domingo, 16 de janeiro de 2011

A Televisão e o Seriado

"Vocês querem bacalhau?"

Chacrinha

Televisão palavra derivada do grego e do latim. Em grego"Tele"significa distante, e em latim “Visione” significa visão. O Dia da televisão é comemorado sempre em 11 de agosto, dia do nascimento de Santa Clara, sua padroeira.

A primeira transmissão televisiva foi em 26 de fevereiro de 1926, realizada pelo escocês John Baird, o pai da TV. Desde então, assumiu um status que a coloca para além do título de veiculo de comunicação.

Encontra-se vinculada à ciência desde as suas origens, pois a primeira transmissão televisiva foi um modelo mecânico de TV para audiência de cientistas da Academia de Ciências Britânicas, em Londres, na Inglaterra. Em seus primórdios mostrou aos cientistas um modelo mecânico e hoje permite a distribuição de descobertas científicas para a população em geral.

Foi o paraibano Francisco de A. Chateaubriand B. de Melo, que em 5/10/1892 trouxe a televisão para o Brasil. Ele era o proprietário da empresa de comunicação “Diários Associados”, um aglomerado de comunicação que abrangia jornais e rádio.

Mas, foi somente em 18 /09/1950 que foi inaugurada a TV Tupi, em São Paulo.

A televisão no Brasil passou por testes e pré-estréias, com a primeira transmissão no saguão dos “Diários Associados”, local onde alguns aparelhos de TV transmitiram a apresentação do cantor Frei José Mojica, do México.

Existem relatos que defendem que sessenta dias antes da primeira transmissão oficial teria ocorrido a transmissão de um show, o “Vídeo Educativo”, no auditório da Faculdade de Medicina de São Paulo.

O importante é que a partir de tal período televisores foram importados e distribuídos por Chateaubriand pela cidade, uma maneira de ele atrair o interesse do público para a novidade, cuja grande maioria ainda não possuía em casa.

As transmissões ocorriam das 18 horas às 23 horas. É de grande valia dizer que a maior parte dos profissionais que iniciaram a produção de TV no Brasil vieram do rádio, jornais e do teatro, diferentemente dos profissionais dos Estados Unidos, que buscaram seus profissionais no cinema.

A TV tornou-se quase que indispensável para a sociedade contemporânea, fato agravado com o advento da televisão fechada que realizou uma “especialização” nos programas apresentados. Com canais para filmes, telejornais, seriados...

Apesar de o público ser diferente dependendo do horário e do canal, aprimorou-se os canais em determinado tipo de programação de modo a atingir um público específico e gerar fãs com conseqüente fidelidade a programação apresentada.

O grande objetivo de todo canal e de todo programa é conquistar o horário nobre e manter-se nele por maior período de tempo possível.

O horário nobre, também conhecido como ‘prime-time’ consiste no horário reservado da programação exibida entre 19 e 21 horas aproximadamente e corresponde ao período de maior audiência.

No Brasil tal horário é ocupado por telejornais e novelas, no exterior, de modo geral, são exibidas as principais séries de sucesso de audiência.

As séries, ou seriados, tiveram origem no cinema, nas sessões de matinê que apresentavam histórias divididas em capítulos.

Tal estrutura foi adaptada para a televisão, originando diversos seriados na década de 1950; Funcionava com filme de baixo orçamento, pois permite lucro enquanto ainda é produzida. Estúdios produtores de filmes passaram a se ater com a nova mídia, aplicando os conhecimentos sobre cinema na produção de novos gêneros de programas, levando em conta o fator das limitações e escassez de recursos de produção.

Segundo o pesquisador Capuzzo: “o seriado surge como produto do filme, adaptado às condições da produção no vídeo, que são mais escassas que as do cinema industrial. Daí sua atitude vampiresca em relação ao próprio cinema, agindo com grande rapidez e devorando canibalisticamente todo registro em celulóide que se adeqüe ao seu universo.”

O seriado é visto então, como gênero cinematográfico, mas apresentado na TV. O gênero cinematográfico é marcado por características como o ilusionismo, a continuidade, a dramaticidade e recursos que aproximação a TV do espectador.

Inicialmente, os seriados tinham 25 minutos e eram divididos por blocos narrativos. Eram autônomos, mas com o comprometimento em relação à história central apresentada e cada episódio representava uma história independente dos outros. Possuem início, desenvolvimento e conclusão da trama, em um único episódio. O que possibilita diretores diferentes. A história segue em torno dos personagens principais, que são a razão de existência da série, suas características e qualidades, e também dos personagens secundários que circundam os protagonistas e que podem se revezar de acordo com cada episódio. Os personagens são sempre os mesmos, com as mesmas atitudes e frases feitas.

O espectador espera que tudo seja solucionado até o final do episódio, o que torna o cômodo assistir, pois permite supor como as coisas irão decorrer, quais serão as ações e a possível solução do conflito.

É um conforto ver que o universo do seriado não muda e é sempre o mesmo.

Segundo Eco: “A questão da reiteração, que é apreciada pelo espectador, por lhe possibilitar antever os acontecimentos no decorrer da história que lhe é apresentada, responde [...] à necessidade infantil de ouvir sempre a mesma história, de consolar-se com o retorno do idêntico, superficialmente mascarado”.

O seriado toca temáticas profundas, mas de forma superficial.

Walter Benjamin aborda o conceito da repetição no mundo dos jogos como um dos prazeres infantis: “[...] a grande lei que acima de todas as regras e ritmos particulares, rege a totalidade do mundo dos jogos: a lei da repetição”.

Essa mesma lei se aplica, portanto, ao seriado, o desenho animado feito para adultos, nos quais o espectador pode acompanhar uma série mesmo que não assista a vários episódios. E as emissoras podem reprisar as séries sem comprometer as histórias, pois elas independem umas das outras.

A temporalidade dos episódios pode não ser medida e cursar sem o envelhecimento dos personagens, com uma espiral temporal. Não há novas aventuras, mas sim, aventuras já ocorrida; o protagonista não tem futuro, mas possui um enorme passado que é continuamente revivido através de flashbacks, e nada destas histórias do passado irá mudar o presente no qual se encontra o personagem.

O enredo possui pequenas modificações e à medida que os episódios vão sendo exibidos, o personagem se torna denso e profundo, elaborando uma personalidade complexa, apesar das situações vivenciadas serem semelhantes. Isso permite ao espectador prever as reações do personagem e, vislumbrar o desfecho do episódio.

Cada emissora produz suas próprias séries para rivalizarem com programas de outras emissoras permitindo escolhas em relação a uma mesma temática, tal como nas séries como Chicago Hope (1994-2000), da FOX, e ER (1994 – 2005), da NBC. Ambas apresentando o cotidiano hospitalar.

É fato que o modelo “seriado” faz sucesso desde que foi criado, mas faz-se necessário ter em mente sua forma de estruturação, seus objetivos, para que o entretenimento não torne o espectador uma vítima da manipulação do ideário das grandes produtoras das séries, e influencie de forma indevida na vida e nos valores da população.

Um comentário:

  1. Acompanho vários seriados. Com a facilidade da internet posso ver várias séries ao mesmo tempo sem o incômodo do horário fixo. Essa teoria da repetição, da rotina, da afirmação das personagens é uma maneira de aproximar o expectador! Eu vibro, torço e choro e muitas vezes termino um episódio com a forte sensação de que conheço, de verdade, os participantes da história.

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