domingo, 27 de março de 2016

Resenha do artigo: “Envelhecimento com dependência: responsabilidades e demandas da família”

"Só damos pelo envelhecimento dos outros"
André Malraux



No Brasil pós-moderno há uma inexistência de programas governamentais no que tange a situação do idoso. Em contrapartida, cita-se a existência da política nacional do idoso datada de 1994 e da politica nacional de saúde do idoso decretada e promulgada em 1999.
Seriam tais Leis suficientes para tratar tema tão amplo?
A temática central do artigo consiste nos aspectos da senescência associada as suas morbidades limitantes: demências, fraturas, acidentes vasculares, colagenoses, algias e deficiências visuais. Associada ao fato da inversão da pirâmide etária e do aumento da expectativa de vida, bem como das consequências de tal realidade social.
            O artigo elucida o fato da dependência familiar do idoso mediante as patologias associadas, e, como essa situação altera a dinâmica familiar, a economia domiciliar e a sobrecarga demandada por cuidados.
Analisando dados publicados associados a conhecimentos demográficos, o texto denota a situação do idoso mediante ao baixo nível socioeconômico, escolaridade defasada, carência de serviços públicos e infraestrutura insuficiente culminando em qualidade de vida precária em especial no se que se refere ao idoso da zona rural quando comparado ao idoso de região urbana.
Apesar de o quadro parecer caótico, cuidados são necessários mediante a uma situação de dependência. E, embora o legislativo tente suprir tal demanda, a mesma se apresenta sempre maior do que os recursos disponíveis.
Como prova da condição descrita, o artigo apresenta um dado interessante: Um estudo de suporte domiciliar para adultos limitados em sua autonomia, realizado de 1991 a 1995, no município de São Paulo em uma população de baixa renda que concluiu que 90% das famílias não receberam ajuda de serviços de um modo geral, e que cerca de 30% das famílias declararam que ficariam satisfeitas se pudessem receber algum auxílio referente a cuidado.
            É abordado ainda o problema do idoso com renda advinda da assistência social segundo a Constituição de 1988, que mediante ao alto índice de desemprego vigente no país passa a ser o responsável pelo sustento familiar deixando inúmeras famílias com renda abaixo da linha da pobreza.
O fato mais alarmante citado consiste na irreversibilidade das condições acima descritas e em seu agravamento com o transcorrer do tempo. Há de se considerar também que em relação à doença observaram que o acometimento da saúde do idoso sobrecarrega o familiar cuidador, que continua tendo que realizar seu trabalho extradomiciliar tendo crescida a tarefa de cuidar do idoso às suas atividades rotineiras.
A autora Célia Pereira Caldas, foi feliz em retratar tão bem e com minucia de detalhes as condições centrais que mais causam danos aos idosos e à sociedade de forma tão clara e sucinta.
Faz um confronto justo ao colocar a condição real e o cuidado ideal. Expõe o problema de saúde pública de modo a possibilitar a geração de soluções, de direcionar investimentos por parte dos setores publico e privado de saúde.
A condição é explicita: há uma carência de suporte formal ao idoso e isso é comprovado ao longo dos exemplos e dos fatos citados de forma somativa. A autora tem a coragem de tocar o cerne da problemática da senescência: a deterioração das funções neurológicas, a dificuldade de autocuidado, a limitação frente às tarefas domesticas e a redução da motivação do idoso mediante as limitações anteriormente citadas inerentes do adoecer.
Algumas questões abordadas são originais: como a concepção social do senso comum acerca do asilamento que é visto como abandono, e o fato de 2% dos idosos não contar com nenhuma ajuda familiar em caso de incapacidade acrescido de 40% contar com auxilio do cônjuge idosos também.
Um tópico que considero controverso é a implementação do “community care” que se apresenta no artigo como uma saída possível. Seria tal solução viável em outras comunidades? Em população com outro nível econômico? Como ficaria tal proposta em países como o Brasil em que existe certo padrão de inversão de dependência devido ao quadro de desemprego e do número crescente de dependentes de substancias psicoativas?
Soluções viáveis para melhoria da condição avaliada é algo mais complexo do que parece, começa com foco na atenção básica com medidas preventivas de modo a retardar o quadro de dependência o máximo possível. E de medidas de infraestrutura para serviços específicos que se destinem a tal população, em especial responsáveis pelo “follow up” após a alta hospitalar. 

Pode haver, nas palavras da autora da obra: “um envelhecimento bem sucedido”. 

Referencias:
Artigo de: CALDAS, Célia Pereira. Envelhecimento com dependência: responsabilidades e demandas da família. 

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