domingo, 8 de março de 2009

Precisamos é de Comunhão

"Ama a verdade, mas perdoa o erro"
Voltaire


Comunhão é uma palavra de origem grega “KOINONIA” , traduzida em português para a palavra comunhão. Comunhão significa o ato de usar uma coisa em comum. A palavra ainda assume o sentido de: companheirismo, compartilhar, congregação de pessoas de comum interesse. Ter em comum, usar juntos, participação, parceirismo.
Na perspectiva religiosa o conceito de comunhão começa com as primeiras comunidades cristãs que se reuniam para conhecer, aprofundar e vivenciar a doutrina de Cristo para testemunhá-lo no dia a dia na vivência da comunidade.
Segundo os Atos dos Apóstolos, 2,42-47; 4,32-37, os primeiros cristãos se reuniam para ouvir a Palavra, com perseverança, na fração do pão e para a oração em comum.
Nas palavras do próprio Cristo: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estou no meio deles”.
Com a institucionalização do cristianismo a comunhão passou a ser coordenada pelo sacerdote. E com a sistematização entendida como comunhão vertical e horizontal.
A Comunhão vertical é a estabelecida pelo rito com o próprio Deus: Comunhão com o Pai (I João 1.3), Comunhão com o Filho Jesus, Cristo (I Coríntios 1.9 e I João 1.3), Comunhão com o Espírito Santo (Filipenses 2.1). Essa comunhão é
expressa através da oração, louvor, adoração em Espírito e em Verdade (João 4.23-24).
A Comunhão horizontal estabelecida com os homens, também deve haver comunhão entre os irmãos: comunhão uns com os outros (I João 1.7), a destra de comunhão (Gálatas 2.9), participação da assistência aos santos (II Coríntios 8.4b).
Mas, nem as primeiras comunidades cristãs foram poupadas do pecado e da animosidade de alguns atos. E estabeleceu-se a excomunhão.
Excomunhão é o acto ou efeito de excomungar. O termo empregue dentro do cristianismo significa "sair da Comunhão".
Nas comunidades primitivas aqueles que praticavam crimes muitos iníquos, ficavam do lado de fora do local de oração, nas escadas dos primeiros templos, fora do ambiente de comunhão. Não podiam repartir o pão, porque esse era o castigo que os levaria a redenção e uma forma de começar a pugar seus pecados. Uma vez que, segundo Agostinho, o único pecado que leva ao inferno, não permitindo ser purgado é o de não reconhecer ao Pai como Deus.
A excomunhão era potanto um castigo que tinha como objetivo poder receber posteriormente o excomungado de volta, após a purificação do pecador.
Com o passar das eras, a excomunhão passou a ser definitiva e prevista em código, fazendo parte das censuras no Código de Direito Canônico sendo uma das mais duras e severas penas que um fiel pode receber da Igreja.
O fiel excomungado fica proibido de receber os Sacramentos e de fazer alguns atos Eclesiásticos.
Consiste exatamente em excluir ou expulsar oficialmente um membro religioso. Sanção religiosa máxima que separa um membro transgressor da comunhão da comunidade religiosa. Similar a desassociação. Podendo ser aplicada a uma pessoa individual ou aplicada colectivamente e de caráte irrevogável o que a diferencia da excomunhão das primeiras comunidades, que apesar de duradoura possuia uma esperança de recolher o pecador nos mantos da comunidade.
O costume da excomunhão perdura na Igreja Católica Apostólica Romana.
Uma excomunhão foi noticiada pelo Jornal "O Estado de São Paulo" da seguinte forma: "A cúpula do Vaticano voltou a defender a excomunhão dos médicos que realizaram um aborto de gêmeos em uma menina de 9 anos, que havia sido estuprada pelo padrasto em Pernambuco. O argumento: 'Os gêmeos eram inocentes'."
Foi noticiada também pelo Jornal italiano "La Stampa" que publicou as declarações do presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, cardeal Giovanni Battista Re. Na declaração o cardeal salientou que a interrupção voluntária da gravidez "representa sempre o assassinato de uma vida inocente e, para o código do Direito Canônico, quem pratica ou colabora diretamente com o aborto cai na excomunhão". Defendendo ainda que a excomunhão dos médicos foi "justa", mesmo que a interrupção da gravidez tenha sido feita dentro da lei (que permite o aborto em caso de estupro e risco de morte da mãe).
Houve ainda a excomunhão pública da mãe da menina, que autorizou o aborto.
O arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que as pessoas envolvidas no aborto cometeram pecado grave e seriam punidas com a excomunhão, a penalidade máxima prevista pela Igreja Católica.
É perceptível que a Igreja foi rápida e efetiva na resolução quanto a excomunhão dos médicos e da mãe da menina, uma vez que possuem poder para tal.
Uma das maiores autoridades da Igreja no que tange a temática do aborto foi a Madre Tereza de Calcutá, diferente dos que excomungam, o discurso dela acerca do aborto era singular: "Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dê a mim. Não rejeitarei uma só delas. Encontrarei uns pais para elas."
Singular não só em obras, mas em atos.
É fato que a sociedade atual perdeu os valores diários de partilha e comunhão, de amizade e de respeito para com o seu próximo. Os valores da vida são por vezes deixados de lado. Os da família sofrem as crises da modernidade. O Sistema neoliberal que sustenta a globalização, globaliza bens e assim a fome e a miséria, o desemprego e o subemprego, e as cidades desumanizadas.
Imagino que diante de tal cenário o clero sofra profunda frustração, pois, frustração é uma emoção que ocorre nas situações onde algo obstruí o sujeito de alcançar um objetivo pessoal. E, é função do clero, e função para a qual são remunerados, fornecer a comunhão, conforme citado na Carta Apostólica Dies Domini: "De entre as numerosas actividades que uma paróquia realiza... "nenhuma é tão vital ou formativa para a comunidade, como a celebração dominical do Dia do Senhor e da sua Eucaristia"" (n. 35).
O clero tem a função de celebrar a comunhão, de difundir a palavra de Deus na comunidade e atos monstruosos como o estupro de crianças denotam a perda de poder por parte da Igraja resultado de uma catequese fraca. Tais atos deixam óbvio a falta de Deus com que a alma de alguns vem sofrendo.
Onde está o clero?
Onde está o clero que tem uma identidade tridimensional, pneumatológica, cristológica e eclesiológica? Não se pode perder de vista a arquitetura teológica primordial do mistério do sacerdote, chamado a ser ministro da salvação, não da punição ou exclusão.
Como na situação exemplificada, quando o padrasto se perdeu, uma ovelha se perdeu, e, mais e mais se perderam: os médicos, a mãe da menina, os gêmeos...
Com a postura oficial da Igreja só resta concluir que quando até aqueles que se julgam imunes ao pecado atiram a "primeira pedra" o único resultado observado são mais e mais feridos.
O perdão parece guardado em gavetas, enquanto pedras se avistam aos montes no chão.

4 comentários:

  1. As perguntas que me faço nessa história são:
    1. Os nonatos eram mais inocentes que a mãe, que deve ter sido 'habituada' a essa situação, nunca tendo forma de reagir?
    2. O padrasto também não foi agente (aliás o primeiro agente) nesse processo de aborto e, portanto não deveria ter sido excomungado?
    Toda forma de exclusão é excomunhão. Concoro com sua lógica, amiga. A omissão da Igreja nesse caso, como matriz ideológica na formação dessa família, também poderia ser considerada como ato culposo desse aborto, então, porquê não excomungar a própria Igreja e seu discurso nesse caso?

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  2. Suas palavras são mesmo muito interessantes e revelam uma preocupação justa e honesta: o cuidado com as pessoas para além do legalismo. A Comunhão é um dos temas mais desenvolvidos nos Atos. Não é somente partilha de bens, mas de carinho, de atenção, solidariedade, animação, experiência de vida. Portanto, as suas indicações primeiras sobre comunhão no nascedouro da igreja são legítimas, só não concordo com uma de suas afirmações: “é função do clero, e função para a qual são remunerados, fornecer a comunhão” Não sei se está assim, ipsis litteris na Carta Apostólica, mas acho que estamos diante de algo que ultrapassa a mera remuneração. Vislumbramos o horizonte da vocação, a entrega a um serviço pedido pelo Senhor. Assim sendo, na origem da comunhão está o mandato do amor. É só nele que nós (e inclusive os presbíteros) serão reconhecidos como discípulos d’Ele.

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  3. É minha querida, participar das notícias que são divulgadas na mídia, são sempre recheadas de polêmicas.
    A mídia divulga o que é rentável.
    Somos todos conscientes de que muitos são os rotulados com excomunhão.
    O homem se acha no direito de rotular em todo instante seu semelhante para fugir da culpa que os perseguem na vida cotidiana.
    O importante é termos sempre em mente "Há diversidade de dons, mas o espírito é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil".1Coríntios 12.4-6
    Além de ser nos revelado a verdade, levar - nos á ao arrependimento, gerar - nos de uma semente incorruptível e santificar - nos, produzindo um caráter de Cristo.Lembre - se o Espírito santo é aquele que inspira nossas orações. Tudo tem um motivo de ser neste planeta. Creia sempre nas forças superiores, elas salvarão a todos no momento exato.

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  4. Olá Mayra,
    Bastante racional a tua colocação, creio que tenha sido isto que faltou ao arcebispo em questão, um pouco mais de razão, lucidez e humanidade.
    Rita

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