House diagnostica casos médicos atípicos e com caracter de menor índice de incidência, raros. Se assemelha com Sherlock Holmes, mas com alguns traços de personalidade que trazem a tona a questão da relação médico-paciente e grandes dilemas éticos. Dr. House, por natureza é anti-social, solitário e revoltado apesar de efetivo na investigação diagnóstica.

14. 'Grey's Anatomy'
Iniciado em 2005, se passa no Hospital Grace cuja protagonista é a Dra Meredith Grey e existe uma analogia ao sobrenome da protagonista e o tratado de anatomia escrito por Henry Gray escrito em 1958. A trilha sonora é peculiar e o nome dos episódios são títulos musicais.

15. 'Private Practice'
Lançado em 2007 é um sub-produto , pois originou-se de 'Gray's Anatomy. Conta a história da cirurgiã neonatal do Seattle Grace, a Dra. Addison Montegomery.

16. 'Hawthorne'
Lançado em 2009. Seriado focado no serviço da enfermagem, sob o prisma da visão da enfermeira chefe do hospital.

17. 'Royal Pains'
Lançado em 2009. O protagonista Dr. Hank Lawson realiza atendimentos particulares para pessoas abastadas, após ter sido demitido do hospital. Atende também quem precisa do seu auxílio mas não pode pagar.

18. 'Mercy'
Lançado em 2009. Se passa no Mercy Hospital e tem como protagonista Veronica que serviu ao exército durante a Guerra do Iraque e tem uma série de traumas. É focado na vida da enfermagem e em seus dramas pessoais.

19. 'Trauma'
Cancelado após sua primeira temporada em 2009. Foca na vida de paramédicos, sendo o protagonista o piloto do helicóptero dos paramédicos que sobreviveu a colisão de helicópteros.

20. 'Three Rivers'
Cancelado após a primeira temporada em 2009. As histórias mostram a rotina de uma central de transplantes, elucidando passo-a-passo, desde a morte de doadores, a negociação do órgão com familiares, e o alívio daqueles que recebem.

21. 'Miami Medical'
Exibido em 2010. Retrata a rotina de médicos que trabalham em uma clínica especializada em traumas. O protagonista é o Dr. Matthew Proctor que havia trabalhado na guerra do Golfo.

22. 'Mulher'
Dirigida por Daniel Filho com Eva Vilma e Patrícia Pilar de protagonistas.

23. 'Dr. 90210'
Seu sub-gênero é o reality show. Mostra o cotidiano do brasileiro Robert Rey, um dos melhores e mais populares cirurgiões de Beverly Hills, cujo código postal ele toma emprestado para dar título à série. Foi inspirado no seriado 'Nip/Tuck'. É transmitido aos domingos na Rede Tv e sob o título de 'Dr. Hollywood'.

24. Existem ainda exemplos da série em outros países:

A. 'Casualty'
Lançado em seis de setembro de 1986. Foi produzido no Reino Unido pela BBC e consiste na série que está mais tempo no ar em todo o mundo, estando na 23a temporada. A história de médicos e enfermeiros se passa na fictícia cidade de Holby City.

B. 'Holby City'
Lançado em doze de janeiro de 1999. Aborda cirurgiões e enfermeiros da ala de cirurgia do Holby City Hospital.

C. 'Hospital Central'
Lançado na Espanha e exibido também em Portugal. Assemellha-se a uma novela. Seu ápice de sucesso foi de 2000 a 2004. A série declinou após colocar um casal homosexual como protagonista.

25. 'Séries'
Independente da série escolhida e das preferências individuais, de modo geral, o modelo encanta o público, faz sucesso e perdura. Mas o telespectador tem que ter consciência da existência de interesses comerciais e da manipulação realizada por intermédio das mensagens subliminares ali existentes.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A Televisão e o Seriado

"Vocês querem bacalhau?"

Chacrinha

Televisão palavra derivada do grego e do latim. Em grego"Tele"significa distante, e em latim “Visione” significa visão. O Dia da televisão é comemorado sempre em 11 de agosto, dia do nascimento de Santa Clara, sua padroeira.

A primeira transmissão televisiva foi em 26 de fevereiro de 1926, realizada pelo escocês John Baird, o pai da TV. Desde então, assumiu um status que a coloca para além do título de veiculo de comunicação.

Encontra-se vinculada à ciência desde as suas origens, pois a primeira transmissão televisiva foi um modelo mecânico de TV para audiência de cientistas da Academia de Ciências Britânicas, em Londres, na Inglaterra. Em seus primórdios mostrou aos cientistas um modelo mecânico e hoje permite a distribuição de descobertas científicas para a população em geral.

Foi o paraibano Francisco de A. Chateaubriand B. de Melo, que em 5/10/1892 trouxe a televisão para o Brasil. Ele era o proprietário da empresa de comunicação “Diários Associados”, um aglomerado de comunicação que abrangia jornais e rádio.

Mas, foi somente em 18 /09/1950 que foi inaugurada a TV Tupi, em São Paulo.

A televisão no Brasil passou por testes e pré-estréias, com a primeira transmissão no saguão dos “Diários Associados”, local onde alguns aparelhos de TV transmitiram a apresentação do cantor Frei José Mojica, do México.

Existem relatos que defendem que sessenta dias antes da primeira transmissão oficial teria ocorrido a transmissão de um show, o “Vídeo Educativo”, no auditório da Faculdade de Medicina de São Paulo.

O importante é que a partir de tal período televisores foram importados e distribuídos por Chateaubriand pela cidade, uma maneira de ele atrair o interesse do público para a novidade, cuja grande maioria ainda não possuía em casa.

As transmissões ocorriam das 18 horas às 23 horas. É de grande valia dizer que a maior parte dos profissionais que iniciaram a produção de TV no Brasil vieram do rádio, jornais e do teatro, diferentemente dos profissionais dos Estados Unidos, que buscaram seus profissionais no cinema.

A TV tornou-se quase que indispensável para a sociedade contemporânea, fato agravado com o advento da televisão fechada que realizou uma “especialização” nos programas apresentados. Com canais para filmes, telejornais, seriados...

Apesar de o público ser diferente dependendo do horário e do canal, aprimorou-se os canais em determinado tipo de programação de modo a atingir um público específico e gerar fãs com conseqüente fidelidade a programação apresentada.

O grande objetivo de todo canal e de todo programa é conquistar o horário nobre e manter-se nele por maior período de tempo possível.

O horário nobre, também conhecido como ‘prime-time’ consiste no horário reservado da programação exibida entre 19 e 21 horas aproximadamente e corresponde ao período de maior audiência.

No Brasil tal horário é ocupado por telejornais e novelas, no exterior, de modo geral, são exibidas as principais séries de sucesso de audiência.

As séries, ou seriados, tiveram origem no cinema, nas sessões de matinê que apresentavam histórias divididas em capítulos.

Tal estrutura foi adaptada para a televisão, originando diversos seriados na década de 1950; Funcionava com filme de baixo orçamento, pois permite lucro enquanto ainda é produzida. Estúdios produtores de filmes passaram a se ater com a nova mídia, aplicando os conhecimentos sobre cinema na produção de novos gêneros de programas, levando em conta o fator das limitações e escassez de recursos de produção.

Segundo o pesquisador Capuzzo: “o seriado surge como produto do filme, adaptado às condições da produção no vídeo, que são mais escassas que as do cinema industrial. Daí sua atitude vampiresca em relação ao próprio cinema, agindo com grande rapidez e devorando canibalisticamente todo registro em celulóide que se adeqüe ao seu universo.”

O seriado é visto então, como gênero cinematográfico, mas apresentado na TV. O gênero cinematográfico é marcado por características como o ilusionismo, a continuidade, a dramaticidade e recursos que aproximação a TV do espectador.

Inicialmente, os seriados tinham 25 minutos e eram divididos por blocos narrativos. Eram autônomos, mas com o comprometimento em relação à história central apresentada e cada episódio representava uma história independente dos outros. Possuem início, desenvolvimento e conclusão da trama, em um único episódio. O que possibilita diretores diferentes. A história segue em torno dos personagens principais, que são a razão de existência da série, suas características e qualidades, e também dos personagens secundários que circundam os protagonistas e que podem se revezar de acordo com cada episódio. Os personagens são sempre os mesmos, com as mesmas atitudes e frases feitas.

O espectador espera que tudo seja solucionado até o final do episódio, o que torna o cômodo assistir, pois permite supor como as coisas irão decorrer, quais serão as ações e a possível solução do conflito.

É um conforto ver que o universo do seriado não muda e é sempre o mesmo.

Segundo Eco: “A questão da reiteração, que é apreciada pelo espectador, por lhe possibilitar antever os acontecimentos no decorrer da história que lhe é apresentada, responde [...] à necessidade infantil de ouvir sempre a mesma história, de consolar-se com o retorno do idêntico, superficialmente mascarado”.

O seriado toca temáticas profundas, mas de forma superficial.

Walter Benjamin aborda o conceito da repetição no mundo dos jogos como um dos prazeres infantis: “[...] a grande lei que acima de todas as regras e ritmos particulares, rege a totalidade do mundo dos jogos: a lei da repetição”.

Essa mesma lei se aplica, portanto, ao seriado, o desenho animado feito para adultos, nos quais o espectador pode acompanhar uma série mesmo que não assista a vários episódios. E as emissoras podem reprisar as séries sem comprometer as histórias, pois elas independem umas das outras.

A temporalidade dos episódios pode não ser medida e cursar sem o envelhecimento dos personagens, com uma espiral temporal. Não há novas aventuras, mas sim, aventuras já ocorrida; o protagonista não tem futuro, mas possui um enorme passado que é continuamente revivido através de flashbacks, e nada destas histórias do passado irá mudar o presente no qual se encontra o personagem.

O enredo possui pequenas modificações e à medida que os episódios vão sendo exibidos, o personagem se torna denso e profundo, elaborando uma personalidade complexa, apesar das situações vivenciadas serem semelhantes. Isso permite ao espectador prever as reações do personagem e, vislumbrar o desfecho do episódio.

Cada emissora produz suas próprias séries para rivalizarem com programas de outras emissoras permitindo escolhas em relação a uma mesma temática, tal como nas séries como Chicago Hope (1994-2000), da FOX, e ER (1994 – 2005), da NBC. Ambas apresentando o cotidiano hospitalar.

É fato que o modelo “seriado” faz sucesso desde que foi criado, mas faz-se necessário ter em mente sua forma de estruturação, seus objetivos, para que o entretenimento não torne o espectador uma vítima da manipulação do ideário das grandes produtoras das séries, e influencie de forma indevida na vida e nos valores da população.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

αισθητική

“A lei suprema da arte é a representação do belo.”

Da Vinci

Estética é um ramo da filosofia que objetiva estudar a natureza do belo, dos fundamentos da arte.

Estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e a técnica artística;

A estética ocupa-se da idéia de obra de arte e de criação, da relação entre matérias e formas nas artes, mas, acima de tudo, a estética também pode ocupar-se do sublime e da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo.

Gosto do conceito de Hegel, para quem “a beleza só pode se exprimir na forma, porque ela só é manifestação exterior através do idealismo objetivo do ser vivente e se oferece à nossa intuição e contemplação sensíveis”.

A beleza nos chama a contemplação, mas também ao pensamento, e Eco no livro 'A História da Beleza' reflete acerca das diversas transformações do conceito de beleza não apenas no mundo das artes, como em diversas áreas do conhecimento: filosofia, teologia, ciência, política, economia, dentre outras.

Umberto Eco parte do princípio de que a Beleza nunca foi algo de absoluto e imutável, mas assumiu rostos diferentes segundo o período histórico e a região; não só no que diz respeito à Beleza física, mas também em relação à Beleza de Deus ou dos santos ou das idéias.
Num mesmo período histórico, as imagens dos pintores e dos escultores pareciam celebrar certo modelo de Beleza, a literatura celebrava outro. A Beleza tem que ser conceituada, mas são tantos os parâmetros para sua definição que permite a pluralidade da beleza.

Por isso, de vez em quando, deveremos fazer um esforço e ver como é que modelos diferentes de Beleza coexistem numa mesma época e como é que outros se vão mutuamente encontrando ao longo de épocas diferentes.

Em novembro de 2010 tive contato com umas das formas de belo na atualidade. Foi na discreta exposição de arte no Mackenzie de São Paulo, com obras dos alunos do ‘Ensino Fundamental II’ do sexto e sétimo anos, elaborada durante as aulas da Professora Elianete Martini de Campos, tendo como Laboratorista Regina Andrade.

Na ocasião da minha visita, tive o prazer de conhecer alguns dos pintores. Apesar da diferença significativa de idade, conversamos e fotografamos: o amor pela pintura e as dificuldades do processo de pintar nos unia. Era como se já nos conhecêssemos.

A presença dessas crianças, com as quais conversei sobre a importância da pintura e a alegria da exposição, fez com que me lembrasse de Ernest Hemingway: "De todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?"

Os artistas foram simpáticos, acolhedores. O que fez com que eu me recordasse do quão curativo é tal tipo de troca de afeto, trocar experiências sem interesses velados ou segunda intenção.

O mundo adulto está distante de tal amizade sincera, por isso, as crianças são tão agradáveis.

Foi uma simples partilha do momento presente, só porque estamos presentes no mesmo tempo, no mesmo espaço.

"A criança é por natureza um ser do encantamento, um ser que experimenta a leveza, e que não retém a dor."

Foi uma das melhores e mais afetuosas exposições de arte que contemplei nos últimos anos... E, por isso, foi guardada para a primeira postagem de 2011.

* Fotos: Mayra Lopes; Exposição de arte no Mackenzie, novembro de 2010.