terça-feira, 5 de maio de 2009

Trote

Trote pode ser uma travessura feita por telefone, uma brincadeira; No contexto universitário refere-se ao conjunto de atividades a que novatos são submetidos em faculdades.
A palavra "trote" possui correspondentes em vários idiomas, como trote (espanhol), trotto (italiano), trot (francês), trot (inglês) e trotten (alemão). Em todos o termo se refere a uma certa forma de se movimentar dos cavalos, uma andadura que se situa entre o passo (mais lento) e o galope (mais rápido). Todavia, deve ser lembrado que o trote não é uma andadura normal e habitual do cavalo, mas algo que deve ser ensinado a ele.
Da mesma forma, o calouro é encarado pelo veterano como algo que deve ser domesticado, em suma, o calouro deve "aprender a trotar".
Da mesma forma, denominar o calouro de bixo (ou bixete, se for mulher), parece querer indicar que o calouro deve ser humilhado a ponto de nem mesmo merecer que a palavra bicho seja escrita corretamente (Zuin, 2002, p. 44).
O trote estudantil tem seu histórico traçado a partir do começo das primeiras universidades, na Europa da Idade Média. Surgiu com o hábito de separar veteranos e calouros, aos quais não era permitido assistirem as aulas no interior das respectivas salas, mas apenas em seus vestíbulos, de onde veio o termo "vestibulando".
Por razões profiláticas, os calouros tinham as cabeças raspadas e suas roupas muitas vezes eram queimadas. No século XIV, as preocupações com a higiene haviam se transformado em rituais aviltantes, com nítida conotação sadomasoquista. Isto é observado nas universidades de Bolonha, Paris e, principalmente, Heidelberg, onde os calouros, reclassificados como "feras" pelos veteranos, tinham pelos e cabelos arrancados, e eram obrigados a beber urina e a comer excrementos antes de serem declarados "domesticados".
Segundo Van Gennep, criador do conceito, os ritos de passagem podem ser classificados em três grupos principais: separação (funerais), agregação (casamento) e margem (iniciação). As fronteiras entre tais ritos não são estanques, e sim dinâmicas; um comumente, implica um outro (Van Gennep, 1978, p. 31).
O trote se classifica como um rito de passagem de margem e permite que sejam extraídas quatro conclusões preliminares (Vasconcelos, 1993, p. 14-15): O trote é um cerimonial que está entranhado no seio da cultura acadêmica; O caráter iniciático do trote é confirmado por todos os seus participantes; O trote representa um ritual de violência e agressão contra o calouro; O trote é um rito de passagem às avessas, representando uma prática oposta aos valores humanistas da universidade.
Mas a ridicularização não existira e não se perpeturia se não tivesse um sentido, algo que sustentasse tal tradição. O que ocorre no trote que faz com que a prática se perpetue é o fato de o mesmo permitir que as pessoas se conheçam. É um princípio de relação de poder, na qual o poder é claramente estabelecido.
Diante de tal ordem implantada a instituição de ensino se viu chamada a transformar ou mesmo amenizar tal realidade: lançou-se a semana do trote.
Semana é um período de tempo de sete dias consecutivos. A origem da expresão vem de sptimana que significava sete manhãs. A semana foi uma evolução na orientação de espaço de tempo, cujo início ocorreu pela relação do homem com a natureza.
A semana do trote é, portanto, a primeira semana do acadêmico. É elaborado um cronograma de atividades que visam estabelecer convivência. Alguns entendem o trote como uma festa social.
Na semana do trote existem atividades durante o dia como “aula trote” (uma aula ministrada por um colega que os calouros acreditam ser a real), brincadeiras, dentre outras atividades. Durante a noite faz-se festas para que os acadêmicos possam se conhecer. É óbvio que a relação de poder das atividades é forte no lado dos veteranos, o que precisa ser melhorado para que o trote se tornar mais cordial.
Uma tentativa de estabelecer regras para o trote e tornar os fatos mais diplomáticos é o concurso “miss bixo”, organizada pelo D.A. (Diretório Acadêmico), apresentando "bixos" aos veteranos. Funciona da seguinte maneira: ocorre um desfile no qual "bixos" vão vestidos de mulher e as "bixetes" vão de homem. O mais bem fantasiado e que tiver maior torcida ganha o prêmio.

REFERÊNCIAS:
MATTOSO, G. O calvário dos carecas: a história do trote estudantil. São Paulo, EMW, 1985.
VAN GENNEP, A. Os ritos de passagem. Petrópolis, Vozes, 1978.
VASCONCELOS, Paulo Denisar. A violência no escárnio do trote tradicional. Santa Maria, UFSM, 1993.
ZUIN, Antônio Álvaro Soares. O trote na universidade-Passagens de um rito de iniciação. Cortez, São Paulo, 2002)
ZUIN, Antônio Álvaro Soares. O Trote no Curso de Pedagogia e a Prazerosa Integração Sadomasoquista. Educ. Soc. [online]. Ago. 2002, vol.23, no.79, p.243-254. Disponível na World Wide Web: Scielo. ISSN 01017330.

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