"A ciência nunca resolve um problema
sem criar pelo menos outros dez."
George Bernard Shaw
São muitos os
mistérios da existência humana, todos perpassam pelo questionamento acerca da
existência do mundo e da origem da vida.
Muitos mitos foram
criados para justificar os limites do saber mediante aos questionamentos
cognitivos.
Uma bela analogia
para a criação humana consiste no mito chinês datado do século III que narra o
mundo a partir da existência e morte humana. Acreditava-se que a criação do
mundo não terminou até a morte de P’an Ku. Somente sua morte pode aperfeiçoar o
universo: “de seu crânio surgiu a abóbada do firmamento, e de sua pele a terra
que cobre os campos; de seus ossos vieram as pedras, de seu sangue, os rios e
oceanos; de seu cabelo veio toda a vegetação. Sua respiração se transformou em
vento, sua voz em trovão; seu olho direito se transformou na Lua, seu olho
esquerdo, no Sol. De sua saliva e suor veio a chuva. E dos vermes que cobriam
seu corpo surgiu a humanidade.” 1
Em busca de
sentido para a existência humana depara-se com o corpo. Um corpo que elucida a
excelência da beleza humana e as misérias da condição da existência.
Qual dos animais é
mais miserável que o homem? Qual deles seria mais pobre?
A ave nasce com
penas, o peixe nasce com escamas. O humano nasce nu.
O filhote ladra, a
ave voa, o peixe nada. O humano, quando nasce chora.
A espécie humana
tem a mente atormentada por questionamento, em um invólucro de duração breve
chamado corpo. O ser humano é um efêmero fantasma do tempo, que diariamente, em
cada célula consome a existência e luta pela vida sem descanso até dançar com a
morte.
O humano apresenta
a dúvida da falta de conhecimento, o temor diante dos mistérios da consciência,
a solidão... Nas palavras de James Joyce: “Pensar que cada um que entra
imaginava ser o primeiro a entrar, ao passo que ele é sempre o último termo de
uma série precedente, mesmo que seja o primeiro termo da série seguinte, cada
um imaginando-se ser o primeiro, último, único e só, quando não é nem o
primeiro, nem o último, nem o único, nem só em uma série que se origina ao
infinito e se repete ao infinito.”2
É fato que
independente da origem que se apresenta tão controversa entre os povos na
história1 o ser humano existe, e, com a existência efêmera surge o
sofrimento.
O sentido
atribuído aos bens e aos fatos, a significação, conferem à existência humana
algum consolo.1 A crença de que os esforços feitos em vida mesmo
diante da igualitária morte não são em vão.
Assim, tenta-se
prolongar a vida, curar as feridas, enquanto o cérebro humano questiona a si
próprio, tenta entender-se explicar-se.
Mas, nas palavras
de Jostein Gardner: e, “se o cérebro humano fosse tão simples ao ponto de
podermos entendê-lo, nós seríamos tão idiotas que não conseguiríamos
entende-lo.” 3
E mesmo
considerando impossível entender as vias neuronais, a neuroanatomia avança rumo
à esperança do entendimento.
Ironicamente,
aqueles que parecem mais fazer uso de seu cérebro, como o idealizador da teoria
das cordas, David Gross, ganhador do prêmio Nobel, ousa afirmar simplesmente:
“Talvez sejamos burros demais.” 4 Talvez ele tenha razão.
Tentando superar
os limites da cognição e objetivando elucidar o conhecimento do corpo humano, surge
a anatomia que visa desvendar o que existe de misterioso por debaixo da pele
humana. 5
O fascínio pelo
corpo humano é quase tão antigo quando a capacidade de fascinar-se do cérebro
humano. 6
Os povos
primitivos desenhavam corpos humanos, os medievos mistificaram tais corpos, os
renascentistas dissecaram e pintaram; E, a dissecação que era macroscópica, se
tornou citológica sendo que atualmente é fisiológica e molecular.7
As noções básicas
sobre o significado morfológico e funcional do sistema nervoso8 representam
um alicerce indispensável para a formação de neurologistas e neurocirurgiões,
mas antes ainda, é fundamental para a formação de todo e qualquer médico.
Mediante a
descoberta da regeneração do sistema nervoso e do fenômeno de
neuroplasticidade,9 também conhecido como remapeamento cortical, a
utilidade das vias neuroanatomicas ou cadeias neuronais está interrogada. Mas,
fato é que as informações acerca das cadeias neuronais não têm sido atualizadas
em periódicos, ficando restrita a livros antigos, apesar de ser um alicerce da
prática clínica e cirúrgica10 no campo neurológico.
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