domingo, 4 de outubro de 2015

Reflexão acerca das vias neurológicas...

"A ciência nunca resolve um problema 
sem criar pelo menos outros dez."
George Bernard Shaw



São muitos os mistérios da existência humana, todos perpassam pelo questionamento acerca da existência do mundo e da origem da vida.
Muitos mitos foram criados para justificar os limites do saber mediante aos questionamentos cognitivos.
Uma bela analogia para a criação humana consiste no mito chinês datado do século III que narra o mundo a partir da existência e morte humana. Acreditava-se que a criação do mundo não terminou até a morte de P’an Ku. Somente sua morte pode aperfeiçoar o universo: “de seu crânio surgiu a abóbada do firmamento, e de sua pele a terra que cobre os campos; de seus ossos vieram as pedras, de seu sangue, os rios e oceanos; de seu cabelo veio toda a vegetação. Sua respiração se transformou em vento, sua voz em trovão; seu olho direito se transformou na Lua, seu olho esquerdo, no Sol. De sua saliva e suor veio a chuva. E dos vermes que cobriam seu corpo surgiu a humanidade.” 1
Em busca de sentido para a existência humana depara-se com o corpo. Um corpo que elucida a excelência da beleza humana e as misérias da condição da existência.
Qual dos animais é mais miserável que o homem? Qual deles seria mais pobre?
A ave nasce com penas, o peixe nasce com escamas. O humano nasce nu.
O filhote ladra, a ave voa, o peixe nada. O humano, quando nasce chora.
A espécie humana tem a mente atormentada por questionamento, em um invólucro de duração breve chamado corpo. O ser humano é um efêmero fantasma do tempo, que diariamente, em cada célula consome a existência e luta pela vida sem descanso até dançar com a morte.
O humano apresenta a dúvida da falta de conhecimento, o temor diante dos mistérios da consciência, a solidão... Nas palavras de James Joyce: “Pensar que cada um que entra imaginava ser o primeiro a entrar, ao passo que ele é sempre o último termo de uma série precedente, mesmo que seja o primeiro termo da série seguinte, cada um imaginando-se ser o primeiro, último, único e só, quando não é nem o primeiro, nem o último, nem o único, nem só em uma série que se origina ao infinito e se repete ao infinito.”2
É fato que independente da origem que se apresenta tão controversa entre os povos na história1 o ser humano existe, e, com a existência efêmera surge o sofrimento.
O sentido atribuído aos bens e aos fatos, a significação, conferem à existência humana algum consolo.1 A crença de que os esforços feitos em vida mesmo diante da igualitária morte não são em vão.
Assim, tenta-se prolongar a vida, curar as feridas, enquanto o cérebro humano questiona a si próprio, tenta entender-se explicar-se.
Mas, nas palavras de Jostein Gardner: e, “se o cérebro humano fosse tão simples ao ponto de podermos entendê-lo, nós seríamos tão idiotas que não conseguiríamos entende-lo.” 3
E mesmo considerando impossível entender as vias neuronais, a neuroanatomia avança rumo à esperança do entendimento.
Ironicamente, aqueles que parecem mais fazer uso de seu cérebro, como o idealizador da teoria das cordas, David Gross, ganhador do prêmio Nobel, ousa afirmar simplesmente: “Talvez sejamos burros demais.” 4 Talvez ele tenha razão.
Tentando superar os limites da cognição e objetivando elucidar o conhecimento do corpo humano, surge a anatomia que visa desvendar o que existe de misterioso por debaixo da pele humana. 5
O fascínio pelo corpo humano é quase tão antigo quando a capacidade de fascinar-se do cérebro humano. 6
Os povos primitivos desenhavam corpos humanos, os medievos mistificaram tais corpos, os renascentistas dissecaram e pintaram; E, a dissecação que era macroscópica, se tornou citológica sendo que atualmente é fisiológica e molecular.7
As noções básicas sobre o significado morfológico e funcional do sistema nervoso8 representam um alicerce indispensável para a formação de neurologistas e neurocirurgiões, mas antes ainda, é fundamental para a formação de todo e qualquer médico.
Mediante a descoberta da regeneração do sistema nervoso e do fenômeno de neuroplasticidade,9 também conhecido como remapeamento cortical, a utilidade das vias neuroanatomicas ou cadeias neuronais está interrogada. Mas, fato é que as informações acerca das cadeias neuronais não têm sido atualizadas em periódicos, ficando restrita a livros antigos, apesar de ser um alicerce da prática clínica e cirúrgica10 no campo neurológico.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será aprovado após moderação.
Obrigada pela contribuição!