terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Simbologia Médica

Bastão de Asclépio / Bastão de Hermes


O símbolo evoca, representa ou substitui algo abstrato e ausente, como uma insígnia que nada mais é que um sinal distintivo de função, dignidade e nobreza. O poder do símbolo consiste exatamente no fato de sua existência conter um paradoxo, pois, vulgarmente, pode ser considerado a presença do ausente; Um ausente idealizado que tentamos alcançar.
E, apesar de existirem pessoas que se iludem afirmando que pouco se importam com a simbologia, tal discurso nada mais é do que a presença da ausência de crenças e de análises.A comunicação humana acontece de forma simbólica, com palavras e letras que expressam sentimentos e idéias para representar o que entendemos por "realidade". Todo "ponto de vista" é sempre uma observação pessoal e subjetiva de "um ponto" que tentamos tornar coletiva, "real". Sendo assim, considero importante alertar os estudantes a respeito do único e verdadeiro símbolo da medicina: o bastão de Asclépio; com uma só serpente circundando um bastão tosco (tal qual veio da natureza).
Na mitologia grega, Asclépio é filho da ninfa Coronis. Foi criado pelo centauro Quiron, que lhe ensinou o uso das plantas medicinais. Não só curava, mas por ser filho do Deus Apolo, ressuscitava mortos, ultrapassando os limites da medicina. Tal causa fez com que ele fosse fulminado por Zeus. Após a morte tornou-se Deus da medicina.
O bastão, apoio para as caminhadas, evoca o fato do verdadeiro médico atender em localidades onde se faz necessário, não apenas em regiões de maior comodidade, ou melhor retorno financeiro. Remete ao cetro dos reis ou báculo dos bispos indicando poder; o poder do conhecimento de curar; com referências mágicas, remete à vara de Moisés que é o caminho da interseção divina. Representa ainda, a árvore da vida, com seu ciclo de morte e nascimento, com os quais o médico lida diariamente.
Em relação à serpente, desde o princípio dos tempos simboliza o bem e o mal, e portanto, a saúde e a doença; o rejuvenescimento pela troca de pele; da essência do "remédio", pois é a dosagem que torna o veneno um antídoto. Vivendo no interior da terra, estabelece comunicação entre o mundo subterrâneo e a superfície, entre o mundo dos vivos e dos mortos. Outro símbolo, usado erroneamente para representar as ciências médicas é o caduceu de Hermes.
Hermes tinha a capacidade de se deslocar com a velocidade do pensamento, tornou-se o mensageiro do Olimpo e o deus dos viajantes, das estradas e do comércio, já que este, na antiguidade, era feito por ambulantes. Outra tarefa a ele atribuída era a de transportar os mortos aos domínios de Hades.
O caduceu consiste em um bastão trabalhado com duas serpentes espiraladas simetricamente e opostas, com duas asas na extremidade superior.
Apesar de ser símbolo do comércio e de escritórios de contabilidade, foi introduzido nas ciências médicas, inicialmente nos E.U.A., por empresas que oferecem planos de saúde, implicando o mecanismo de compra e venda do serviço médico.
Talvez tais explicações pareçam sem propósito, mas a medicina só se permitiu ser representada pelo símbolo do comércio devido ao seu afastamento dos preceitos divinos e sua aproximação com o caráter comercial. Não se pode esquecer que um mero diploma não torna ninguém médico. Um médico nasce médico na honestidade, na caridade e no sigilo. Sua honra é a garantia de seu empenho para um diagnóstico que auxilie na cura e na manutenção da saúde; no alívio dos sofrimentos.
Quando um símbolo sagrado torna-se comercial quando o paciente deixa de confiar no tratamento e passa a considerar a consulta como um meio de conseguir um pedido de exame; quando o paciente não confia no diagnóstico clínico e busca apenas um encaminhamento para a perícia visando aposentar-se; ou, o que é pior, quando a consulta, ato sagrado, se transforma em um procedimento burocrático, uma compra de receita ou atestado, uma busca pela aquisição medicamentosa realizada por pessoas descrentes e hipocondríacas, a humanidade torna-se mais enferma. Mas sequer podemos culpar essas pessoas, afinal, quando os médicos passam a ser representados pelo comércio e a se comportarem como "homens de negócio", a quem os pacientes recorrem para suportar tantas enfermidades, tantas dores?



Mayra L. de Almeida Reis
Publicada em 18/09/2004
Impresso Especial: CONT. n. 7317288701

3 comentários:

  1. Parabéns!
    Gostei de saber um pouco mais sobre o símbolo da medicina.
    Beijos.

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  2. Alguns pitacos!(rsrsrs) Você fez uma (indireta) alusão mas gostaria de reforçar as observações em torno do texto de Números 21,8-9. Ali Moisés faz uma serpente de bronze e coloca sobre uma haste. Sempre quis saber se existem raízes deste procedimento na simbologia médica. A Bíblia (com os critérios hermenêuticos que lhe são próprios) re-leu a tradição na pena de São João. Este alude à serpente agora indicando o Cristo que será elevado na cruz (Jo 3,14). Boas reflexões!

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  3. Muito interessante,sou médico e estudo filosofia.Sua explanação está bastante clara
    Parabens

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