sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Isaías, Sociedade e Ciência

“Depois, sairão da cidade e verão os corpos daqueles que foram mortos por terem se revoltado contra mim. Os vermes que os devoram nunca morrerão, e o fogo que os queima nunca se apagará. Todos terão nojo deles. Eu, o Deus Eterno, falei". - Isaías 66:24.


Isaías, nome que significa ‘Jeová salva’ ou ‘Jeová é a salvação’. O nome se refere ao profeta que exerceu seu ministério no reino de Judá e se casou com a profetisa.


O ‘Livro de Isaías’ narra a tensão política e militar sofrida por Israel em um panorama marcado por intensas e contínuas atividades bélicas e expansionistas realizadas pela monarquia egípcia ao sul, e pelos caldeus ao leste.


A historicidade sugere que o mesmo teria vivido entre 765 a.C. e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. Foi contemporaneo à destruição de Samaria pelos Assírios e à resistencia de Jerusalém ao cerco das tropas de Senaquerribe que sitiou a cidade com o exército assírio em 701 a.C..


Isaías era escriba e relator dos anais históricos da casa de David, tendo acesso às políticas e estratégias de governo adotadas no estado monarca judaico.


Recebeu a vocação profética em 740 a.C., e exerceu seu ministério por 40 anos. Uma época de forte ameaça da Assíria sobre Israel e Judá.


O início de seu ministério profético foi por volta de 754 a.C. coincidindo com duas datas históricas: a morte do rei Uzias de Judá e a fundação de Roma.


A revelação do chamado de que seria profeta se deu por intermédio de uma visão do trono de Deus no templo, acompanhado por serafins e, um deles trouxe brasas vivas do altar para purificar seus lábios sucedido pela voz de Deus que ordenou que levasse ao povo sua mensagem.


A primeira metade da profecia de Isaías revela a punição para os pecados de Israel, Judá e as nações vizinhas, tratando de ocorrencias durante o reinado de Ezequias até o capítulo 39.


A metade final do livro, do capítulo 40 em diante, contém mensagem de perdão, conforto e esperança.


É o profeta que mais faz menção ao Messias que sofreria pelos pecados da humanidade e se tornaria o soberano justo. O capítulo 53 é dedicado ao martírio do Messias.


Há controvérsias no que tange a autoria do livro por um único sujeito, pois, segundo alguns estudos, existem evidências de mais de um autor, com destaque para o capítulo 40 e para a descontinuidade entre a temática da mensagem profética.


Segundo alguns autores, mesmo trezentos anos depois da morte de Isaías ainda se atualizavam as suas palavras, pois suas profecias foram relidas na perpectiva pós exílica, pois seria impossível prever com 300 anos de antecedencia o nome do rei Ciro que destruiria a Babilônia, conforme a profecia do livro narra.


Foi na idade média que os rolos de Isaías se tornaram livros e foram sistematizados em capítulos e versículos.


O livro pode ser dividido em três grandes partes, sendo:


Primeiro Isaías, capítulo de 1 a 39, com a mensagem de que só Deus é absoluto. Isaías condena aliança com grandes potencias e defende que a nação só é salva quando fiel à Deus e ao seu projeto de justiça como valor supremo. No capítulo 1 faz uma introdução ao conjunto do livro. De 2 a 12 trata da corrupção moral que a prosperidade provocou em Judá e faz profecias sobre Israel e Judá. Nos capítulos de 13 a 23 faz profecias acerca das nações estrangeiras. De 24 a 27 tem-se o apocalipse de Isaías. De 28 a 33 realiza profecias de promessas e ameaças sobre Israel e Judá. Em 34 e 35 aparecem outros fragmentos apocalipticos que provavelmente foram escritos no período do Exílio na Babilônia. Os capítulos de 36 a 39 aparecem relatos sobre a atividade de Isaías na campanha de Senaqueribe contra Jerusalém.


Segundo Isaías, capítulos de 40 a 55, iniciado após a época do Exílio da Babilônia, quando ocorriam as primeiras vitórias de Ciro, apresentando uma mensagem de esperança e consolo. Tal período é visto como um novo Êxodo tendo em Javé a garantia da libertação. Dos capítulos de 40 a 48 trata da queda da Babilônia e da libertação por Ciro. E, de 49 a 55 refere-se à restauração de Sião, defendendo o universalismo da salvação.


Terceiro Isaías, capítulos de 56 a 66, mostra profecias que estimulam a comunidade que veio do Exílio na Babilônia e se reuniu em Jerusalém com os demais dispersos, condenando os abusos que começam a ressurgir.


É importante ressaltar que para Isaías, frequentar o templo não basta, pois tão importante quanto as oferendas é fazer o mishpât (direito) ser cumprido. É um dos textos proféticos mais ferozes contra o culto que mascara as injustiças cometidas cotidianamente. Pede aos príncipes de Sodoma e ao povo de Jerusalém para ouvirem Iahweh.


Cita-se os trechos: “não suporto injustiça junto com solenidade”. E ainda, em 16 e 17: “Lavem-se, purifiquem-se, tirem das minhas vistas as maldades que vocês praticam. Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem: busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão, defendam a causa da viúva.”


Suas profecias consistem em forte crítica social, denunciando o comportamento dos ricos latifundiários, dos que vivem em grandes festas custeadas pelo trabalho dos pobres, dos que exploram o povo negando-lhes a justiça.


Isaías demonstra sua ironia para com as damas da classe alta de Jerusalém e defende com paixão: órfãos, viúvas, oprimidos, povo explorado e desgovernado pelos governantes. Explicita a máscara que é a religião que serve para encobrir a injustiça, e posteriormente encobrir os problemas sociais com grandes festas.


A mensagem de esperança que encerra o texto remete ao messias, que fiel a Iahweh restaurará um reino de justiça e paz, no qual o oprimido e o pobre serão protegidos contra a prepotência dos poderosos.


Apesar da importante denúncia social, existe uma questão em torno de Isaías 40:22 que torna o livro ainda mais polêmico.


Em Isaías 40:22 está escrito: “Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar;”.


Ora, o trecho descrito aborda a questão do heliocentrismo contra o teocentrismo. Em tal passagem, algumas traduções da Bíblia, em especial a utilizada durante a maior parte do período medievo traduzia a palavra hebraica ‘hhug’ por círculo fazendo com que a Terra fosse entendida como que em formato de um prato, disco; Fato que se tornou um dos motivos de oposição às viagens de Colombo em busca das Índias contornando a Terra.


Segundo a obra ‘A Concordance of the Hebrew and Chaldee Scriptures’ de B. Davidson a mesma palavra poderia ser traduzida pelo termo ‘esfera’, o que não atrapalharia as navegações.


Muitos são os mistérios que envolvem as visões e as traduções do livro do profeta Isaías. E, 'ela se move'.


2 comentários:

  1. Parabéns por ajudar a tornar conhecida uma figura da envergadura de Isaías. Infelizmente, sua teologia fica muito restrita a um anuncio messiânico e, por isso, perde-se demais a sua relação com seu lugar histórico. Posterior ou contemporâneo a Amós e Oséias, esse profeta de Jerusalém inaugura uma escrita de altíssimo teor literário. Suas fortes palavras, a dureza de sua mensagem e seus oráculos salvíficos, calaram profundamente na vida do povo de Israel fazendo dele um dos principais profetas de seu tempo. Gosto muito do chamado livro do Emanuel, ali ao redor do cap. 7. Nele, vemos o nascimento de crianças promissoras e é onde se nota, também, algumas das mais doces palavras e inspirações de Isaías. Abraços!

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  2. Altamir, tenho que admitir que o temperamento incisivo e o vocabulário diretivo de Isaías o torna um dos meus preferidos entre os 18 profetas do A.T. E, o preferido entre os seis maiores.

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