Esclerose Múltipla – EM
Doença
desmielinizante, inflamatória, crônica, autoimune do SNC. Maior incidência em
adultos, dos 18-55 anos. Prevalência 15 casos para 100.000 pessoas. Evolução
clínica: EM-RR (remitente-recorrente), EM-PP (primariamente progressiva), EM-PP
COM SURTO, EM-SP (secundariamente progressiva).
A
fisiopatologia consiste em fenômeno autoimune mediado por glóbulos brancos
gerando processo inflamatório com consequente desmielinização, remielinização,
degeneração neural e axonal culminando em bloqueio completo da neurotransmissão
pelo tecido cicatricial (esclerose) em diversas áreas do SNC (múltipla) com
subsequente deterioração das funções neurais. Envolve fatores genéticos e
ambientais. Possui relação com parentesco de primeiro grau e susceptibilidade
com haplótipo expandido DR2 com complexo de histocompatibilidade maior.
A
desmielinização é causada por leucócitos ativados e por seus produtos lesivos.
Os infiltrados são de células T (CD4+ e CD8+) e macrófagos. O gatilho do
fenômeno é obscuro, existe hipótese da infecção viral, que ainda é controversa.
As terapias são baseadas no controle das células T.
A EM é uma
doença de substancia branca, melhor estudada em patologia de encéfalo e medula
espinhal. As lesões são placas múltiplas, circunscritas, deprimidas e
brilhantes, de coloração cinza-acastanhada e forma irregular. As placas
costumam ocorrer nas adjacências dos ventrículos laterais, no nervo óptico, no
quiasma, no troco encefálico, nos tratos (ascendentes e descendentes), no
cerebelo e na medula espinhal. Existem placas ativas pela ação de macrófagos em
que a mielina aparece fragmentada com resto celular PAS-positivo e rico em
lipídios, as lesões ativas são perivenulares. Na placa inativa não há mielina e
oligodendrócitos estão diminuídos e astrócitos aumentados.
São padrões
das placas. I: perivascular com deposição de imunoglobulina ou complemento. II:
Sem imunoglobulina ao redor do vaso. III e IV: apoptose dos oligodendrócitos
(III – generalizado; IV – central).
Em placas com
sombra, a fronteira, não é nitidamente demarcada, e a mielina afina, indicando
remielinização parcial ou incompleta dos oligodendrócitos sobreviventes. Embora
exista a remielinização, os axônios, na maioria dos casos permanecem sem
mielinização. Mais incidente em caucasianos e mulheres, e, pode ocorrer em
outras faixas etárias. Os sintomas são variáveis dependendo da área destruída.
São
manifestações clínicas comuns: distúrbios da visão (escotoma/central),
alterações sensitivas, motoras e de espasticidade, de coordenação e equilíbrio,
intestinal, vesical e sexual. Fadiga. Psicológicas (depressão) e cognitivas.
Os sintomas
mais comuns são: fraqueza, paralisia de mm e parestesia, cegueira mono ocular,
diplopia, vertigem, ataxia e nistagmo.
Pode ocorrer:
paraparesia assimétrica, sinais de lesão do corticoespinhal, ataxia cerebelar e
sensorial, incontinência urinaria, atrofia óptica e disartria.
São sintomas
mais raros: convulsão, comprometimento cognitivo (memória e função executiva),
fotofobia.
A fundoscopia
pode ser normal devido a predomínio da lesão retrobulbar.
Síndromes de
tronco cerebral podem ocorrer no começo da doença: oftalmoplegia internuclear
secundária e lesões do fascículo longitudinal medial (motilidade ocular e
diplopia). Nistagmo em abdução horizontal e paresia do reto medial ipsilateral.
Consequente à
lesão do tracto cortico espinhal ocorre fraqueza muscular. Pode ocorrer
urgência, incontinência (disfunção espástica) e retenção urinária (hipotonia).
Tipos de
esclerose múltipla.
EM-RR
(remitente-recorrente): mais comum, com ataques com recuperação total ou
parcial. Áreas focais de inflamação e desmielinização. Danos reversíveis.
EM-PP
(primariamente progressiva): incapacidade progressiva sem fases remitentes,
danos irreversíveis de progressão lenta. Sem alívio dos sintomas.
EM-PR:
deterioração progressiva com ataques agudos ou recaídos. As razoes para a
variabilidade são obscuras. A carga da lesão não é determinante da intensidade
da incapacidade.
EM-SP
(secundariamente progressiva): recaída ao quadro inicial com declínio funcional
progressivo e irreversível devido à degeneração axonal.
Diagnóstico
baseado em critérios clínicos (anamnese e exame neurológico). O diagnostico
definitivo se dá por dois surtos com intervalo de um mês, com sinais
neurológicos indicando duas lesões distintas (topografia).
A EM
laboratorialmente definida conta com pesquisa de bandas oligoclonais nas
imunoglobulinas do LCR e com RNM.
São critérios
para diagnóstico positivo: anormalidades objetivas, anomalias na substancia
branca, duas ou mais áreas afetadas de SNC, padrão clínico com dois episódios
separados (+24hs) com um mês de intervalo, progressão lenta de disfunção
neurológica ao longo de seis meses, banda no LCR, aumento de IgG. Idade entre
10 e 60.
O tratamento
diminui a intensidade do surto e a possibilidade de lesão permanente. O
tratamento do surto consiste em corticóide (metilprednisolona) endovenoso. Os
casos mais graves possuem indicação de plasmaferese.
São indicados
para controlar a intensidade dos surtos: Beta interferons (Avonex, Betoferon,
Rebif) EV ou IM. Acetato de Glatiramer (Copaxone) SC diário. Fingolimod
(Gilenya) 24/24hs VO. Natalizumab (Tysabri) em formas graves da doença. Mitoxantrone
(imunossupressor para casos graves). Teriflunomide (Aubagio) VO não disponível
no Brasil.
Tabela de
resumo das medicações para EM:
DROGA
|
DOSE
|
VIA
|
FREQUENCIA
|
FINGOLIMOD
|
0,5 mg
|
VO
|
24/24 horas
|
GLATIRAMER
|
20 mg
|
SC
|
24/24 horas
|
INTERFERON BETA-1A
|
30 mcg
|
IM
|
1 vez por semana
|
INTERFERON BETA-1A
|
22-44 mcg
|
SC
|
3 vezes por semana
|
INTERFERON BETA-1B
|
0,25 mg
|
SC
|
Em dias alternados
|
MITOXANTRONE
|
12 mg/m2
|
IV
|
A cada três meses
|
NATALIZUMAB
|
300 mg
|
IV
|
Mensal
|
TERIFLUNOMIDA
|
7-14 mg
|
VO
|
24/24 horas
|
Há ainda apoio
de fisioterapia: Bobath, Kabat, bolas, pesos, e eletroterapia.
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