"Numa epidemia a morte é desvalorizada."
John Snow
(1813-1858) foi um anestesiologista inglês pioneiro no desenvolvimento da
epidemiologia, foi autor de um ensaio datado de 1855 acerca da maneira que se
efetivava a transmissão da Cólera.
O ensaio
consiste na elucidação de um estudo efetuado sobre duas epidemias de cólera em
Londres no período de 1849
e 1854. A gravidade da epidemia era significativa, uma vez que a mesma levava a
letalidade.
A Londres da época era abastecida
por duas companhias de água que efetuavam sua capitação de água do rio Tâmisa,
sendo respectivamente: “Lamberth Company” e “Southwark e Vauxhall Company”.
Acontece que o ponto específico da
captação de água das companhias era distinto na segunda epidemia, pois, a
“Lamberth Company” captava água em local sem desague de esgoto da urbe.
Efetuando-se a comparação dos índices de mortalidade por cólera de acordo com o
abastecimento, comprovou-se que havia um aumento do risco de morte cinco vezes
maior em locais abastecidos pela “Southwark e Vauxhall Company”.
Considerando-se que os distritos abastecidos por ambas companhias apresentavam
taxas intermediárias de cólera, foi levantada a hipótese de que a água captada
abaixo da cidade de Londres era a responsável pela origem da afecção.
O estudo permitiu ainda a
descoberta da transmissão indireta por meio de fômites, a partir da descrição
de casos de contágio por intermédio de roupas de indivíduos previamente
contaminados transmitindo a patologia para indivíduos sãos. Por meio da
descrição levantou-se aspectos concernentes à patogenia da doença, como a via
de penetração pelo sistema digestório, por exemplo. O agente etiológico
desconhecido era denominado pelo autor do ensaio de “veneno mórbido”.
Com o ensaio elaborou-se também o
conceito de risco ao citar-se que consistia em fator de risco para transmissão
direta da doença a higiene pessoal débil fosse por hábito ou mesmo por escassez
de água. Citou-se a menor incidência de casos secundários em domicílios ricos
em relação aos domicílios simplórios.
O estudo observacional
epidemiológico propiciou uma gama de informações acerca da patologia que
permitiu a elaboração de medidas preventivas e minimizadoras de risco mesmo
mediante ao desconhecimento do agente etiológico em si.
John Snow
ao determinar a água como veículo de transmissão do “veneno mórbido” propiciou
um campo para a efetivação de medidas relevantes de defesa da saúde pública.
Mediante
ao que foi estabelecido, conclui-se que inúmeras foram as contribuições do
método desenvolvido, sendo a principal, a sistematização da metodologia
epidemiológica que se sustentou no tempo apenas com pequenas modificações até o
século XX.
A riqueza dos detalhes e o
raciocínio lógico permitiram demonstrar a ‘Teoria do Contágio’ antes mesmo das
descobertas microbiológicas concernentes ao quadro, contrariando a ‘Teoria dos
miasmas’ vigente.
É importante ressaltar que o método
implica em descrever a patologia, segundo atributos temporais, espaciais, em
relação aos indivíduos acometidos. Associa as causas à doença, construindo
hipóteses. Distribui os óbitos segundo os fatos.
O emprego da metodologia
desenvolvida foi transplantado na Europa e nos EUA para investigação de outras
patologias de comunidade. Posteriormente, o método foi adequado para os quadros
não infecciosos, como o descrito por Goldberger no que concerne a etiologia
carencial da Pelagra. O ápice do método se deu quando o mesmo foi acoplado aos
estudos estatísticos, o que ampliou sua contribuição para o campo das doenças
crônicas.
A epidemiologia é, desde então, um
pilar na pesquisa em saúde.
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