quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Psicologia Médica na Prática Clínica


“A vida nos é dada. Mas, a vida não nos é dada feita.”
F. Nietszche.

O ser humano, desde os tempos primitivos, encontra uma luta sem trégua pela existência.
Durante toda luta surgem ferimentos nos seres que lutam, e para cada ferimento uma dor.
Dores provocadas pelas investidas das mais diversas naturezas.
E, para cada dor, uma busca de alívio.
Foi assim, empreendendo uma nova luta, a luta contra a dor e o sofrimento que surgiu a medicina; Sua origem confunde-se com as origens do próprio sofrimento daquele que luta, do humano, o ser que existe, e ao existir no tempo se torna um eterno devir impregnado de história.
E foi devido a essa união de seres contra o sofrimento que nasceu a clínica, caracterizada pela “inclinação” de um ser que curou a si mesmo prestando solidariedade ao individuo abatido, ao ferido.
Já a psicologia, definida como “estudo científico do comportamento e dos processos mentais e de como esses são afetados pelo estado físico e mental de um organismo e pelo ambiente externo”, é uma ciência recente, que visa descrever, compreender, prever, bem como modificar comportamentos ou processos mentais; Sendo assim, efetiva a função terapêutica durante um tratamento habitual na clínica médica.
É fundamental que os profissionais de saúde percebam que a psicologia, permeando o campo da medicina, está para além de questões teóricas como a descoberta que Freud realizou ao abordar o encoberto e por vezes obscuro inconsciente. A dança da arte médica com essa jovem ciência produz resultados empíricos, e, apenas observando a aplicabilidade prática no cotidiano pode-se ousar a avaliar tal junção.
Essa união encontra-se em cada atendimento, pois, toda e qualquer postura do clínico determina alguma mobilização no paciente.
As vantagens de novos modelos humanitários para o atendimento são inúmeras, enfatizando a promoção de uma compreensão mais humana dos pacientes; amplificação da descrição de alguns distúrbios mentais orgânicos, incluindo ainda a expansão de pesquisa das funções cerebrais relacionadas ao comportamento.
Fica óbvio, portanto, que a psicologia médica é importante na clínica. Mas, ao tratar dessa humanização da saúde, deve-se questionar quanto ao elemento humano nela inserido, perguntando: É importante para quem?
Como a temática central é a clínica, avaliar-se-á, primeiramente, sob o prisma do clínico.
Na atualidade, tanto na clínica médica quanto na clínica cirúrgica, as condições de trabalho se fazem precárias, seja devido ao alto número de pacientes atendidos, ou mesmo pela carga excessiva de plantões, valor indigno pago pelos convênios, pressão de laboratórios para manipular prescrições e ainda controle da quantidade de exames diagnósticos e exames complementares efetuado pela direção hospitalar. O clínico precisa ter conhecimento das bases que constituem a psique humana, principalmente a de si mesmo perante a realidade para retomar o seu simbólico sacerdócio, sacerdócio que na história da medicina foi representado por Imhotep, divindade egípcia cujo nome significa “aquele que vem em paz”. Para que por meio do representante de Imhotep, o paciente possa ir em estado de paz profunda.
Na perspectiva do paciente, a psicologia se faz útil na clínica uma vez que o médico poderá facilmente ouvir o paciente captando assim seu “olhar”, seu posicionamento diante das situações, ajudando-o a avaliar a relação custo/benefício de cada uma das terapêuticas possíveis para seu caso em específico.
Para o acadêmico de medicina a psicologia médica influenciará profundamente no atendimento, pois ao estudar o conteúdo da disciplina iniciará o processo de cura do educando. E, segundo o aforismo de Hipócrates: “Só aquele que curou a si mesmo, pode propiciar a cura de outrem”.
No caso do professor, ensinar a psicologia médica significa vencer a “caça ao diagnóstico” ou a mera memorização do conteúdo ministrado; Transmitindo experiência humana vivida no ambiente da clínica.
Afinal, mesmo com todo aparato tecnológico, com todos os fármacos conhecido, o ser humano continua fadado ao nada, caminhando para a morte no seu envelhecer constante.
As pessoas não deixaram de morrer simplesmente porque “a medicina está muito evoluída”. Mesmo porque a medicina não existe para matar nem mesmo a “indesejada das gentes”. E sempre será a mais bela das artes, não por ser infalível ou perfeita, e sim por conviver com as próprias limitações e ainda assim continuar dia após dia a sua eterna tentativa de minimizar o sofrimento, de se inclinar para estender o alívio.
Só um atendimento considerando os aspectos psicológicos do paciente é capaz de dar sentido ao que Hipócrates disse: “A vida é curta. A arte é longa. A experiência difícil”.
A importância de a psicologia aliar-se a medicina tem um sentido particular para cada sujeito, um sentido que quebra o poder de expressão das próprias palavras e se torna uma poesia viva.

Mayra Lopes de Almeida Reis.
Publicado em 07/07/2006
Segunda Mostra UFJF

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