domingo, 27 de março de 2016

Resenha: John Snow e o cólera

John Snow foi um dos mais influentes 
sanitaristas do século XIX.


John Snow (1813-1858) foi um anestesiologista inglês pioneiro no desenvolvimento da epidemiologia, foi autor de um ensaio datado de 1855 acerca da maneira que se efetivava a transmissão da Cólera.
O ensaio consiste na elucidação de um estudo efetuado sobre duas epidemias de cólera em Londres no período de 1849 e 1854. A gravidade da epidemia era significativa, uma vez que a mesma levava a letalidade.
A Londres da época era abastecida por duas companhias de água que efetuavam sua capitação de água do rio Tâmisa, sendo respectivamente: “Lamberth Company” e “Southwark e Vauxhall Company”.
Acontece que o ponto específico da captação de água das companhias era distinto na segunda epidemia, pois, a “Lamberth Company” captava água em local sem desague de esgoto da urbe. Efetuando-se a comparação dos índices de mortalidade por cólera de acordo com o abastecimento, comprovou-se que havia um aumento do risco de morte cinco vezes maior em locais abastecidos pela “Southwark e Vauxhall Company”. Considerando-se que os distritos abastecidos por ambas companhias apresentavam taxas intermediárias de cólera, foi levantada a hipótese de que a água captada abaixo da cidade de Londres era a responsável pela origem da afecção.
O estudo permitiu ainda a descoberta da transmissão indireta por meio de fômites, a partir da descrição de casos de contágio por intermédio de roupas de indivíduos previamente contaminados transmitindo a patologia para indivíduos sãos. Por meio da descrição levantou-se aspectos concernentes à patogenia da doença, como a via de penetração pelo sistema digestório, por exemplo. O agente etiológico desconhecido era denominado pelo autor do ensaio de “veneno mórbido”.
Com o ensaio elaborou-se também o conceito de risco ao citar-se que consistia em fator de risco para transmissão direta da doença a higiene pessoal débil fosse por hábito ou mesmo por escassez de água. Citou-se a menor incidência de casos secundários em domicílios ricos em relação aos domicílios simplórios.
O estudo observacional epidemiológico propiciou uma gama de informações acerca da patologia que permitiu a elaboração de medidas preventivas e minimizadoras de risco mesmo mediante ao desconhecimento do agente etiológico em si.
John Snow ao determinar a água como veículo de transmissão do “veneno mórbido” propiciou um campo para a efetivação de medidas relevantes de defesa da saúde pública.
Mediante ao que foi estabelecido, conclui-se que inúmeras foram as contribuições do método desenvolvido, sendo a principal, a sistematização da metodologia epidemiológica que se sustentou no tempo apenas com pequenas modificações até o século XX.  
A riqueza dos detalhes e o raciocínio lógico permitiram demonstrar a ‘Teoria do Contágio’ antes mesmo das descobertas microbiológicas concernentes ao quadro, contrariando a ‘Teoria dos miasmas’ vigente.
É importante ressaltar que o método implica em descrever a patologia, segundo atributos temporais, espaciais, em relação aos indivíduos acometidos. Associa as causas à doença, construindo hipóteses. Distribui os óbitos segundo os fatos.
O emprego da metodologia desenvolvida foi transplantado na Europa e nos EUA para investigação de outras patologias de comunidade. Posteriormente, o método foi adequado para os quadros não infecciosos, como o descrito por Goldberger no que concerne a etiologia carencial da Pelagra. O ápice do método se deu quando o mesmo foi acoplado aos estudos estatísticos, o que ampliou sua contribuição para o campo das doenças crônicas.
A epidemiologia é, desde então, um pilar na pesquisa em saúde. 

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